Os três níveis de design, parte 1: o design visceral
Donald Norman tem uma teoria de que nós, seres humanos, somos resultados de três diferentes níveis estruturais do cérebro: o nível visceral, que faz julgamentos rápidos – “é bom ou é ruim?”, “seguro ou perigoso?”- e é praticamente automático ou pré-programado. O nível comportamental envolve os processos cerebrais que controlam a grande maioria de nossas ações, como dirigir um carro, andar de bicicleta ou dançar. O nível reflexivo refere-se à compreensão, interpretação e raciocínio e à parte contemplativa do cérebro – é nesse nível que são processadas ações como apreciar uma obra de arte, torcer para um time de futebol ou sentir saudades de alguém.
Qual a relação dos estudos de Norman com o design? Segundo ele, esses três níveis trabalham juntos e estão intensamente ligados (o nível comportamental pode aperfeiçoar ou repreender o nível visceral, mas também pode ter suas ações influenciadas pelo nível superior, o reflexivo), além de serem identificados em nossas relações com os objetos, podendo ser “mapeados em termos de características de produto”, de acordo com Donald Norman. Empregando essa visão do cientista em nosso universo do design, temos “os três níveis de design”: Visceral, Comportamental e Reflexivo. O objetivo deste texto é abordar apenas o Design Visceral.
Quando achamos que alguma coisa é “bonitinha”, esse julgamento vem diretamente do nível visceral. Sabemos que no mundo do design a expressão “bonitinha” é geralmente reprovada, pois dá ao produto o significado de banal ou sem muita relevância, mas esse é o nível reflexivo do designer falando, tentando superar uma atração imediata (visceral). Como o profissional de design quer sempre ser conhecido como criativo, profundo ou imaginativo, projetar algo “bonitinho” ou “engraçadinho” acaba não sendo bem aceito, na maioria das vezes. Apesar disso, existe um lugar em nossas vidas para este tipo de coisa, por mais que sejam simples: não é difícil encontrar o design visceral na propaganda, no artesanato e em produtos infantis, objetos de criança, roupas e móveis que refletem alguns princípios viscerais, como cores primárias, alegres e saturadas. Por mais que tais criações não sejam obras de arte, acabam sendo atrativas, prazerosas de se ver.
No nível visceral do cérebro, aspectos físicos como aparência, toque e som, são dominantes. Por isso, fatores como beleza, limpeza e estética são fundamentais: a porta do carro que é firme e quase não produz som ao ser fechada, o som poderoso e singular da descarga de uma moto Harley Davidson – são exemplos simples que comprovam a nossa adoração pelas curvas, superfícies, sons, objetos sólidos e robustos.
Abrangendo as reações iniciais, o primeiro impacto causado por um produto, o design visceral pode ser percebido de maneira muito fácil, simplesmente colocando as pessoas diante de um design e esperando pelas reações. Na melhor da hipóteses, a reação visceral à aparência funciona tão bem, que as pessoas olham e em seguida dizem coisas do tipo “eu quero isso!”, e só mais tarde perguntam sobre o valor do produto ou qual a função dele. A Apple descobriu isso quando lançou o iMac colorido: mesmo tendo o mesmo hardware e software dos outros modelos, a versão colorida do computador acabou vendendo muito mais. Tudo está na aparência.
Conclusão
O design visceral é totalmente relacionado ao impacto emocional direto, imediato: a forma, a cor, a sensação física, as texturas dos materiais e até o peso do produto são importantes. O objeto deve ser, de certa forma, “sensual” aos olhos da pessoa – deve passar uma sensação agradável e ter boa aparência. A aparência é muito importante e muitas vezes é o principal fator que influencia a compra do produto, e da mesma forma, produtos apreciados apenas pela função podem ser rejeitados pelo simples fato de não atraírem o consumidor pela sua estética.
Referências
- NORMAN, Donald A. Design Emocional – Por que adoramos (ou detestamos) os objetos do dia-a-dia – Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
- http://www.ted.com/talks/don_norman_on_design_and_emotion.html
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