Moda com identidade nacional? II

Por Amanda Prado

Quando falamos de moda com identidade nacional, alguns questionamentos são possíveis. O primeiro deles é que a moda é muito ampla para ter uma nacionalidade. Além disso, pode ser dito que pela lógica a moda com identidade nacional é feita pelos estilistas brasileiros, porém, tratando o tema “identidade nacional brasileira” como algo reconhecível pela sua brasilidade, porém diferente dos que não a possuem, é difícil confirmar essa afirmação.

Um exemplo disso pode ser dado ao imaginarmos produtos de moda inspirados em algum traje típico, como a bombacha dos gaúchos ou o vestido das baianas, ou ainda em entidades folclóricas ou religiosas, como Saci Pererê e Iemanjá. Da mesma forma nada impede a criação de moda inspirada no vatapá, na literatura de cordel, ou qualquer outro elemento da cultura material ou imaterial brasileira. Porém, os itens citados são apenas componentes dessa nossa cultura, os quais podem servir de inspiração para criar moda, mas esses mesmos conceitos podem inspirar outra pessoa de qualquer outra nacionalidade, colocando em dúvida a real relação entre a mera utilização dos elementos da nossa cultura com uma moda de identidade nacional.

coleção apresentada pelo estilista Victor Dzenk no Fashion Business- inspirada na Amazônia. Ele foi escolhido pela FIFA entre 50 designers para ser o embaixador oficial na Copa do Mundo de 2014, sendo responsável por criar todos os modelos usados pelas hostess funcionais do evento em todo o país. O “estilista da Copa” diz ter sido escolhido pelo DNA forte que sua marca tem que é “a cara do Brasil”, com muita estamparia e sensualidade, os tecidos são variados, e as estampas retratam a vegetação, o clima e os animais do nosso país.

Por isso, para falar de moda com identidade brasileira é preciso delimitar o contexto em que a palavra moda está inserida. No caso, salientarei o negócio da moda, o que vendemos (exportamos) e o que compramos como moda de identidade nacional.

Podemos observar essa possibilidade da venda da imagem de uma nação ou local relacionada a itens de moda ao destacarmos alguns países que já possuem traços culturais mais definidos na produção de moda.

As francesas por exemplo, são ícones de um estilo refinado e recatado, que até mesmo comercializam essa imagem, como no livro “A Parisiense”, de Ines de la Fressange, onde ensinamentos valiosos elevam o básico a elegância:

Você não precisa nascer em Paris para ter o estilo da parisiense. Eu sou o melhor exemplo disso: nasci em Saint-Tropez! Ter um estilo “made in Paris” é mais um estado de espírito. Ser alternativa e nunca burguesa, por exemplo. A parisiense jamais cai na armadilha das tendências: ela respira o l’air des temps e as usa com critério, eis sua receita secreta! E sempre tem um objetivo: divertir-se com a moda. Ela segue algumas regras, mas adora transgredi-las também, faz parte do estilo. (FRESSANGE, 2011)

Um pouco do estilo parisiense de Inès e Nina de la Fressange, que não deixa der ser comercializável como moda de identidade francesa.

Já as americanas, como legítimas conterrâneas do ready to wear, mantém contato direto com o fast fashion, exibindo marcas e estilos flutuantes.

Por outro lado, o estilo britânico vai do vanguardista, ao exemplo do punk, até o tradicional, exportando o melhor da alfaiataria, combinando os ares de monarquia com a irreverência da juventude sem problemas.

Mas e as brasileiras? Nós parecemos ainda condenadas a carregar o mesmo fardo desde Carmen Miranda. Somos as sensuais mulatas com roupas coloridas, cheias de balangandãs e ícones tropicais.

Carmen Miranda representando exatamente o mesmo que Victor Dzenk diz ser o DNA brasileiro: estamparia, sensualidade, tecidos variados. Tudo isso evidenciando a vegetação, o clima e os animais do nosso país.

No próximo post será discutida a incoerência sobre o que são os brasileiros e o seu país e o que sempre foi vendido como made in Brazil.

Para Saber mais:

  • BESERRA, Bernadete . Sob a sombra de Carmen Miranda e do carnaval: brasileiras em Los Angeles. Cadernos Pagu (UNICAMP), v. 28, p. 313-344, 2007.
  • FRESSANGE, Ines de La. A parisiense : o Guia de Estilo de Ines de La Fressange. Rio de Janeiro: Intrinseca, 2011.
  • GARCIA, T. da C. Carmen Miranda e os Good Neighbours. In: Revista Diálogos, Vol. 7,2003.
  • SANTOS, B. da C. Yes, nós temos bananas? Brígida da Cruz Santos. In: Anais do 3º Colóquio de Moda. Faculdades CIMO. Belo Horizonte, MG, 2007.
Amanda Prado

Amanda Prado

Vinte e um anos, mineira, viveu no interior do Rio de Janeiro desde sempre até que a partir de 2011 se aventurou a morar em terras paranaenses para estudar Moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais especificamente em Cianorte, onde concluiu o curso de Moda em 2015, e não satisfeita, aproveitou a deixa e se formou em 2013 como técnica em vestuário pelo SENAI. Apaixonada por pesquisas acadêmicas, moda e áreas afins, mas acima de tudo consciente da necessidade da fomentação do campo de saber da moda.

