Roguelikes. O que são? Aonde vivem?

Por Gui Santos

Nós, seres humanos, adoramos catalogar todo o nosso conhecimento. Os jogos não ficam de fora disso. É muito comum ver por aí os jogos divididos em gêneros como: ARPG, ação, aventura, plataforma, puzzle…

É muito difícil estabelecer a qual estilo determinado jogo faz parte. Isso acontece porque existem jogos que possuem características diferentes de vários gêneros diferentes (o que é muito bom!). Por isso, pensei em começar a “destrinchar” alguns gêneros famosos e discutir as mecânicas que encontramos.

E para começar, podemos falar sobre o Roguelike.

 

Por quê?

Esse estilo de jogo ainda possui muitos recursos pouco explorados em jogos de grande público, mas que quando foram utilizados fizeram sucesso, por exemplo, recentemente, em Dark Souls. Essa pode ser uma chance de revitalizar o mercado, uma vez que as grandes desenvolvedoras só estão interessadas em aumentar o seu público com jogos que agradem tanto os jogadores casuais quanto os hardcore.

 

Mas o que é um Roguelike?

Podemos dizer, de modo geral, que um roguelike é aquele jogo onde o jogador explora ambientes enfrentando inimigos tendo como objetivo a própria exploração e o saque de itens, isso tudo correndo o risco de uma morte permanente em caso de cometer algum erro.

É muito difícil definir o gênero, pois ele vem evoluindo ao longo dos anos. Durante a Roguelike Development Conference de 2008, foi elaborada uma definição (Berlim Interpretation) baseada em uma série de cânones. Um jogo não precisa necessariamente respeitar todos esses cânones como a própria definição salienta:

“Essa lista (de cânones) pode ser usada para determinar o quão ‘roguelike’ um jogo é. Não possuir algum desses pontos, não significa que o jogo não é um roguelike. Da mesma forma, possuir algum dos pontos não garante que o jogo seja um roguelike. O propósito dessa definição é para que a comunidade possa entender melhor o que está estudando. A definição não existe para limitar os desenvolvedores ou os jogos”

Para facilitar a nossa discussão, vamos abordar apenas dois desses cânones:

  • Random environment generation
  • Permafailure

 

Mundo aleatório

Essa é uma das características mais marcantes. Em um roguelike, o cenário do jogo é gerado aleatoriamente. Por esse motivo, cada sessão de jogo é uma experiência diferente das anteriores.

Para que o jogo seja sempre atrativo e não “enjoe”, o conteúdo do game precisa ser renovado conforme o jogador avança. A geração de mundos aleatórios é um modo de resolver isso, os jogadores sempre terão áreas diferentes para explorar, não importa quantas vezes joguem.

Em Diablo II, os dungeons são sempre inéditos.

O Diablo II utiliza o recurso de geração aleatória em todas regiões, principalmente nas dungeons que são onde a maior parte da ação acontece. Não é à toa que mesmo sendo de 2000, o game é jogado até hoje e recebeu atualizações até 2010.

O erro é severamente punido

Na definição mostrada indicada anteriormente, um dos principais pontos do estilo é a Permadeath – quando o jogador morre, ele morre permanentemente. Mas é possível ampliar o conceito para uma punição severa para os erros do jogador.

Esse tipo de situação aumenta o valor das ações do player, consequentemente aumenta o sentimento de realização quando o jogador consegue superar um desafio. Além disso, ao se aumentar o risco ao se tomar uma decisão, o designer está incentivando um comportamento mais tático ao se jogar.

Apesar de não ser considerado um roguelike, Dark Souls utiliza vários recursos do gênero.

Em 2011, Dark Souls foi um dos jogos mais comentados do ano. O sucesso foi tanto que, um ano depois, a desenvolvedora teve de adaptá-lo para o PC. Um dos motivos para atrair tantas pessoas foi, justamente, a dificuldade e a punição que o jogador recebe caso cometa algum erro. Em Dark Souls, depois que o jogador se acostuma ele não executa nenhum movimento sem planejar muito bem a ação. Caso falhe, a punição é realmente muito frustrante, mas é recompensada quando o player consegue superar aquele desafio.

 

Conclusões

Minecraft deve seu sucesso a duas mecânicas de roguelikes

Uma prova do sucesso da aplicação de mecânicas roguelike nos games para o grande público é o jogo Minecraft, o game atrai vários tipos de jogadores diferentes sem empobrecer o seu design.

Nesse jogo o jogador é livre para construir o que quiser, mas pode acabar perdendo tudo se cometer um erro. Essa responsabilidade aumenta o valor das ações do jogador. Depois de passar horas construindo o castelo ideal no jogo, ninguém gostaria que ele fosse destruído porque sem querer você atraiu o tipo errado de inimigo para o local.

