Design mata

Por Thiago Grossmann

Design Mata isso é um fato, não é uma coisa fácil de entender, mas nós influenciamos muitos processos que podem gerar fatalidades.

não importa qual seja a profissão, todas as profissões devem ter uma responsabilidade social – Ivens Fontoura – anticast 02 – O diabo do briefing

Os designers Ivens Fontoura e JoaquiM Redig deram origem a expressão “design mata”,  depois de um acidente no ônibus do Rio de janeiro, onde um usuário carregava fogos de artifício que passaram a explodir em razão do calor. No desespero, os passageiros tentaram fugir e foram impedidos pelas catracas. Algumas pessoas morreram pisoteadas e prensadas, por causa da má distribuição e planejamento das catracas no interior do ônibus.

Na época do acidente, entrava-se no ônibus pela traseira e saia pela dianteira, para evitar que os passageiros não pagassem a passagem havia uma catraca na entrada e uma na saída. Numa situação extrema os passageiros não conseguíram sair pela porta dianteira, e pelo fato da catraca traseira não girar, os passageiros ficaram confinados dentro do ônibus. E o que isso tem a ver com design?

“É erro de design! Se o ônibus estivesse melhor projetado, nada disso teria acontecido. E alguém seria responsabilizado pelo incidente” – Ivens Fontoura 

Como nós falamos aqui, é importante pensar além do básico, e resolver problemas com soluções viáveis e praticas é o papel do designer. Quando isso não acontece da forma correta o usuário acaba prejudicado, pois as interfaces ruins são claramente dificultadores, assim como a falta de sinalização, ou ainda uma péssima hierarquia da informação. Mas essa interação é mais evidentemente perigosa no design de produtos, O design em todos círculos de atuação possui essa característica de interação perigosa, nem sempre ela a causa principal de fatalidades, mas num conjunto de fatores ela está lá. Algumas das situações a seguir são claramente formas de como o design nos afeta e pode ser fatal.

O crime de andar

Em 2010 Raquel Nelson, foi condenada por homicido pois após descer do onibus, ao atravessar uma avenida, seu filho de 4 anos se soltou da mão da mãe e foi atropelado. Isso não faz sentido né?

Basicamente a prefeitura alegou que a causa do acidente foi ela atravessar a rua fora do lugar correto, consequentemente a criança foi morta por culpa da mãe (mesmo com o motorista estando alcoolizado). Se você não tem problemas com inglês mais informações nesse video .
Mas aonde entra o design nesse caso?

Design urbano e planejamento, o ponto de ônibus fica a cerca de meio km da passarela mais próxima, e o prédio dela ficava exatamente do outro lado. Você pode estar pensando que isso é olhar pra nuvem, e arranjar um culpado errado, mas pare pra perceber na quantidade de pessoas que exatamente após saltar do ônibus atravessam a rua.

Os estudantes de urbanismo conhecem esse fenômeno como “caminhos de desejo” ( ou do original francês “chemins du désir”), é um fenomeno bem comum e facilmente observado em parques e gramados em geral.

"chemins du désir”

O soro e a vaselina

Esse não é um caso isolado, e não acontece somente com esses materiais, mas vamos pegar como exemplo o caso da menina Stephanie dos Santos Teixeira, de 12 anos, ao ser internada num hospital em São Paulo ao invez de receber soro na veia recebeu uma injeção de vaselina, o que resultou no seu falecimento. Pode até parecer um erro grotesco se olharmos superficialmente mas acredito que uma imagem possa dizer mais:

Frascos com soro (esq.) e vaselina líquida

Nesse caso acredito que fica mais evidente quanto o design pode influenciar, não existe nenhuma diferenciação nos frascos dos produtos, altura, textura, cor da tampa. Além disso os líquidos são idênticos a olho nu. A unica diferenciação está no rotulo, que, basicamente, está escrito o que são. Nesse caso apenas uma aplicação de cor na embalagem, ou no rotulo, poderia salvar pelo menos uma vida,  e não aumentaria o custo de produção.

A eleição

Peço desculpas agora para ir mais longe ainda, durante as eleições presidenciais estadunidenses de 2000, uma falha de designers pode ter custado a vida de muitos iraquianos, afegãos e outros países que acabaram por ser invadidos no futuro. Na Florida uma cedula diferenciada foi usada, com nomes em duas colunas e uma unica coluna para marcação, ela é conhecida como cédula borboleta (Butterfly ballot).

Basicamente essa cédula foi responsável por uma grande confusão e um caos bem relevante nas eleições, que levaram a recontagem e uma eterna duvida. Mas na pratica (segundo a CNN link em inglês) custou a candidatura de Al Gore e o consequente duplo mandato de G. W. Bush.

Estes são apenas alguns exemplos de como uma falha de design pode acarretar sérios problemas e como isso pode influenciar o cotidiano das pessoas. Isso tudo pode até gerar discussões com relação a nomenclatura, e algumas pessoas podem por exemplo falar que os culpados são outros, mas o fato é, que o trabalho do designer está diretamente ligado a esses e outros erros que não necessariamente são fatais, mas podem ser.

E vocês, tem algum exemplo diferente? ou vocês não acham que design mata?!

Thiago Grossmann

Thiago Grossmann

Estudante de Design Gráfico na UTFPR, membro fundador da Cliche. Nerd, inconformado, reclamão e um tanto quanto ranzinza.