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Por Amanda Prado

Quando falamos de moda com identidade nacional, alguns questionamentos são possíveis. O primeiro deles é que a moda é muito ampla para ter uma nacionalidade. Além disso, pode ser dito que pela lógica a moda com identidade nacional é feita pelos estilistas brasileiros, porém, tratando o tema “identidade nacional brasileira” como algo reconhecível pela sua brasilidade, porém diferente dos que não a possuem, é difícil confirmar essa afirmação.

Um exemplo disso pode ser dado ao imaginarmos produtos de moda inspirados em algum traje típico, como a bombacha dos gaúchos ou o vestido das baianas, ou ainda em entidades folclóricas ou religiosas, como Saci Pererê e Iemanjá. Da mesma forma nada impede a criação de moda inspirada no vatapá, na literatura de cordel, ou qualquer outro elemento da cultura material ou imaterial brasileira. Porém, os itens citados são apenas componentes dessa nossa cultura, os quais podem servir de inspiração para criar moda, mas esses mesmos conceitos podem inspirar outra pessoa de qualquer outra nacionalidade, colocando em dúvida a real relação entre a mera utilização dos elementos da nossa cultura com uma moda de identidade nacional.

coleção apresentada pelo estilista Victor Dzenk no Fashion Business- inspirada na Amazônia. Ele foi escolhido pela FIFA entre 50 designers para ser o embaixador oficial na Copa do Mundo de 2014, sendo responsável por criar todos os modelos usados pelas hostess funcionais do evento em todo o país. O “estilista da Copa” diz ter sido escolhido pelo DNA forte que sua marca tem que é “a cara do Brasil”, com muita estamparia e sensualidade, os tecidos são variados, e as estampas retratam a vegetação, o clima e os animais do nosso país.

Por isso, para falar de moda com identidade brasileira é preciso delimitar o contexto em que a palavra moda está inserida. No caso, salientarei o negócio da moda, o que vendemos (exportamos) e o que compramos como moda de identidade nacional.

Podemos observar essa possibilidade da venda da imagem de uma nação ou local relacionada a itens de moda ao destacarmos alguns países que já possuem traços culturais mais definidos na produção de moda.

As francesas por exemplo, são ícones de um estilo refinado e recatado, que até mesmo comercializam essa imagem, como no livro “A Parisiense”, de Ines de la Fressange, onde ensinamentos valiosos elevam o básico a elegância:

Você não precisa nascer em Paris para ter o estilo da parisiense. Eu sou o melhor exemplo disso: nasci em Saint-Tropez! Ter um estilo “made in Paris” é mais um estado de espírito. Ser alternativa e nunca burguesa, por exemplo. A parisiense jamais cai na armadilha das tendências: ela respira o l’air des temps e as usa com critério, eis sua receita secreta! E sempre tem um objetivo: divertir-se com a moda. Ela segue algumas regras, mas adora transgredi-las também, faz parte do estilo. (FRESSANGE, 2011)

Um pouco do estilo parisiense de Inès e Nina de la Fressange, que não deixa der ser comercializável como moda de identidade francesa.

Já as americanas, como legítimas conterrâneas do ready to wear, mantém contato direto com o fast fashion, exibindo marcas e estilos flutuantes.

Por outro lado, o estilo britânico vai do vanguardista, ao exemplo do punk, até o tradicional, exportando o melhor da alfaiataria, combinando os ares de monarquia com a irreverência da juventude sem problemas.

Mas e as brasileiras? Nós parecemos ainda condenadas a carregar o mesmo fardo desde Carmen Miranda. Somos as sensuais mulatas com roupas coloridas, cheias de balangandãs e ícones tropicais.

Carmen Miranda representando exatamente o mesmo que Victor Dzenk diz ser o DNA brasileiro: estamparia, sensualidade, tecidos variados. Tudo isso evidenciando a vegetação, o clima e os animais do nosso país.

No próximo post será discutida a incoerência sobre o que são os brasileiros e o seu país e o que sempre foi vendido como made in Brazil.

Para Saber mais:

  • BESERRA, Bernadete . Sob a sombra de Carmen Miranda e do carnaval: brasileiras em Los Angeles. Cadernos Pagu (UNICAMP), v. 28, p. 313-344, 2007.
  • FRESSANGE, Ines de La. A parisiense : o Guia de Estilo de Ines de La Fressange. Rio de Janeiro: Intrinseca, 2011.
  • GARCIA, T. da C. Carmen Miranda e os Good Neighbours. In: Revista Diálogos, Vol. 7,2003.
  • SANTOS, B. da C. Yes, nós temos bananas? Brígida da Cruz Santos. In: Anais do 3º Colóquio de Moda. Faculdades CIMO. Belo Horizonte, MG, 2007.
Amanda Prado

Amanda Prado

Vinte e um anos, mineira, viveu no interior do Rio de Janeiro desde sempre até que a partir de 2011 se aventurou a morar em terras paranaenses para estudar Moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais especificamente em Cianorte, onde concluiu o curso de Moda em 2015, e não satisfeita, aproveitou a deixa e se formou em 2013 como técnica em vestuário pelo SENAI. Apaixonada por pesquisas acadêmicas, moda e áreas afins, mas acima de tudo consciente da necessidade da fomentação do campo de saber da moda.

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