Além disso, o jogo promete ter sempre um mundo inteiro novo só para você. Quando se inicia uma partida o computador cria um mundo que será seu, o mundo de outro jogador será diferente. Além do sentimento de exclusividade, é muito recompensador ter sempre regiões e locais novos para explorar. Uma vez que o mundo é gerado aleatoriamente, as possibilidades de eventos no jogo são infinitas e dificilmente se repetem.

Como em qualquer área do design, é importante que o profissional mantenha um repertório de ferramentas atualizado. As mecânicas nesse post são as apostas de muitos designers atualmente por trazerem mais desafios do que estamos acostumados, claro que não são as únicas.

Acredito que juntos estudando e pesquisando as mecânicas existentes, os game designers podem achar soluções inovadoras para o mercado… e podemos fazer isso aqui na Clichê, por que não?

 

Menções honrosas

Teleglitch

Esse jogo merece uma menção por se passar em uma base militar, diferente da usual masmorra de fantasia medieval. Além disso, ele possui gráficos em pixel art em um estilo próprio.

Mercury

O Mercury não é apenas um jogo, é um experimento social. O jogo é gratuito e conforme você joga vai ganhando pontos. Ao final de cada semana os melhores jogadores no ranking podem incluir conteúdo no jogo como: novos inimigos; novas classes e novos itens. Ou seja, o jogo é construído pelos próprios jogadores.

Legend of Yore

Ótimo jogo para você que não conhece muito o gênero, mas se interessou pelos roguelikes. Além disso, ele é para Android e Iphone. Ideal para filas de banco e salas de espera em geral.

7DRL

A 7DRL é uma game jam – evento onde os participantes devem desenvolver um  jogo em um tempo limite – só de roguelikes que acontece todo ano, esse ano ela durou do dia 9 ao dia 17 de março. Vale a pena jogar os jogos desenvolvidos para ver o que o pessoal consegue fazer em uma semana! Você pode ver todos os jogos feitos no site da 7DRL.

 

Links para quem quiser mais…

  • Rogue Temple – um dos centros da comunidade de jogadores e desenvolvedores de roguelikes
  • Roguebasin – site e enciclopédia oficial da Roguelike Development Conference
  • RockPaperShotgun – um dos melhores blogs de games, possui uma seção só para roguelikes
Gui Santos

Gui Santos

Um quase ex-aluno do Design da UTFPR, agora vai! Leva jogos a sério demais e acha que Han Solo atirou primeiro.

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Comentários

Os comentários estão encerrados.

Roguelikes. O que são? Aonde vivem?

Por Gui Santos

Nós, seres humanos, adoramos catalogar todo o nosso conhecimento. Os jogos não ficam de fora disso. É muito comum ver por aí os jogos divididos em gêneros como: ARPG, ação, aventura, plataforma, puzzle…

É muito difícil estabelecer a qual estilo determinado jogo faz parte. Isso acontece porque existem jogos que possuem características diferentes de vários gêneros diferentes (o que é muito bom!). Por isso, pensei em começar a “destrinchar” alguns gêneros famosos e discutir as mecânicas que encontramos.

E para começar, podemos falar sobre o Roguelike.

 

Por quê?

Esse estilo de jogo ainda possui muitos recursos pouco explorados em jogos de grande público, mas que quando foram utilizados fizeram sucesso, por exemplo, recentemente, em Dark Souls. Essa pode ser uma chance de revitalizar o mercado, uma vez que as grandes desenvolvedoras só estão interessadas em aumentar o seu público com jogos que agradem tanto os jogadores casuais quanto os hardcore.

 

Mas o que é um Roguelike?

Podemos dizer, de modo geral, que um roguelike é aquele jogo onde o jogador explora ambientes enfrentando inimigos tendo como objetivo a própria exploração e o saque de itens, isso tudo correndo o risco de uma morte permanente em caso de cometer algum erro.

É muito difícil definir o gênero, pois ele vem evoluindo ao longo dos anos. Durante a Roguelike Development Conference de 2008, foi elaborada uma definição (Berlim Interpretation) baseada em uma série de cânones. Um jogo não precisa necessariamente respeitar todos esses cânones como a própria definição salienta:

“Essa lista (de cânones) pode ser usada para determinar o quão ‘roguelike’ um jogo é. Não possuir algum desses pontos, não significa que o jogo não é um roguelike. Da mesma forma, possuir algum dos pontos não garante que o jogo seja um roguelike. O propósito dessa definição é para que a comunidade possa entender melhor o que está estudando. A definição não existe para limitar os desenvolvedores ou os jogos”

Para facilitar a nossa discussão, vamos abordar apenas dois desses cânones:

  • Random environment generation
  • Permafailure

 

Mundo aleatório

Essa é uma das características mais marcantes. Em um roguelike, o cenário do jogo é gerado aleatoriamente. Por esse motivo, cada sessão de jogo é uma experiência diferente das anteriores.

