Notas para um bom Design Daltônico

Por Maia Amanda

O post anterior falou sobre a importância da cor na comunicação e buscou enfatizar este recurso de maneira a mostrar aos designers o quão relevante são as nossas escolhas na hora de projetar. Isso porque cerca de 10% da população mundial é daltônica e apresenta algum tipo de dificuldade ao identificar cores. A consciência das nossas escolhas pode facilitar o uso e o entendimento de informações, melhorar a qualidade de vida das pessoas e fazer com que elas se sintam confortáveis utilizando determinado produto ou serviço.

Até ai ok. Mas você já pensou que cerca de 10% da população também é canhota? E quantos colegas canhotos você teve em sala de aula? E quantos daltônicos? Aposto que para a primeira pergunta você respondeu uns 3! Na segunda, você não soube dizer um número. O problema é que o daltonismo não é visível, ele não pode ser identificado através de alguma modificação física. O exemplo do canhotismo serve apenas para ilustrar a quantidade de pessoas que nos rodeiam e que podem ser portadoras de necessidades especiais, sem ao menos a gente imaginar isso.

O daltonismo, ou discromatopsia (nome científico), é uma deficiência onde afeta um a cada 24 homens e uma a cada 286 mulheres. A principal característica desta deficiência refere-se à dificuldade de identificação de cores-luz primárias (vermelho, verde e azul), que está diretamente ligada à sensibilidade da retina. Com o problema de identificação de alguma destas três cores, a visualização do espectro inteiro fica prejudicada. Um exemplo disso é a deuteranopia que prejudica a percepção dos vermelhos fazendo com que esta cor se confunda com o verde ou torne a visualização amarronzada.

Tipo mais comum do Daltonismo: Deuteranopia (vermelho/verde)

Tipo mais comum do Daltonismo: Deuteranopia (vermelho/verde)

Existe uma técnica japonesa chamada de “Teste de Ishihara” que é realizada (ou pelo menos deveria ser) em nossas primeiras consultas ao oftalmologista. O diagnóstico é dado após o paciente visualizar lâminas com diversos desenhos circulares agrupados que formam números e letras do alfabeto. Estes círculos se diferenciam através da tonalidade, saturação e luminosidade. O número de acertos é o que irá determinar o tipo de daltonismo.

Teste de Ishihara

E ai? Qual número você vê? Se você viu um 8, no teste da esquerda, você pode ser portador de protanopia ou protanomalia. O mesmo pode ocorrer se você não conseguiu visualizar o 12, no teste da direita. A diferença é que no primeiro teste o daltonismo pode ser de grau leve, enquanto que no segundo, o grau é avançado.

Foi pensando em pessoas com daltonismo que alguns autores da literatura recomendaram sugestões para adaptar o nosso design a esses observadores. Uma das estratégias mais comuns é simplesmente não utilizar combinações de vermelho e verde, e explorar as diferentes tonalidades de azul. Isso se deve ao fato de que raros são os daltônicos com dificuldades de percepção do azul. Outra dica é tentar variar os elementos através da forma e do tamanho. Em um mapa de transporte, por exemplo, é possível diferenciar os pontos através destes dois recursos, fazendo com que eles fiquem facilmente distinguíveis sem depender da cor. Um modelo disto pode ser visualizado no diagrama de estação-tubo da cidade de Curitiba. A proposta atual utiliza pontos o mesmo tamanho e cor para designar informações diferentes. São sutis as diferenças entre estes pontos. A adaptação de legendas é outra modificação que facilita a identificação destes elementos.

Diagrama de estação-tubo de Curitiba (original X proposta da autora)

Em sites de web existem ferramentas que proporcionam opções para os daltônicos, caso acessem uma página e tenham dificuldade de visualizar alguma informação. O ColorOracle e o Vischeck são duas destas ferramentas que auxiliam a adaptar o site para estes observadores. No entanto, nenhuma destas dicas serve se não soubermos utilizar bons contrastes de cores em nossas artes.

Para compreender melhor a visualização daltônica você pode simular fotos dos principais tipos de daltonismo direto de seu computador com esta ferramenta online. Confira também o novo aplicativo para IOS e Android criado por Miguel Neiva, que identifica as cores, conferindo símbolos para cada uma delas. O nome é ColorAdd App.



Leitura Recomendada:

Referências:

  • FARINA, Modesto; RODRIGUES, Maria Clotilde; FILHO, Heliodoro. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. 5a. Edição. Edgard Blucher. São Paulo, 2006.
  • NEIVA, Miguel. Sistema de Identificação de Cor para Daltônicos: Código Monocromático. Dissertação de Mestrado. Universidade do Minho, Portugal, 2008.
  • OLSON, J, M; BREWER, C. A. An evaluation of color selections to accommodate maps users with color-vision impairments. Annals of the Association of American GeographersAnnals of the Association of American Geographers. 1997.
  • SCHERER, Fabiano. URIARTT, Simone. O Uso da Cor em Sistemas de Sinalização. 12º. ERGODESIGN. UFRN/Natal, 2012.
Maia Amanda

Maia Amanda

Atualmente trabalha na Vitao Alimentos como responsável pelo setor de Design e Marketing. Mestre em Design da Informação (UFPR/2013) e formada em Design Visual (ESPM/2010). Intercambista em Lisboa e nos EUA. Em suas experiências,descobriu a paixão pelo estudo da informação e do design aplicado ao transporte público. Mobiliário Urbano, Representação de Mapas, Design Inclusivo, Daltonismo e Estudo da Cor também foram paixões descobertas. Além disso, ama fotografia, cores, viagens, design, grêmio, embalagem e música.

