Moda com identidade nacional? II
- Moda com identidade nacional? – Parte I
- Moda com identidade nacional? – Parte II
- Moda com identidade nacional? – Parte III
Quando falamos de moda com identidade nacional, alguns questionamentos são possíveis. O primeiro deles é que a moda é muito ampla para ter uma nacionalidade. Além disso, pode ser dito que pela lógica a moda com identidade nacional é feita pelos estilistas brasileiros, porém, tratando o tema “identidade nacional brasileira” como algo reconhecível pela sua brasilidade, porém diferente dos que não a possuem, é difícil confirmar essa afirmação.
Um exemplo disso pode ser dado ao imaginarmos produtos de moda inspirados em algum traje típico, como a bombacha dos gaúchos ou o vestido das baianas, ou ainda em entidades folclóricas ou religiosas, como Saci Pererê e Iemanjá. Da mesma forma nada impede a criação de moda inspirada no vatapá, na literatura de cordel, ou qualquer outro elemento da cultura material ou imaterial brasileira. Porém, os itens citados são apenas componentes dessa nossa cultura, os quais podem servir de inspiração para criar moda, mas esses mesmos conceitos podem inspirar outra pessoa de qualquer outra nacionalidade, colocando em dúvida a real relação entre a mera utilização dos elementos da nossa cultura com uma moda de identidade nacional.
Por isso, para falar de moda com identidade brasileira é preciso delimitar o contexto em que a palavra moda está inserida. No caso, salientarei o negócio da moda, o que vendemos (exportamos) e o que compramos como moda de identidade nacional.
Podemos observar essa possibilidade da venda da imagem de uma nação ou local relacionada a itens de moda ao destacarmos alguns países que já possuem traços culturais mais definidos na produção de moda.
As francesas por exemplo, são ícones de um estilo refinado e recatado, que até mesmo comercializam essa imagem, como no livro “A Parisiense”, de Ines de la Fressange, onde ensinamentos valiosos elevam o básico a elegância:
Você não precisa nascer em Paris para ter o estilo da parisiense. Eu sou o melhor exemplo disso: nasci em Saint-Tropez! Ter um estilo “made in Paris” é mais um estado de espírito. Ser alternativa e nunca burguesa, por exemplo. A parisiense jamais cai na armadilha das tendências: ela respira o l’air des temps e as usa com critério, eis sua receita secreta! E sempre tem um objetivo: divertir-se com a moda. Ela segue algumas regras, mas adora transgredi-las também, faz parte do estilo. (FRESSANGE, 2011)
Já as americanas, como legítimas conterrâneas do ready to wear, mantém contato direto com o fast fashion, exibindo marcas e estilos flutuantes.
Por outro lado, o estilo britânico vai do vanguardista, ao exemplo do punk, até o tradicional, exportando o melhor da alfaiataria, combinando os ares de monarquia com a irreverência da juventude sem problemas.
Mas e as brasileiras? Nós parecemos ainda condenadas a carregar o mesmo fardo desde Carmen Miranda. Somos as sensuais mulatas com roupas coloridas, cheias de balangandãs e ícones tropicais.
No próximo post será discutida a incoerência sobre o que são os brasileiros e o seu país e o que sempre foi vendido como made in Brazil.
Para Saber mais:
- BESERRA, Bernadete . Sob a sombra de Carmen Miranda e do carnaval: brasileiras em Los Angeles. Cadernos Pagu (UNICAMP), v. 28, p. 313-344, 2007.
- FRESSANGE, Ines de La. A parisiense : o Guia de Estilo de Ines de La Fressange. Rio de Janeiro: Intrinseca, 2011.
- GARCIA, T. da C. Carmen Miranda e os Good Neighbours. In: Revista Diálogos, Vol. 7,2003.
- SANTOS, B. da C. Yes, nós temos bananas? Brígida da Cruz Santos. In: Anais do 3º Colóquio de Moda. Faculdades CIMO. Belo Horizonte, MG, 2007.
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