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Design mata

Por Thiago Grossmann

Design Mata isso é um fato, não é uma coisa fácil de entender, mas nós influenciamos muitos processos que podem gerar fatalidades.

não importa qual seja a profissão, todas as profissões devem ter uma responsabilidade social – Ivens Fontoura – anticast 02 – O diabo do briefing

Os designers Ivens Fontoura e JoaquiM Redig deram origem a expressão “design mata”,  depois de um acidente no ônibus do Rio de janeiro, onde um usuário carregava fogos de artifício que passaram a explodir em razão do calor. No desespero, os passageiros tentaram fugir e foram impedidos pelas catracas. Algumas pessoas morreram pisoteadas e prensadas, por causa da má distribuição e planejamento das catracas no interior do ônibus.

Na época do acidente, entrava-se no ônibus pela traseira e saia pela dianteira, para evitar que os passageiros não pagassem a passagem havia uma catraca na entrada e uma na saída. Numa situação extrema os passageiros não conseguíram sair pela porta dianteira, e pelo fato da catraca traseira não girar, os passageiros ficaram confinados dentro do ônibus. E o que isso tem a ver com design?

“É erro de design! Se o ônibus estivesse melhor projetado, nada disso teria acontecido. E alguém seria responsabilizado pelo incidente” – Ivens Fontoura 

Como nós falamos aqui, é importante pensar além do básico, e resolver problemas com soluções viáveis e praticas é o papel do designer. Quando isso não acontece da forma correta o usuário acaba prejudicado, pois as interfaces ruins são claramente dificultadores, assim como a falta de sinalização, ou ainda uma péssima hierarquia da informação. Mas essa interação é mais evidentemente perigosa no design de produtos, O design em todos círculos de atuação possui essa característica de interação perigosa, nem sempre ela a causa principal de fatalidades, mas num conjunto de fatores ela está lá. Algumas das situações a seguir são claramente formas de como o design nos afeta e pode ser fatal.

O crime de andar

Em 2010 Raquel Nelson, foi condenada por homicido pois após descer do onibus, ao atravessar uma avenida, seu filho de 4 anos se soltou da mão da mãe e foi atropelado. Isso não faz sentido né?

Basicamente a prefeitura alegou que a causa do acidente foi ela atravessar a rua fora do lugar correto, consequentemente a criança foi morta por culpa da mãe (mesmo com o motorista estando alcoolizado). Se você não tem problemas com inglês mais informações nesse video .
Mas aonde entra o design nesse caso?

Design urbano e planejamento, o ponto de ônibus fica a cerca de meio km da passarela mais próxima, e o prédio dela ficava exatamente do outro lado. Você pode estar pensando que isso é olhar pra nuvem, e arranjar um culpado errado, mas pare pra perceber na quantidade de pessoas que exatamente após saltar do ônibus atravessam a rua.

Os estudantes de urbanismo conhecem esse fenômeno como “caminhos de desejo” ( ou do original francês “chemins du désir”), é um fenomeno bem comum e facilmente observado em parques e gramados em geral.

"chemins du désir”

O soro e a vaselina

Esse não é um caso isolado, e não acontece somente com esses materiais, mas vamos pegar como exemplo o caso da menina Stephanie dos Santos Teixeira, de 12 anos, ao ser internada num hospital em São Paulo ao invez de receber soro na veia recebeu uma injeção de vaselina, o que resultou no seu falecimento. Pode até parecer um erro grotesco se olharmos superficialmente mas acredito que uma imagem possa dizer mais:

Frascos com soro (esq.) e vaselina líquida

Nesse caso acredito que fica mais evidente quanto o design pode influenciar, não existe nenhuma diferenciação nos frascos dos produtos, altura, textura, cor da tampa. Além disso os líquidos são idênticos a olho nu. A unica diferenciação está no rotulo, que, basicamente, está escrito o que são. Nesse caso apenas uma aplicação de cor na embalagem, ou no rotulo, poderia salvar pelo menos uma vida,  e não aumentaria o custo de produção.

A eleição

Peço desculpas agora para ir mais longe ainda, durante as eleições presidenciais estadunidenses de 2000, uma falha de designers pode ter custado a vida de muitos iraquianos, afegãos e outros países que acabaram por ser invadidos no futuro. Na Florida uma cedula diferenciada foi usada, com nomes em duas colunas e uma unica coluna para marcação, ela é conhecida como cédula borboleta (Butterfly ballot).

Basicamente essa cédula foi responsável por uma grande confusão e um caos bem relevante nas eleições, que levaram a recontagem e uma eterna duvida. Mas na pratica (segundo a CNN link em inglês) custou a candidatura de Al Gore e o consequente duplo mandato de G. W. Bush.

Estes são apenas alguns exemplos de como uma falha de design pode acarretar sérios problemas e como isso pode influenciar o cotidiano das pessoas. Isso tudo pode até gerar discussões com relação a nomenclatura, e algumas pessoas podem por exemplo falar que os culpados são outros, mas o fato é, que o trabalho do designer está diretamente ligado a esses e outros erros que não necessariamente são fatais, mas podem ser.

E vocês, tem algum exemplo diferente? ou vocês não acham que design mata?!

Thiago Grossmann

Thiago Grossmann

Estudante de Design Gráfico na UTFPR, membro fundador da Cliche. Nerd, inconformado, reclamão e um tanto quanto ranzinza.

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