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Por Maia Amanda

O post anterior falou sobre a importância da cor na comunicação e buscou enfatizar este recurso de maneira a mostrar aos designers o quão relevante são as nossas escolhas na hora de projetar. Isso porque cerca de 10% da população mundial é daltônica e apresenta algum tipo de dificuldade ao identificar cores. A consciência das nossas escolhas pode facilitar o uso e o entendimento de informações, melhorar a qualidade de vida das pessoas e fazer com que elas se sintam confortáveis utilizando determinado produto ou serviço.

Até ai ok. Mas você já pensou que cerca de 10% da população também é canhota? E quantos colegas canhotos você teve em sala de aula? E quantos daltônicos? Aposto que para a primeira pergunta você respondeu uns 3! Na segunda, você não soube dizer um número. O problema é que o daltonismo não é visível, ele não pode ser identificado através de alguma modificação física. O exemplo do canhotismo serve apenas para ilustrar a quantidade de pessoas que nos rodeiam e que podem ser portadoras de necessidades especiais, sem ao menos a gente imaginar isso.

O daltonismo, ou discromatopsia (nome científico), é uma deficiência onde afeta um a cada 24 homens e uma a cada 286 mulheres. A principal característica desta deficiência refere-se à dificuldade de identificação de cores-luz primárias (vermelho, verde e azul), que está diretamente ligada à sensibilidade da retina. Com o problema de identificação de alguma destas três cores, a visualização do espectro inteiro fica prejudicada. Um exemplo disso é a deuteranopia que prejudica a percepção dos vermelhos fazendo com que esta cor se confunda com o verde ou torne a visualização amarronzada.

Tipo mais comum do Daltonismo: Deuteranopia (vermelho/verde)

Tipo mais comum do Daltonismo: Deuteranopia (vermelho/verde)

Existe uma técnica japonesa chamada de “Teste de Ishihara” que é realizada (ou pelo menos deveria ser) em nossas primeiras consultas ao oftalmologista. O diagnóstico é dado após o paciente visualizar lâminas com diversos desenhos circulares agrupados que formam números e letras do alfabeto. Estes círculos se diferenciam através da tonalidade, saturação e luminosidade. O número de acertos é o que irá determinar o tipo de daltonismo.

Teste de Ishihara

E ai? Qual número você vê? Se você viu um 8, no teste da esquerda, você pode ser portador de protanopia ou protanomalia. O mesmo pode ocorrer se você não conseguiu visualizar o 12, no teste da direita. A diferença é que no primeiro teste o daltonismo pode ser de grau leve, enquanto que no segundo, o grau é avançado.

Foi pensando em pessoas com daltonismo que alguns autores da literatura recomendaram sugestões para adaptar o nosso design a esses observadores. Uma das estratégias mais comuns é simplesmente não utilizar combinações de vermelho e verde, e explorar as diferentes tonalidades de azul. Isso se deve ao fato de que raros são os daltônicos com dificuldades de percepção do azul. Outra dica é tentar variar os elementos através da forma e do tamanho. Em um mapa de transporte, por exemplo, é possível diferenciar os pontos através destes dois recursos, fazendo com que eles fiquem facilmente distinguíveis sem depender da cor. Um modelo disto pode ser visualizado no diagrama de estação-tubo da cidade de Curitiba. A proposta atual utiliza pontos o mesmo tamanho e cor para designar informações diferentes. São sutis as diferenças entre estes pontos. A adaptação de legendas é outra modificação que facilita a identificação destes elementos.

Diagrama de estação-tubo de Curitiba (original X proposta da autora)

Em sites de web existem ferramentas que proporcionam opções para os daltônicos, caso acessem uma página e tenham dificuldade de visualizar alguma informação. O ColorOracle e o Vischeck são duas destas ferramentas que auxiliam a adaptar o site para estes observadores. No entanto, nenhuma destas dicas serve se não soubermos utilizar bons contrastes de cores em nossas artes.

Para compreender melhor a visualização daltônica você pode simular fotos dos principais tipos de daltonismo direto de seu computador com esta ferramenta online. Confira também o novo aplicativo para IOS e Android criado por Miguel Neiva, que identifica as cores, conferindo símbolos para cada uma delas. O nome é ColorAdd App.



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Referências:

  • FARINA, Modesto; RODRIGUES, Maria Clotilde; FILHO, Heliodoro. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. 5a. Edição. Edgard Blucher. São Paulo, 2006.
  • NEIVA, Miguel. Sistema de Identificação de Cor para Daltônicos: Código Monocromático. Dissertação de Mestrado. Universidade do Minho, Portugal, 2008.
  • OLSON, J, M; BREWER, C. A. An evaluation of color selections to accommodate maps users with color-vision impairments. Annals of the Association of American GeographersAnnals of the Association of American Geographers. 1997.
  • SCHERER, Fabiano. URIARTT, Simone. O Uso da Cor em Sistemas de Sinalização. 12º. ERGODESIGN. UFRN/Natal, 2012.
Maia Amanda

Maia Amanda

Atualmente trabalha na Vitao Alimentos como responsável pelo setor de Design e Marketing. Mestre em Design da Informação (UFPR/2013) e formada em Design Visual (ESPM/2010). Intercambista em Lisboa e nos EUA. Em suas experiências,descobriu a paixão pelo estudo da informação e do design aplicado ao transporte público. Mobiliário Urbano, Representação de Mapas, Design Inclusivo, Daltonismo e Estudo da Cor também foram paixões descobertas. Além disso, ama fotografia, cores, viagens, design, grêmio, embalagem e música.

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