Do Pixel ao Voxel

Por Gui Santos

No último artigo aqui na Clichê, foi comentado como um gênero de game pouco explorado pode revitalizar o design de jogos na indústria. Nessa semana, vamos analisar um estilo de Game Art que ressurgiu em alguns jogos nos últimos anos (principalmente nos games independentes).

O Pixel

Durante as décadas de 80 e 90, surgiram a terceira e a quarta gerações de consoles. Esses novos video games trouxeram um grande avanço para a indústria, possibilitando novas alternativas tanto de design como de arte.

Graças aos processadores 8-bit e 16-bit, foi possível para os designers desenvolverem gráficos mais atraentes e icônicos para os jogos.

Zelda 8bit e Zelda 16 bit

Zelda 8bit e Zelda 16 bit

A verdade é que a pixel art surgiu de uma limitação tecnológica da época, mas mesmo assim agradou muito aos jogadores. A principal vantagem do estilo reside na sua simplicidade estrutural; com o pixel é possível criar desde gráficos simples às mais complexas ilustrações.

A partir da década de 90  houve um grande avanço tecnológico no que diz respeito ao processamento dos consoles e computadores. Inclusive, estamos cada vez mais próximos de conseguir gráficos hiperrealistas nos nossos PS3, XBOX e PC’s.

Mesmo assim, alguns jogos independentes apostaram no estilo mais simples e original da pixel art e obtiveram sucesso.

Talvez os video games estejam próximos do mesmo dilema que a pintura encontrou com o surgimento da fotografia: vamos ter de escolher entre a reprodução da realidade ou a expressividade de um estilo mais original.

Entre os jogos que estão apostando na nostalgia dos gráficos 16-bit, temos o jogo baseado na história em quadrinhos do Scott Pilgrim.

Esse estilo caiu muito bem para esse game. O tema das histórias já era do universo geek e a pixel art vem apenas reforçar todo esse ambiente, criando uma conexão com o público-alvo que relembra como eram mais legais os jogos nos anos 90.

Beat them up do Scott Pilgrim

Beat them up do Scott Pilgrim

Como último exemplo de excelente utilização do estilo, não poderíamos deixar faltar um belo game brasileiro! Knights Of Pen & Paper é um jogo independente para IOS e Android que está fazendo sucesso no mundo todo. Os gráficos 16-bit reforçam, do mesmo modo que em Scott Pilgrim, o sentimento nostálgico do jogador que já é estimulado pela atmosfera do gam

O jogo é muito original e usou muito bem a Pixel Art

O Voxel

O voxel (volumetric pixel) é, grosseiramente falando, um pixel tridimensional. Enquanto que o pixel guarda dados de imagem em um bitmap, o voxel guarda dados em um grid tridimensional.

Essa capacidade do voxel faz dele a melhor alternativa para a geração de modelos 3D através de dados. Um dos usos mais comuns desse método é o ultrassom 3D!

Uma do jogo Voxatron sendo criada no editor de voxel do próprio game

Uma vantagem do voxel no game é a criação de cenários aleatórios imensos. O computador se encarrega da criação de mundos únicos inteiros em três dimensões, algo impossível de se replicar mesmo com a melhor equipe de level designers.

O mais interessante é que, por esse cenário imenso ser feito de “pixels 3D”, é possível torná-lo completamente interativo. Torna-se possível, por exemplo, que o jogador possa destruir qualquer coisa no mundo do jogo (uma parede, um baú, uma árvore, um carro…).

Isso é extremamente precioso para o game designer e muito reforçador para o jogador, pois as ações do player realmente interferem nesse mundo.

Um dos jogos que soube utilizar muito bem esses recursos é o Voxatron. Além de um cenário totalmente destrutível, o jogo traz uma ferramenta para os jogadores criarem as suas próprias fases e disponibilizá-las para outros jogadores. Isso também acontece em jogos como Little Big Planet, mas como o Voxatron utiliza voxels a customização dessas fases é muito mais detalhada.

Outro jogo que fez sucesso na PSN foi o 3D Dot Game Heroes. O game é um RPG que remete aos clássicos do SNES, mas ao invés de gráficos 16-bit ele utiliza voxels para apelar para um estilo retrô. Um dos trunfos do jogo é a ferramenta de criação de personagens, que por ser em voxel torna a customização muito maior que em outros jogos.

Muitas coisas influenciam a escolha de um estilo para a arte de um jogo. Com os avanços tecnológicos já é quase possível alcançar uma imitação da realidade. Mas será que esse hiperrealismo deve ser usado sempre?

Talvez seja o momento para os designers e artistas discutirem sobre a expressividade dos gráficos do game. Alguns estilos podem trazer novas possibilidades ao jogo que outros não.
Como em todo projeto, cabe ao designer refletir sobre esses recursos e fazer as melhores escolhas para a experiência do jogador.

Para saber mais sobre Voxels e Pixels:

Gui Santos

Gui Santos

Um quase ex-aluno do Design da UTFPR, agora vai! Leva jogos a sério demais e acha que Han Solo atirou primeiro.

