Estilo colorido

Por Amanda Prado

Hoje trago uma pauta completamente desatualizada em relação às eternidades da semana com o objetivo de refletir sobre o quão fugaz é o tempo em que vivemos, mas que por trás dessa efemeridade sempre há alguma questão que pode ser levantada para discussão.

E por falar em fugacidade que tal relembrarmos o “estilo colorido”, disseminado entre jovens que curtiam um tal de “happy rock”. Provavelmente ou você era um colorido ou você abominava tudo o que se relacionava a esse universo composto por moda, música muitas cores e uma identidade que misteriosamente quase ninguém mais lembra.

Os coloridos estão fadados a ter o mesmo destino dos emos? Como esses grupos surgem e desaparecem? Quais as possíveis relações entre moda, música, identidade e qual o papel das cores para identificar esses grupos?

Para investigar essas questões vamos primeiramente relembrar alguns importantes aspectos sobre coloridos e emos, pois eu sei que apesar de estar falando de alguns poucos anos atrás, chego a sentir certa nostalgia ao recordar a polêmica aparição de emuxos e gente colorida.

O termo “banda colorida” foi divulgado em diversos meios de comunicação e se tornou muito utilizado para se referir a bandas de estilo teen pop que acabaram adquirindo popularidade na internet e em outras mídias nacionais com um grande fã-clube pré-adolescente, e ao mesmo tempo sendo criticada ferozmente por outros grupos.

O termo é justamente uma referência ao estilo de se vestir dos integrantes das bandas consideradas pertencentes a esse estilo musical, sempre caracterizado com um visual “colorido”.

No Brasil os fãs pré-adolescentes e adolescentes costumam aderir ao mesmo visual utilizado pelas bandas, o dito “estilo colorido” por tanto, foi cultuado principalmente por jovens dessas faixas etárias, um dos motivos pelo qual essas bandas geraram polêmica.

Dentre as bandas mais conhecidas que de alguma forma são relacionadas a esse estilo estão Cine, Replace, Izi, Hori e principalemte Restart. Os integrantes dessa última banda citada alugaram uma casa de shows em São Paulo e criaram a festa Happy Rock Sunday, e por conta dela surgiu o termo “happy rock” para definir o estilo musical da banda, que acabou sendo associado aos demais grupos citados anteriormente.

Banda Restart: o Ícone colorido.

Principalmente após o aparecimento da banda Restart, o “movimento” colorido começou a ser duramente criticado por inúmeros jovens que não aceitavam que esse estilo musical fosse associado ao rock’n’roll, e até mesmo por artistas da cena do rock nacional mais antigos e consolidados, já que as letras das músicas desse novo estilo falavam genericamente de baladas, namoros e outros assuntos “banais” em relação a ancestral rebeldia do rock.

Geralmente, quando se fala de “gente colorida”, “banda coloria” ou “happy rock”, sempre há a comparação com outro estilo musical em especial, o emocore, que antecedeu a onda colorida, e da mesma forma influenciou o estilo de se vestir dos adolescentes, porém em contraste com o visual colorido, o estereótipo atribuído aos fãs desse outro estilo musical, conhecidos como emos, é caracterizado como melancólico, vestindo-se de acordo com esse estado de espírito, ou seja, predominantemente utilizam a cor preta para compor o seu visual.

No Brasil essa espécie de “tribo urbana” (forma de sociabilidade que se orienta através de normas auto referenciais de natureza estética e ética relacionada com a produção de vínculos identitários), já em meados de 2003 começa a ser notada na cidade de São Paulo, espalhando-se para outras capitais e interior, e assim acabou sendo vista como uma moda adolescente reconhecida não somente pela música, mas também pelo comportamento emotivo, e pelo visual, que consiste em geral, em trajes pretos e listrados e cabelos com franjas caídas sobre os olhos.

Estilo emo: antagônico em relação à moda colorida, mas com alguns aspectos em comum.

Além do fato dos fãs de happy rock e emocore serem na sua maioria adolescentes e gerarem polêmica e controvérsias quanto a sua origem e definição, o mais importante é perceber que se vestem em sintonia com a mensagem veiculada pelas músicas de cada estilo, mesmo sendo antagônicos.

Será investigado no próximo post essa utilização das cores para caracterizar essas “tribos urbanas” adolescentes relatadas, bem como a construção identitária desses grupos a partir de suas roupas, e ao mesmo tempo, o repúdio em relação as mesmas por parte de grupos que almejam dissociar-se dessa imagem.

Para Saber Mais:

  • CARDOZA, Isabela Fonseca. A sociedade pós-moderna e o fenômeno das tribos urbanas. Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003.
  • FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgard Blücher, 1990.
  • GIDDENS, ANTHONY. Sociologia. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2005, pp.38-45, 207.
  • GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação. São Paulo: Annablume, 2001.
  • LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007.
  • MOURA, Auro Sanson. Música e Construção de Identidade. In: Anais ANPPOM, XVII Congresso, São Paulo, 2007.
Amanda Prado

Amanda Prado

Vinte e um anos, mineira, viveu no interior do Rio de Janeiro desde sempre até que a partir de 2011 se aventurou a morar em terras paranaenses para estudar Moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais especificamente em Cianorte, onde concluiu o curso de Moda em 2015, e não satisfeita, aproveitou a deixa e se formou em 2013 como técnica em vestuário pelo SENAI. Apaixonada por pesquisas acadêmicas, moda e áreas afins, mas acima de tudo consciente da necessidade da fomentação do campo de saber da moda.

