Estilo colorido – Parte 3

Por Amanda Prado

Para finalizar minha saga com o objetivo de discutir por que jovenzinhos de norte a sul do Brasil se vestiam de preto ou esbanjavam trajes coloridos quase como uma epidemia é necessário falar de moda!

Tudo bem, eu sei que você odeia modinhas, então vamos tratar um pouco de pós-modernidade, e finalmente verificar a relação entre moda, música, identidade e o papel das cores.

MODA E IDENTIDADE NA PÓS-MODERNIDADE:

Ainda sob a discussão da construção identitária através de objetos, LIPOVETSKY (2007) abordada o tema e em suma, determina que a sociedade presente é caracterizada como a sociedade do “hiperconsumo”, e que se baseia na busca da felicidade, cada vez mais efêmera e interligada ao consumismo, em que o hedonismo e a busca por satisfação e conforto pessoal se tornam prioritários.

Desse modo, desenvolve-se o “consumo criativo” onde através das coisas que se tem é possível revelar, mesmo que parcialmente, quem nós somos, através de objetos que povoam nossos universos, inclusive nosso modo de vestir. Por isso, a moda também desempenha um papel fundamental em relação à edificação identitária dos sujeitos.

Sendo assim, a moda pode ser percebida como possível ferramenta utilizada para a veiculação da mensagem de uma tribo urbana pós-moderna, que se calca na ética da estética.

MODA, MÚSICA, IDENTIDADE E O PAPEL DAS CORES:

Após expor possíveis relações entre a moda, identidade, música e tribos urbanas, nesse tópico emos, coloridos e suas cores finalmente serão analisados, levando em conta todas as considerações e relações estabelecidas anteriormente.

Já que a adolescência é uma fase mais propensa ao desejo de se inserir em tribos urbanas, pois a formação da identidade pessoal ainda não está completamente concretizada, uma forma bem corriqueira de se inserir nesses grupos é através do gosto musical em comum, que estabelece uma forte relação de identidade social, já que ela tem função comunicativa. É através do gosto em comum por um estilo musical que pode surgir uma tribo urbana, pois, essa identificação entre indivíduos proporciona o agrupamento entre eles, e esse agrupamento é percebido pelos demais através de normatizações de natureza estética que se relacionam com a produção de um vínculo identitário.

Essa natureza estética será definida nessa análise como a moda adotada por determinadas tribos urbanas que se apropriam dos discursos veiculados por musicas de um estilo, e expressam esse mesmo discurso além do seu pertencimento a essa tribo urbana, através da valoração da estética, apesar do seu caráter efêmero e da ausência de uma organização e estrutura cotidiana.

É exatamente nesse cenário descrito que se encontra o “estilo colorido”. A escolha dos adolescentes que ouvem e gostam de happy rock por vestir roupas de diversas tonalidades, assim como os integrantes das bandas que são consideradas desse estilo, os caracteriza como identificáveis em uma multidão, mas não apenas por se vestirem de modo diferente dos demais, o discurso que almejam veicular através de suas roupas é tão percebido quanto o fato de serem dessa tribo. O mesmo ocorre em relação aos emos, mas não percebemos apenas os indivíduos, pois tribos urbanas tratam de identidade social, e essas agrupam semelhantes, e não individualidades, ou seja, percebemos na verdade o discurso que essas tribos trazem consigo através de sua imagem estética, principalmente através da moda, mas nesses casos, principalmente através das cores desses produtos de moda.

Por tanto, o papel das cores na composição do “estilo colorido” dos adolescentes é transmitir a mensagem que esses jovens se apropriaram ao adotar esse estilo, lembrando-se do poder de expressão das cores, possível graças à vibração psíquica que a cor exerce, assim como sua capacidade de significar, ou seja, representar simbolicamente.

Já que as músicas do estilo happy rock transmitem mensagens genericamente sobre baladas e a alegria de ser jovem, ou até mesmo quando falam de situações de certa forma traumáticas a cerca da juventude, como o término de um namoro, por exemplo, os discursos das músicas defendem que não vale a pena se entristecer, pois há ainda tanta vida pela frente, e diversas maravilhas e descobertas para se aproveitar. Pode-se dizer inclusive que discurso das músicas do estilo happy rock são o perfeito retrato da juventude pós-moderna, já que tratam com naturalidade relacionamentos efêmeros e se confortam numa busca hedônica tanto em relação ao consumo como em relação aos relacionamentos. E para veicular esse mesmo discurso, os adolescentes que se vestem com roupas e acessórios exageradamente coloridos, fazem dessas cores, ao mesmo tempo intensas e variadas, o símbolo dessa juventude que se diz extremamente feliz e despreocupada com outra coisa se não a própria felicidade através de ações hedonistas e efêmeras.