Para que o jogo seja sempre atrativo e não “enjoe”, o conteúdo do game precisa ser renovado conforme o jogador avança. A geração de mundos aleatórios é um modo de resolver isso, os jogadores sempre terão áreas diferentes para explorar, não importa quantas vezes joguem.

Em Diablo II, os dungeons são sempre inéditos.

O Diablo II utiliza o recurso de geração aleatória em todas regiões, principalmente nas dungeons que são onde a maior parte da ação acontece. Não é à toa que mesmo sendo de 2000, o game é jogado até hoje e recebeu atualizações até 2010.

O erro é severamente punido

Na definição mostrada indicada anteriormente, um dos principais pontos do estilo é a Permadeath – quando o jogador morre, ele morre permanentemente. Mas é possível ampliar o conceito para uma punição severa para os erros do jogador.

Esse tipo de situação aumenta o valor das ações do player, consequentemente aumenta o sentimento de realização quando o jogador consegue superar um desafio. Além disso, ao se aumentar o risco ao se tomar uma decisão, o designer está incentivando um comportamento mais tático ao se jogar.

Apesar de não ser considerado um roguelike, Dark Souls utiliza vários recursos do gênero.

Em 2011, Dark Souls foi um dos jogos mais comentados do ano. O sucesso foi tanto que, um ano depois, a desenvolvedora teve de adaptá-lo para o PC. Um dos motivos para atrair tantas pessoas foi, justamente, a dificuldade e a punição que o jogador recebe caso cometa algum erro. Em Dark Souls, depois que o jogador se acostuma ele não executa nenhum movimento sem planejar muito bem a ação. Caso falhe, a punição é realmente muito frustrante, mas é recompensada quando o player consegue superar aquele desafio.

 

Conclusões

Minecraft deve seu sucesso a duas mecânicas de roguelikes

Uma prova do sucesso da aplicação de mecânicas roguelike nos games para o grande público é o jogo Minecraft, o game atrai vários tipos de jogadores diferentes sem empobrecer o seu design.

Nesse jogo o jogador é livre para construir o que quiser, mas pode acabar perdendo tudo se cometer um erro. Essa responsabilidade aumenta o valor das ações do jogador. Depois de passar horas construindo o castelo ideal no jogo, ninguém gostaria que ele fosse destruído porque sem querer você atraiu o tipo errado de inimigo para o local.

Além disso, o jogo promete ter sempre um mundo inteiro novo só para você. Quando se inicia uma partida o computador cria um mundo que será seu, o mundo de outro jogador será diferente. Além do sentimento de exclusividade, é muito recompensador ter sempre regiões e locais novos para explorar. Uma vez que o mundo é gerado aleatoriamente, as possibilidades de eventos no jogo são infinitas e dificilmente se repetem.

Como em qualquer área do design, é importante que o profissional mantenha um repertório de ferramentas atualizado. As mecânicas nesse post são as apostas de muitos designers atualmente por trazerem mais desafios do que estamos acostumados, claro que não são as únicas.

Acredito que juntos estudando e pesquisando as mecânicas existentes, os game designers podem achar soluções inovadoras para o mercado… e podemos fazer isso aqui na Clichê, por que não?

 

Menções honrosas

Teleglitch

Esse jogo merece uma menção por se passar em uma base militar, diferente da usual masmorra de fantasia medieval. Além disso, ele possui gráficos em pixel art em um estilo próprio.

Mercury

O Mercury não é apenas um jogo, é um experimento social. O jogo é gratuito e conforme você joga vai ganhando pontos. Ao final de cada semana os melhores jogadores no ranking podem incluir conteúdo no jogo como: novos inimigos; novas classes e novos itens. Ou seja, o jogo é construído pelos próprios jogadores.

Legend of Yore

Ótimo jogo para você que não conhece muito o gênero, mas se interessou pelos roguelikes. Além disso, ele é para Android e Iphone. Ideal para filas de banco e salas de espera em geral.

7DRL

A 7DRL é uma game jam – evento onde os participantes devem desenvolver um  jogo em um tempo limite – só de roguelikes que acontece todo ano, esse ano ela durou do dia 9 ao dia 17 de março. Vale a pena jogar os jogos desenvolvidos para ver o que o pessoal consegue fazer em uma semana! Você pode ver todos os jogos feitos no site da 7DRL.

 

Links para quem quiser mais…

  • Rogue Temple – um dos centros da comunidade de jogadores e desenvolvedores de roguelikes
  • Roguebasin – site e enciclopédia oficial da Roguelike Development Conference
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Gui Santos

Gui Santos

Um quase ex-aluno do Design da UTFPR, agora vai! Leva jogos a sério demais e acha que Han Solo atirou primeiro.

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