Indivíduo e a geléia modernidade

Por Carol Zanelatto

Parte I – A mutação

Se nos anos 40 a sociedade vivia sob uma padronização efetiva de condutas, na década de 80 seus indivíduos já possuíam autonomia o suficiente para – ainda que numa ilusão – esnobar as estruturas sociais de normatização. Essa ideia de liberdade, de ruptura das tradições é observada nas primeiras aparições da contracultura – na geração maluca intitulada geração “beat”, já no início da década de 50 – e, coincidentemente ou não, reconhecida como a mais pura essência do indivíduo pósmoderno.

Nos anos 50, os beats uivaram que – pela primeira vez em muito tempo – os jovens eram uma classe que tinham voz para gritar e executar, com toda a sua razão, o que quisessem: ninguém poderia – ou deveria – me dizer o que precisa fazer.

Fugindo dos ideais de vida do sonho americano, os beats pregavam um estilo de vida aventureiro, e alimentavam sua fé pela estrada como expressão da espontaneidade

A saída da modernidade para a pós-modernidade supostamente se dá entre as décadas de 60/80. Nesse início, tem-se um espaço onde a sociedade ocidental, capitalista, vitoriosa da segunda grande guerra, precisava firmar sua própria personalidade perante o inimigo do leste, a URSS. Para isso, consolidava as bases do capital no consumo de massa – e para isso, tinha, como principal expectador, a geração baby boomer que acabara de aflorar sua juventude.

Na década de 60, um lar perfeito na América só o seria se estivesse completo com “consumer goods”, que tornavam a vida mais fácil e, claro, mais feliz, assim como “todo mundo”.

Evidenciada, portanto, em aspectos da vida social, essa mutação foi suficiente para dar um novo ritmo à sociedade em questão – ritmo esse compassado de acordo com as estimas e lógicas da moda e do consumo de massa: o desejo impulsivo por tudo o que é novo e tudo o que seduz, a vontade do ter e a efemeridade constante.

Nas vanguardas, a consequência disso não poderia ser mais evidente: nessa época (os 60), Andy Wahrol jogava em suas telas serigrafadas – técnica que permitia reprodução em massa – ícones da cultura de massa como Marilyn Monroe e as sopas Campbell's

O novo padrão de beleza social - magro - tinha em seu referencial nomes como a Modelo Twiggy e atriz Audrey Hepburn

Atrelado ao referencial de beleza, a moda de Yves Saint Laurent certamente conferiria um visual moderno, e, acima de tudo, belo.

É exatamente a apropriação desse novo way of life que promove a ruptura total com o passado e as tradições. Assim, os mecanismos de controle de conduta vão se adaptando a uma forma menos direitista e impositiva ao indivíduo e finalmente consolidados em um processo de personalização, que gerencia seu comportamento

“Não mais pela tirania dos detalhes, mas com o mínimo constrangimento e a máxima possibilidade de escolhas privadas possíveis, com o mínimo de austeridade e o máximo de desejo possível, com o mínimo de coerção e o máximo de compreensão possível.” [LIPOVETSKY, 1983]

Na música, o Rock’n’Roll explodiu como o hino da mais nova idade: é o hino do indivíduo, da liberdade: em duas rodas, ou a favor do amor livre

Com características narcísicas, esse indivíduo quer exaltar-se no cenário social e para isso, usa como meio a personalização de sua estética, exaltação de seus bens ou até mesmo faz o uso do outro como fonte de prazer. Trabalha pelo prestígio social e desconhece a ideia de revolução, pois é dono de si e de sua razão e acredita ditar suas próprias regras.
Apatia ao passado e renuncia ao futuro: Nessa ideia social todos são o que quiserem, portanto tudo é interdisciplinar e tolera-se o pluralismo. Há a emancipação do vulgar – se divertir é obrigatório e tudo deve porque pode.

Referências

  • DANTAS, Marília Antunes. Resenha “Le Temps Hypermodernes”. Estudos em Pesquisa e Pscicologia. Disponível em <http://www.revispsi.uerj.br/v4n1/artigos/Resenha%20-%20V4N1.htm> Acessado em 28/10/2011
  • LIPOVETSKY, G. & CHARLES, S. Le Temps Hypermodernes. Paris: Editions Grasset, 2004.
  • LIPOVETSKY, G. L´Ère du Vide. Gallimard: Paris, 1983.