Tanto é verdade essa relação feita entre as cores e os discursos veiculados simbolicamente através das mesmas que, o estilo adotado pelas emos é genericamente composto por cores escuras ou listras pretas e brancas, além dos olhos escondidos por longas franjas chapadas sobre os mesmos, ou seja, esse estilo transmite através das cores tristeza, o oposto do “estilo colorido”, assim como o discurso veiculado pelas músicas do estilo emocore, carregado de melancolia, é o oposto do happy rock.

Dado o exposto, percebemos que ao comparar o “estilo colorido” com o estilo emo de se vestir, é possível relacionar o discurso veiculado através dos conteúdos (distintos) das respectivas musicas de cada tribo urbana pós-moderna que foram aqui apontadas, com estilo de se vestir, que acabou sendo representado principalmente pelas cores de acordo com esse discurso específico.

E quanto àqueles que não eram emos nem coloridos, e pelo contrário, queriam se dissociar de qualquer maneira dessa imagem?

Nesse caso a moda também foi uma opção, bastava se vestir evitando qualquer excesso que pudesse remeter ao discurso de algum desses grupos. Ou mais do que isso, se manifestar por meio da moda contra esses grupos era possível.

"sem cor", design minimalista e texto direto. Um modelito alternativo para não ser confundido com um "colorido".

Mais uma vez enfatizo que a moda é um meio de comunicação, e através da análise feita podemos dizer que as cores têm o potencial de assumir papéis de extrema importância na construção da moda como meio de comunicação, já que as roupas e acessórios por meio das cores possuem poder de expressão e capacidade de significar, ou seja, representar simbolicamente, assim como no caso aqui relatado.

Para Saber Mais:

  • CARDOZA, Isabela Fonseca. A sociedade pós-moderna e o fenômeno das tribos urbanas. Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003.
  • FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgard Blücher, 1990.
  • GIDDENS, ANTHONY. Sociologia. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2005, pp.38-45, 207.
  • GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação. São Paulo: Annablume, 2001.
  • LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007.
  • MOURA, Auro Sanson. Música e Construção de Identidade. In: Anais ANPPOM, XVII Congresso, São Paulo, 2007.

Amanda Prado

Amanda Prado

Vinte e um anos, mineira, viveu no interior do Rio de Janeiro desde sempre até que a partir de 2011 se aventurou a morar em terras paranaenses para estudar Moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais especificamente em Cianorte, onde concluiu o curso de Moda em 2015, e não satisfeita, aproveitou a deixa e se formou em 2013 como técnica em vestuário pelo SENAI. Apaixonada por pesquisas acadêmicas, moda e áreas afins, mas acima de tudo consciente da necessidade da fomentação do campo de saber da moda.

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Estilo colorido – Parte 3

Por Amanda Prado

Para finalizar minha saga com o objetivo de discutir por que jovenzinhos de norte a sul do Brasil se vestiam de preto ou esbanjavam trajes coloridos quase como uma epidemia é necessário falar de moda!

Tudo bem, eu sei que você odeia modinhas, então vamos tratar um pouco de pós-modernidade, e finalmente verificar a relação entre moda, música, identidade e o papel das cores.

MODA E IDENTIDADE NA PÓS-MODERNIDADE:

Ainda sob a discussão da construção identitária através de objetos, LIPOVETSKY (2007) abordada o tema e em suma, determina que a sociedade presente é caracterizada como a sociedade do “hiperconsumo”, e que se baseia na busca da felicidade, cada vez mais efêmera e interligada ao consumismo, em que o hedonismo e a busca por satisfação e conforto pessoal se tornam prioritários.

Desse modo, desenvolve-se o “consumo criativo” onde através das coisas que se tem é possível revelar, mesmo que parcialmente, quem nós somos, através de objetos que povoam nossos universos, inclusive nosso modo de vestir. Por isso, a moda também desempenha um papel fundamental em relação à edificação identitária dos sujeitos.

Sendo assim, a moda pode ser percebida como possível ferramenta utilizada para a veiculação da mensagem de uma tribo urbana pós-moderna, que se calca na ética da estética.

MODA, MÚSICA, IDENTIDADE E O PAPEL DAS CORES:

Após expor possíveis relações entre a moda, identidade, música e tribos urbanas, nesse tópico emos, coloridos e suas cores finalmente serão analisados, levando em conta todas as considerações e relações estabelecidas anteriormente.

Já que a adolescência é uma fase mais propensa ao desejo de se inserir em tribos urbanas, pois a formação da identidade pessoal ainda não está completamente concretizada, uma forma bem corriqueira de se inserir nesses grupos é através do gosto musical em comum, que estabelece uma forte relação de identidade social, já que ela tem função comunicativa. É através do gosto em comum por um estilo musical que pode surgir uma tribo urbana, pois, essa identificação entre indivíduos proporciona o agrupamento entre eles, e esse agrupamento é percebido pelos demais através de normatizações de natureza estética que se relacionam com a produção de um vínculo identitário.

Essa natureza estética será definida nessa análise como a moda adotada por determinadas tribos urbanas que se apropriam dos discursos veiculados por musicas de um estilo, e expressam esse mesmo discurso além do seu pertencimento a essa tribo urbana, através da valoração da estética, apesar do seu caráter efêmero e da ausência de uma organização e estrutura cotidiana.