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Comentários

Os comentários estão encerrados.

Do Pixel ao Voxel

Por Gui Santos

No último artigo aqui na Clichê, foi comentado como um gênero de game pouco explorado pode revitalizar o design de jogos na indústria. Nessa semana, vamos analisar um estilo de Game Art que ressurgiu em alguns jogos nos últimos anos (principalmente nos games independentes).

O Pixel

Durante as décadas de 80 e 90, surgiram a terceira e a quarta gerações de consoles. Esses novos video games trouxeram um grande avanço para a indústria, possibilitando novas alternativas tanto de design como de arte.

Graças aos processadores 8-bit e 16-bit, foi possível para os designers desenvolverem gráficos mais atraentes e icônicos para os jogos.

Zelda 8bit e Zelda 16 bit

Zelda 8bit e Zelda 16 bit

A verdade é que a pixel art surgiu de uma limitação tecnológica da época, mas mesmo assim agradou muito aos jogadores. A principal vantagem do estilo reside na sua simplicidade estrutural; com o pixel é possível criar desde gráficos simples às mais complexas ilustrações.

A partir da década de 90  houve um grande avanço tecnológico no que diz respeito ao processamento dos consoles e computadores. Inclusive, estamos cada vez mais próximos de conseguir gráficos hiperrealistas nos nossos PS3, XBOX e PC’s.

Mesmo assim, alguns jogos independentes apostaram no estilo mais simples e original da pixel art e obtiveram sucesso.

Talvez os video games estejam próximos do mesmo dilema que a pintura encontrou com o surgimento da fotografia: vamos ter de escolher entre a reprodução da realidade ou a expressividade de um estilo mais original.

Entre os jogos que estão apostando na nostalgia dos gráficos 16-bit, temos o jogo baseado na história em quadrinhos do Scott Pilgrim.

Esse estilo caiu muito bem para esse game. O tema das histórias já era do universo geek e a pixel art vem apenas reforçar todo esse ambiente, criando uma conexão com o público-alvo que relembra como eram mais legais os jogos nos anos 90.

Beat them up do Scott Pilgrim

Beat them up do Scott Pilgrim

Como último exemplo de excelente utilização do estilo, não poderíamos deixar faltar um belo game brasileiro! Knights Of Pen & Paper é um jogo independente para IOS e Android que está fazendo sucesso no mundo todo. Os gráficos 16-bit reforçam, do mesmo modo que em Scott Pilgrim, o sentimento nostálgico do jogador que já é estimulado pela atmosfera do gam

O jogo é muito original e usou muito bem a Pixel Art

O Voxel

O voxel (volumetric pixel) é, grosseiramente falando, um pixel tridimensional. Enquanto que o pixel guarda dados de imagem em um bitmap, o voxel guarda dados em um grid tridimensional.

Essa capacidade do voxel faz dele a melhor alternativa para a geração de modelos 3D através de dados. Um dos usos mais comuns desse método é o ultrassom 3D!

Uma do jogo Voxatron sendo criada no editor de voxel do próprio game

Uma vantagem do voxel no game é a criação de cenários aleatórios imensos. O computador se encarrega da criação de mundos únicos inteiros em três dimensões, algo impossível de se replicar mesmo com a melhor equipe de level designers.

O mais interessante é que, por esse cenário imenso ser feito de “pixels 3D”, é possível torná-lo completamente interativo. Torna-se possível, por exemplo, que o jogador possa destruir qualquer coisa no mundo do jogo (uma parede, um baú, uma árvore, um carro…).

Isso é extremamente precioso para o game designer e muito reforçador para o jogador, pois as ações do player realmente interferem nesse mundo.

Um dos jogos que soube utilizar muito bem esses recursos é o Voxatron. Além de um cenário totalmente destrutível, o jogo traz uma ferramenta para os jogadores criarem as suas próprias fases e disponibilizá-las para outros jogadores. Isso também acontece em jogos como Little Big Planet, mas como o Voxatron utiliza voxels a customização dessas fases é muito mais detalhada.

Outro jogo que fez sucesso na PSN foi o 3D Dot Game Heroes. O game é um RPG que remete aos clássicos do SNES, mas ao invés de gráficos 16-bit ele utiliza voxels para apelar para um estilo retrô. Um dos trunfos do jogo é a ferramenta de criação de personagens, que por ser em voxel torna a customização muito maior que em outros jogos.

Muitas coisas influenciam a escolha de um estilo para a arte de um jogo. Com os avanços tecnológicos já é quase possível alcançar uma imitação da realidade. Mas será que esse hiperrealismo deve ser usado sempre?

Talvez seja o momento para os designers e artistas discutirem sobre a expressividade dos gráficos do game. Alguns estilos podem trazer novas possibilidades ao jogo que outros não.
Como em todo projeto, cabe ao designer refletir sobre esses recursos e fazer as melhores escolhas para a experiência do jogador.

Para saber mais sobre Voxels e Pixels:

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Gui Santos

Um quase ex-aluno do Design da UTFPR, agora vai! Leva jogos a sério demais e acha que Han Solo atirou primeiro.

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