Outros posts da série

Carol Zanelatto

Carol Zanelatto

é estudante de Design de Produto da UFPR e mantém um caso de amor entre tantas outras coisas, com você, o mundo, a arte e a CORDe Curitiba

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Nos anos 50, os beats uivaram que – pela primeira vez em muito tempo – os jovens eram uma classe que tinham voz para gritar e executar, com toda a sua razão, o que quisessem: ninguém poderia – ou deveria – me dizer o que precisa fazer.

Fugindo dos ideais de vida do sonho americano, os beats pregavam um estilo de vida aventureiro, e alimentavam sua fé pela estrada como expressão da espontaneidade

A saída da modernidade para a pós-modernidade supostamente se dá entre as décadas de 60/80. Nesse início, tem-se um espaço onde a sociedade ocidental, capitalista, vitoriosa da segunda grande guerra, precisava firmar sua própria personalidade perante o inimigo do leste, a URSS. Para isso, consolidava as bases do capital no consumo de massa – e para isso, tinha, como principal expectador, a geração baby boomer que acabara de aflorar sua juventude.

Na década de 60, um lar perfeito na América só o seria se estivesse completo com “consumer goods”, que tornavam a vida mais fácil e, claro, mais feliz, assim como “todo mundo”.

Evidenciada, portanto, em aspectos da vida social, essa mutação foi suficiente para dar um novo ritmo à sociedade em questão – ritmo esse compassado de acordo com as estimas e lógicas da moda e do consumo de massa: o desejo impulsivo por tudo o que é novo e tudo o que seduz, a vontade do ter e a efemeridade constante.

Nas vanguardas, a consequência disso não poderia ser mais evidente: nessa época (os 60), Andy Wahrol jogava em suas telas serigrafadas – técnica que permitia reprodução em massa – ícones da cultura de massa como Marilyn Monroe e as sopas Campbell's

O novo padrão de beleza social - magro - tinha em seu referencial nomes como a Modelo Twiggy e atriz Audrey Hepburn

Atrelado ao referencial de beleza, a moda de Yves Saint Laurent certamente conferiria um visual moderno, e, acima de tudo, belo.

É exatamente a apropriação desse novo way of life que promove a ruptura total com o passado e as tradições. Assim, os mecanismos de controle de conduta vão se adaptando a uma forma menos direitista e impositiva ao indivíduo e finalmente consolidados em um processo de personalização, que gerencia seu comportamento

“Não mais pela tirania dos detalhes, mas com o mínimo constrangimento e a máxima possibilidade de escolhas privadas possíveis, com o mínimo de austeridade e o máximo de desejo possível, com o mínimo de coerção e o máximo de compreensão possível.” [LIPOVETSKY, 1983]

Na música, o Rock’n’Roll explodiu como o hino da mais nova idade: é o hino do indivíduo, da liberdade: em duas rodas, ou a favor do amor livre

Com características narcísicas, esse indivíduo quer exaltar-se no cenário social e para isso, usa como meio a personalização de sua estética, exaltação de seus bens ou até mesmo faz o uso do outro como fonte de prazer. Trabalha pelo prestígio social e desconhece a ideia de revolução, pois é dono de si e de sua razão e acredita ditar suas próprias regras.
Apatia ao passado e renuncia ao futuro: Nessa ideia social todos são o que quiserem, portanto tudo é interdisciplinar e tolera-se o pluralismo. Há a emancipação do vulgar – se divertir é obrigatório e tudo deve porque pode.

Referências

  • DANTAS, Marília Antunes. Resenha “Le Temps Hypermodernes”. Estudos em Pesquisa e Pscicologia. Disponível em <http://www.revispsi.uerj.br/v4n1/artigos/Resenha%20-%20V4N1.htm> Acessado em 28/10/2011
  • LIPOVETSKY, G. & CHARLES, S. Le Temps Hypermodernes. Paris: Editions Grasset, 2004.
  • LIPOVETSKY, G. L´Ère du Vide. Gallimard: Paris, 1983.

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