Porque o designer não planeja para o daltônico?

Por Maia Amanda

No texto de hoje, irei continuar com a discussão referente ao design e o daltonismo. Levando em conta o post sobre “Notas para um bom design daltônico”, questiona-se porque essas diversidades são tão exploradas pelos designers enquanto outras são deixadas de lado. Um exemplo disso é a constante busca pela adaptação dos meios de transporte para cadeirantes e cegos, com o uso de plataformas e sinais sonoros e em braille. Outro exemplo, até mesmo mais antigo do que o anterior, é a presença de antigas classes em salas de aula com mesas acopladas ás cadeiras em ambos os lados (direito e esquerdo) para atender aos alunos destros e canhotos.

Adaptação de transporte público para todos os tipos de usuários

Adaptação de transporte público para todos os tipos de usuários

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Adaptação de carteiras escolares para canhotos

O daltonismo, como visto no meu primeiro post na Revista Clichê, é uma deficiência a nível da percepção da cor que afeta cerca de 10% da população mundial. Os portadores, basicamente homens, acabam apresentando dificuldade na distinção e reconhecimento de algumas cores, principalmente a combinação vermelho/verde, considerado o tipo mais comum de confusão. Ao longo de dois anos estive pesquisando sobre o tema e poucas iniciativas para incluir o daltônico no uso de produtos e serviços foram encontradas. A mais eficiente é a solução encontrada pelo português Miguel Neiva, que criou códigos monocromáticos de cores que são adaptados em diversos meios de informação, que vão desde etiquetas até mapas do transporte público.

Solução para daltônicos

Solução para daltônicos

É comum que um daltônico viva durante anos sem perceber a deficiência na visão. Isso ocorre porque muitas das dificuldades e confusões possuem grau muito leve, passando praticamente despercebido por alguns indivíduos. Além disso, é uma condição mais fácil de se adaptar do que outras mais graves.

Com o surgimento de novas mídias, a necessidade de projetar com foco no usuário deficiente tornou-se cada vez mais importante. A cor tornou-se um meio de comunicação essencial para o ser humano. No entanto, além da solução de Neiva, pouco se tem feito para auxiliar os daltônicos no uso de nossos produtos de design. O que se pode concluir disso tudo é que o designer não percebe a existência desta dificuldade e, por vezes, não está em contato com essas pessoas para compreender suas limitações. Em pesquisas realizadas no ano passado, publicadas no artigo “O Papel do Design em Projetos para Daltônicos”, com uma pequena amostra de entrevistados pela web, pude identificar que a maioria dos designers não possui costume em projetar para um público tão específico.

Depoimento de um entrevistado

Depoimento de um entrevistado

Foram 36 designers entrevistados, todos eles com no mínimo 1 ano de experiência na área (gráfico, moda, produto, web, etc.), estudantes ou já formados em nível superior. A maioria trabalha como freelancer mas também exerce funções de criação dentro de outras empresas (31%).

Depoimento de um entrevistado

Depoimento de um entrevistado

Os maiores motivos identificados para a escassez de produção de materiais e produtos para daltônicos foram:

  • Desinteresse e descaso dos clientes em proporcionar produtos/serviços acessíveis a este público;
  • Desinteresse dos próprios designers;
  • Falta de prática e estudos em relação a este tipo de criação;
  • Pouco (ou nulo) conhecimento da existência desta deficiência;
  • A aceleração da disseminação de informação impede o pensamento voltado a pessoas com esta debilidade;
  • As disciplinas de ensino na área do design são restritas e não envolvem estudos voltados para daltônicos (disciplina de teoria da cor e produção gráfica).
Depoimento de um entrevistado

Depoimento de um entrevistado

Em um outro artigo, foi feita uma análise dos planos de aula das disciplinas de teoria da cor de alguns cursos de design em Curitiba. Neste estudo foi possível identificar que tanto nos procedimentos metodológicos quanto nos objetivos, o tema “daltonismo” não é citado em nenhuma ementa. Considerando o daltonismo um problema cromático e essa disciplina do design tratar justamente deste assunto, subentende-se que é necessário haver uma melhoria nos planos, levando em consideração a dificuldade de percepção da cor. Até porque, o designer também deve buscar ao máximo seguir à intenção de “projetar para todos” ou “projetar pra uma grande maioria”. Desta forma, para manter os princípios de design inclusivo, é necessário sim alertar aos alunos em sala de aula para que eles possam empregar futuramente o pensamento do design daltônico.