É exatamente nesse cenário descrito que se encontra o “estilo colorido”. A escolha dos adolescentes que ouvem e gostam de happy rock por vestir roupas de diversas tonalidades, assim como os integrantes das bandas que são consideradas desse estilo, os caracteriza como identificáveis em uma multidão, mas não apenas por se vestirem de modo diferente dos demais, o discurso que almejam veicular através de suas roupas é tão percebido quanto o fato de serem dessa tribo. O mesmo ocorre em relação aos emos, mas não percebemos apenas os indivíduos, pois tribos urbanas tratam de identidade social, e essas agrupam semelhantes, e não individualidades, ou seja, percebemos na verdade o discurso que essas tribos trazem consigo através de sua imagem estética, principalmente através da moda, mas nesses casos, principalmente através das cores desses produtos de moda.

Por tanto, o papel das cores na composição do “estilo colorido” dos adolescentes é transmitir a mensagem que esses jovens se apropriaram ao adotar esse estilo, lembrando-se do poder de expressão das cores, possível graças à vibração psíquica que a cor exerce, assim como sua capacidade de significar, ou seja, representar simbolicamente.

Já que as músicas do estilo happy rock transmitem mensagens genericamente sobre baladas e a alegria de ser jovem, ou até mesmo quando falam de situações de certa forma traumáticas a cerca da juventude, como o término de um namoro, por exemplo, os discursos das músicas defendem que não vale a pena se entristecer, pois há ainda tanta vida pela frente, e diversas maravilhas e descobertas para se aproveitar. Pode-se dizer inclusive que discurso das músicas do estilo happy rock são o perfeito retrato da juventude pós-moderna, já que tratam com naturalidade relacionamentos efêmeros e se confortam numa busca hedônica tanto em relação ao consumo como em relação aos relacionamentos. E para veicular esse mesmo discurso, os adolescentes que se vestem com roupas e acessórios exageradamente coloridos, fazem dessas cores, ao mesmo tempo intensas e variadas, o símbolo dessa juventude que se diz extremamente feliz e despreocupada com outra coisa se não a própria felicidade através de ações hedonistas e efêmeras.

Tanto é verdade essa relação feita entre as cores e os discursos veiculados simbolicamente através das mesmas que, o estilo adotado pelas emos é genericamente composto por cores escuras ou listras pretas e brancas, além dos olhos escondidos por longas franjas chapadas sobre os mesmos, ou seja, esse estilo transmite através das cores tristeza, o oposto do “estilo colorido”, assim como o discurso veiculado pelas músicas do estilo emocore, carregado de melancolia, é o oposto do happy rock.

Dado o exposto, percebemos que ao comparar o “estilo colorido” com o estilo emo de se vestir, é possível relacionar o discurso veiculado através dos conteúdos (distintos) das respectivas musicas de cada tribo urbana pós-moderna que foram aqui apontadas, com estilo de se vestir, que acabou sendo representado principalmente pelas cores de acordo com esse discurso específico.

E quanto àqueles que não eram emos nem coloridos, e pelo contrário, queriam se dissociar de qualquer maneira dessa imagem?

Nesse caso a moda também foi uma opção, bastava se vestir evitando qualquer excesso que pudesse remeter ao discurso de algum desses grupos. Ou mais do que isso, se manifestar por meio da moda contra esses grupos era possível.

"sem cor", design minimalista e texto direto. Um modelito alternativo para não ser confundido com um "colorido".

Mais uma vez enfatizo que a moda é um meio de comunicação, e através da análise feita podemos dizer que as cores têm o potencial de assumir papéis de extrema importância na construção da moda como meio de comunicação, já que as roupas e acessórios por meio das cores possuem poder de expressão e capacidade de significar, ou seja, representar simbolicamente, assim como no caso aqui relatado.

Para Saber Mais:

  • CARDOZA, Isabela Fonseca. A sociedade pós-moderna e o fenômeno das tribos urbanas. Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003.
  • FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgard Blücher, 1990.
  • GIDDENS, ANTHONY. Sociologia. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2005, pp.38-45, 207.
  • GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação. São Paulo: Annablume, 2001.
  • LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007.
  • MOURA, Auro Sanson. Música e Construção de Identidade. In: Anais ANPPOM, XVII Congresso, São Paulo, 2007.

Amanda Prado

Amanda Prado

Vinte e um anos, mineira, viveu no interior do Rio de Janeiro desde sempre até que a partir de 2011 se aventurou a morar em terras paranaenses para estudar Moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais especificamente em Cianorte, onde concluiu o curso de Moda em 2015, e não satisfeita, aproveitou a deixa e se formou em 2013 como técnica em vestuário pelo SENAI. Apaixonada por pesquisas acadêmicas, moda e áreas afins, mas acima de tudo consciente da necessidade da fomentação do campo de saber da moda.

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