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Estilo colorido

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Hoje trago uma pauta completamente desatualizada em relação às eternidades da semana com o objetivo de refletir sobre o quão fugaz é o tempo em que vivemos, mas que por trás dessa efemeridade sempre há alguma questão que pode ser levantada para discussão.

E por falar em fugacidade que tal relembrarmos o “estilo colorido”, disseminado entre jovens que curtiam um tal de “happy rock”. Provavelmente ou você era um colorido ou você abominava tudo o que se relacionava a esse universo composto por moda, música muitas cores e uma identidade que misteriosamente quase ninguém mais lembra.

Os coloridos estão fadados a ter o mesmo destino dos emos? Como esses grupos surgem e desaparecem? Quais as possíveis relações entre moda, música, identidade e qual o papel das cores para identificar esses grupos?

Para investigar essas questões vamos primeiramente relembrar alguns importantes aspectos sobre coloridos e emos, pois eu sei que apesar de estar falando de alguns poucos anos atrás, chego a sentir certa nostalgia ao recordar a polêmica aparição de emuxos e gente colorida.

O termo “banda colorida” foi divulgado em diversos meios de comunicação e se tornou muito utilizado para se referir a bandas de estilo teen pop que acabaram adquirindo popularidade na internet e em outras mídias nacionais com um grande fã-clube pré-adolescente, e ao mesmo tempo sendo criticada ferozmente por outros grupos.

O termo é justamente uma referência ao estilo de se vestir dos integrantes das bandas consideradas pertencentes a esse estilo musical, sempre caracterizado com um visual “colorido”.

No Brasil os fãs pré-adolescentes e adolescentes costumam aderir ao mesmo visual utilizado pelas bandas, o dito “estilo colorido” por tanto, foi cultuado principalmente por jovens dessas faixas etárias, um dos motivos pelo qual essas bandas geraram polêmica.

Dentre as bandas mais conhecidas que de alguma forma são relacionadas a esse estilo estão Cine, Replace, Izi, Hori e principalemte Restart. Os integrantes dessa última banda citada alugaram uma casa de shows em São Paulo e criaram a festa Happy Rock Sunday, e por conta dela surgiu o termo “happy rock” para definir o estilo musical da banda, que acabou sendo associado aos demais grupos citados anteriormente.

Banda Restart: o Ícone colorido.

Principalmente após o aparecimento da banda Restart, o “movimento” colorido começou a ser duramente criticado por inúmeros jovens que não aceitavam que esse estilo musical fosse associado ao rock’n’roll, e até mesmo por artistas da cena do rock nacional mais antigos e consolidados, já que as letras das músicas desse novo estilo falavam genericamente de baladas, namoros e outros assuntos “banais” em relação a ancestral rebeldia do rock.

Geralmente, quando se fala de “gente colorida”, “banda coloria” ou “happy rock”, sempre há a comparação com outro estilo musical em especial, o emocore, que antecedeu a onda colorida, e da mesma forma influenciou o estilo de se vestir dos adolescentes, porém em contraste com o visual colorido, o estereótipo atribuído aos fãs desse outro estilo musical, conhecidos como emos, é caracterizado como melancólico, vestindo-se de acordo com esse estado de espírito, ou seja, predominantemente utilizam a cor preta para compor o seu visual.

No Brasil essa espécie de “tribo urbana” (forma de sociabilidade que se orienta através de normas auto referenciais de natureza estética e ética relacionada com a produção de vínculos identitários), já em meados de 2003 começa a ser notada na cidade de São Paulo, espalhando-se para outras capitais e interior, e assim acabou sendo vista como uma moda adolescente reconhecida não somente pela música, mas também pelo comportamento emotivo, e pelo visual, que consiste em geral, em trajes pretos e listrados e cabelos com franjas caídas sobre os olhos.

Estilo emo: antagônico em relação à moda colorida, mas com alguns aspectos em comum.

Além do fato dos fãs de happy rock e emocore serem na sua maioria adolescentes e gerarem polêmica e controvérsias quanto a sua origem e definição, o mais importante é perceber que se vestem em sintonia com a mensagem veiculada pelas músicas de cada estilo, mesmo sendo antagônicos.

Será investigado no próximo post essa utilização das cores para caracterizar essas “tribos urbanas” adolescentes relatadas, bem como a construção identitária desses grupos a partir de suas roupas, e ao mesmo tempo, o repúdio em relação as mesmas por parte de grupos que almejam dissociar-se dessa imagem.

Para Saber Mais:

  • CARDOZA, Isabela Fonseca. A sociedade pós-moderna e o fenômeno das tribos urbanas. Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003.
  • FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgard Blücher, 1990.
  • GIDDENS, ANTHONY. Sociologia. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2005, pp.38-45, 207.
  • GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação. São Paulo: Annablume, 2001.
  • LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia Das Letras, 2007.
  • MOURA, Auro Sanson. Música e Construção de Identidade. In: Anais ANPPOM, XVII Congresso, São Paulo, 2007.
Amanda Prado

Amanda Prado

Vinte e um anos, mineira, viveu no interior do Rio de Janeiro desde sempre até que a partir de 2011 se aventurou a morar em terras paranaenses para estudar Moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais especificamente em Cianorte, onde concluiu o curso de Moda em 2015, e não satisfeita, aproveitou a deixa e se formou em 2013 como técnica em vestuário pelo SENAI. Apaixonada por pesquisas acadêmicas, moda e áreas afins, mas acima de tudo consciente da necessidade da fomentação do campo de saber da moda.

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