Atenção: Não se pretende com este post tentar convencer os designers de que devem planejar sempre pensando no daltônico. A ideia é divulgar a existência da deficiência e mostrar a importância de planejar para estes indivíduos, que, por muitas vezes, acabam sendo prejudicados por nossas escolhas.

Os resultados desta pesquisa não podem ser generalizados, em vista que a amostra dos dados coletados não foi suficiente para atender aos critérios metodológicos da generalização. Isso significa que não é possível dizer que nenhum designer planeja para daltônicos, e tampouco afirmar uma tendência de respostas local, regional ou nacional. Esta pesquisa serviu para identificar possíveis justificativas para a pouca prática do design daltônico.

Referências

Neiva, Miguel. ColorAdd.
Maia, Amanda; Spinillo, Carla. O Papel do Design em Projetos para Daltônicos.
Maia, Amanda. O Ensino da Cor no Design: Uma abordagem dos planos de disciplinas com foco na adaptação do tema Daltonismo

Maia Amanda

Maia Amanda

Atualmente trabalha na Vitao Alimentos como responsável pelo setor de Design e Marketing. Mestre em Design da Informação (UFPR/2013) e formada em Design Visual (ESPM/2010). Intercambista em Lisboa e nos EUA. Em suas experiências,descobriu a paixão pelo estudo da informação e do design aplicado ao transporte público. Mobiliário Urbano, Representação de Mapas, Design Inclusivo, Daltonismo e Estudo da Cor também foram paixões descobertas. Além disso, ama fotografia, cores, viagens, design, grêmio, embalagem e música.

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No texto de hoje, irei continuar com a discussão referente ao design e o daltonismo. Levando em conta o post sobre “Notas para um bom design daltônico”, questiona-se porque essas diversidades são tão exploradas pelos designers enquanto outras são deixadas de lado. Um exemplo disso é a constante busca pela adaptação dos meios de transporte para cadeirantes e cegos, com o uso de plataformas e sinais sonoros e em braille. Outro exemplo, até mesmo mais antigo do que o anterior, é a presença de antigas classes em salas de aula com mesas acopladas ás cadeiras em ambos os lados (direito e esquerdo) para atender aos alunos destros e canhotos.

Adaptação de transporte público para todos os tipos de usuários

Adaptação de transporte público para todos os tipos de usuários

figura02

Adaptação de carteiras escolares para canhotos

O daltonismo, como visto no meu primeiro post na Revista Clichê, é uma deficiência a nível da percepção da cor que afeta cerca de 10% da população mundial. Os portadores, basicamente homens, acabam apresentando dificuldade na distinção e reconhecimento de algumas cores, principalmente a combinação vermelho/verde, considerado o tipo mais comum de confusão. Ao longo de dois anos estive pesquisando sobre o tema e poucas iniciativas para incluir o daltônico no uso de produtos e serviços foram encontradas. A mais eficiente é a solução encontrada pelo português Miguel Neiva, que criou códigos monocromáticos de cores que são adaptados em diversos meios de informação, que vão desde etiquetas até mapas do transporte público.

Solução para daltônicos

Solução para daltônicos

É comum que um daltônico viva durante anos sem perceber a deficiência na visão. Isso ocorre porque muitas das dificuldades e confusões possuem grau muito leve, passando praticamente despercebido por alguns indivíduos. Além disso, é uma condição mais fácil de se adaptar do que outras mais graves.

