Sobre Arte Performática
A arte que um dia foi restrita aos mecenas e grandes museus, já há algum tempo assumiu formas distintas, democráticas e libertou-se dos formatos clássicos impostos. A arte performática é e sempre foi vista como uma arte libertadora.
Tidas por alguns como manifestações estranhas, as performances contemporâneas são grandes agentes de provocação que levam aos mais variados espaços artísticos e públicos, um jeito diferente de indagar-se sobre o contexto da arte.
Pinturas, esculturas, músicas ou filmes podem trazer consigo grande carga de expressão e significado, mas na performance, a expressão é intrínseca ao artista e ele é parte da obra. Além da intenção de expressar-se, o artista pessoalmente o faz, usando seu corpo como suporte ou meio de exprimir uma intensa gama de significados.
A performance confunde, não deixa claro onde termina a ‘cena’ e começa a ‘vida’. E isso é um dos princípais estímulos ao espectador, que é levado a indagar-se constantemente sobre o tema, a relevância e o significado da manifestação artística.
O artista taiwanês Tehching Hsieh levou ao extremo os limites de distinção – se é que existem – entre arte e vida. Ele executou quatro performances denominadas “As Performances de Um Ano”, onde em cada uma o artista performou por um ano ininterruptamente.
Na primeira o artista permaneceu confinado em uma cela em seu estúdio, sem falar com ninguém. Em seguida, registrou em fotografias ao lado de um relógio-ponto, todas as horas de todos os dias. Na terceira passou os 365 dias vivendo como um sem-teto nas ruas de Nova Iorque. E então, por fim, ficou um ano amarrado a uma mulher sem poder tocá-la. Em 1986 anunciou seu distânciamento do mundo da arte, e após treze anos produzindo arte sem exibi-la, em 1999, aos 49 anos, concluiu seu plano e deixou de atuar como artista.
Reflexões sobre a existência de limites entre criação e criador, ou sobre até onde o artista pode ir por sua arte, continuam sendo levantadas até hoje pela obra de Hsieh.
Na arte performática não há como agrupar as obras em ‘grandes escolas’ ou grupos temáticos. Cada obra é única, assim como seus autores e ambos são indivisíveis. A performance pode ser gravada fisicamente, através de fotografia ou vídeos por exemplo, mas só é viva enquanto o artista vive e esse é um dos aspectos que a torna uma arte humanizada e tocante.
Recentemente a artista sérvia Marina Abramovic, um dos grandes nomes da arte performática, voltou novamente o foco do mundo para uma de suas manifestações. “The Artist Is Present” é o nome da exposição retrospectiva sobre a vida da artista que aconteceu no MoMa em Nova Iorque, na qual a artista compartilhou um minuto de silêncio em frente a cada espectador que se sentasse à sua frente na sala do museu. Em meio ao público, um homem, com o qual Marina havia tido uma grande historia do amor no passado, sentou-se a sua frente deixando a artista visivelmente emocionada. O fato viralizou o vídeo no qual a cena fora gravada – trecho retirado do documentário sobre vida e obra da artista – mas sobretudo, mostrou a indíssociavel humanidade presente na arte.
Perguntamos a atriz curitibana Camila Couto sobre a opinião dela a respeito da qualidade das performances contemporâneas:
– “Particularmente, não gosto de dizer que algo é bom ou ruim, tento fugir de dicotomias. Acho que qualquer coisa vai além do bom ou ruim. A performance passa por um entendimento que vai além do racional, passa por um entendimento de sensações, por um entendimento do corpo por um todo. Se a performance me causar alguns arranhões ou dores no estômago, já me valeu a experiência.”
A arte performática é democrática e permite discussões dos mais variados pontos de vistas. É necessário se ter em mente que o artista pretende alcançar uma expressão efetiva e faz uso das técnicas e ferramentas que entende como necessárias para comunicar e expor seus significados, por razões sociais, políticas, dramáticas ou então por singelas celebrações das vivências comuns do ser. As manifestações performaticas não encontram limites estéticos, sociais ou morais. O único limite para uma arte viva, é a morte.
Na foto de capa: Joseph Beuys, em 1974, na performance “Eu Amo a América e a América Me Ama” na qual o artista deixou a Alemanha envolto em uma manta feltro, desembarcou nos Estados Unidos, fora carregado até uma sala onde ficou com um coiote durante sete dias, depois, sem tocar o solo americano em momento algum, voltou para a Alemanha.
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