Com o surgimento de novas mídias, a necessidade de projetar com foco no usuário deficiente tornou-se cada vez mais importante. A cor tornou-se um meio de comunicação essencial para o ser humano. No entanto, além da solução de Neiva, pouco se tem feito para auxiliar os daltônicos no uso de nossos produtos de design. O que se pode concluir disso tudo é que o designer não percebe a existência desta dificuldade e, por vezes, não está em contato com essas pessoas para compreender suas limitações. Em pesquisas realizadas no ano passado, publicadas no artigo “O Papel do Design em Projetos para Daltônicos”, com uma pequena amostra de entrevistados pela web, pude identificar que a maioria dos designers não possui costume em projetar para um público tão específico.

Depoimento de um entrevistado

Depoimento de um entrevistado

Foram 36 designers entrevistados, todos eles com no mínimo 1 ano de experiência na área (gráfico, moda, produto, web, etc.), estudantes ou já formados em nível superior. A maioria trabalha como freelancer mas também exerce funções de criação dentro de outras empresas (31%).

Depoimento de um entrevistado

Depoimento de um entrevistado

Os maiores motivos identificados para a escassez de produção de materiais e produtos para daltônicos foram:

  • Desinteresse e descaso dos clientes em proporcionar produtos/serviços acessíveis a este público;
  • Desinteresse dos próprios designers;
  • Falta de prática e estudos em relação a este tipo de criação;
  • Pouco (ou nulo) conhecimento da existência desta deficiência;
  • A aceleração da disseminação de informação impede o pensamento voltado a pessoas com esta debilidade;
  • As disciplinas de ensino na área do design são restritas e não envolvem estudos voltados para daltônicos (disciplina de teoria da cor e produção gráfica).
Depoimento de um entrevistado

Depoimento de um entrevistado

Em um outro artigo, foi feita uma análise dos planos de aula das disciplinas de teoria da cor de alguns cursos de design em Curitiba. Neste estudo foi possível identificar que tanto nos procedimentos metodológicos quanto nos objetivos, o tema “daltonismo” não é citado em nenhuma ementa. Considerando o daltonismo um problema cromático e essa disciplina do design tratar justamente deste assunto, subentende-se que é necessário haver uma melhoria nos planos, levando em consideração a dificuldade de percepção da cor. Até porque, o designer também deve buscar ao máximo seguir à intenção de “projetar para todos” ou “projetar pra uma grande maioria”. Desta forma, para manter os princípios de design inclusivo, é necessário sim alertar aos alunos em sala de aula para que eles possam empregar futuramente o pensamento do design daltônico.

Atenção: Não se pretende com este post tentar convencer os designers de que devem planejar sempre pensando no daltônico. A ideia é divulgar a existência da deficiência e mostrar a importância de planejar para estes indivíduos, que, por muitas vezes, acabam sendo prejudicados por nossas escolhas.

Os resultados desta pesquisa não podem ser generalizados, em vista que a amostra dos dados coletados não foi suficiente para atender aos critérios metodológicos da generalização. Isso significa que não é possível dizer que nenhum designer planeja para daltônicos, e tampouco afirmar uma tendência de respostas local, regional ou nacional. Esta pesquisa serviu para identificar possíveis justificativas para a pouca prática do design daltônico.

Referências

Neiva, Miguel. ColorAdd.
Maia, Amanda; Spinillo, Carla. O Papel do Design em Projetos para Daltônicos.
Maia, Amanda. O Ensino da Cor no Design: Uma abordagem dos planos de disciplinas com foco na adaptação do tema Daltonismo

Maia Amanda

Maia Amanda

Atualmente trabalha na Vitao Alimentos como responsável pelo setor de Design e Marketing. Mestre em Design da Informação (UFPR/2013) e formada em Design Visual (ESPM/2010). Intercambista em Lisboa e nos EUA. Em suas experiências,descobriu a paixão pelo estudo da informação e do design aplicado ao transporte público. Mobiliário Urbano, Representação de Mapas, Design Inclusivo, Daltonismo e Estudo da Cor também foram paixões descobertas. Além disso, ama fotografia, cores, viagens, design, grêmio, embalagem e música.

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