#01 A Informação no Transporte Público
Quem nunca precisou pedir informação no ponto de ônibus? Mesmo aquelas pessoas que possuem veículo próprio algum dia devem ter passado por uma experiência com o sistema de transporte de sua cidade, ou de alguma outra. E quem já conheceu outros países consegue facilmente comparar, consciente e inconscientemente, o transporte de lá com o de cá.
Assim, é possível concluir que o transporte coletivo no Brasil está defasado. Apesar das iniciativas dos governos na busca pela melhoria da qualidade deste serviço, a maior parte destas ações voltam-se ao aprimoramento do sistema operacional e não o informacional. O grande problema é que não adianta resolver um sem resolver o outro.
Problemas operacionais estão normalmente ligados à estrutura das vias de circulação e tráfego, número de veículos disponíveis para efetuar os deslocamentos, infraestrutura, frequência e contratação de funcionários, como motoristas, cobradores, fiscais, entre outros. Problemas informacionais estão relacionados ao entendimento geral do sistema pelo usuário. É uma área mais humana, que está ligada diretamente à compreensão e o uso efetivo deste sistema. Agora uma pergunta: De que adianta o sistema ser rápido e possuir uma boa estrutura de ônibus e vias se ele não oferece as informações necessárias, de forma organizada, para os usuários efetuarem um deslocamento eficiente?
Entendida a importância da informação para o uso de sistemas de transporte, agora vamos compreender como essa informação se organiza e se comporta através de seus elementos. Para realizar um deslocamento são necessários diversos aspectos. Um deles está relacionado às fases de uma jornada de transporte. Outro refere-se aos elementos presentes em cada uma destas fases.
Uma jornada por Transporte Público urbano, operado por ônibus, trem ou metrô, engloba, em geral, as seguintes etapas:
- Pré-trip: Percurso a pé da origem até o local de embarque. Exige planejamento prévio da viagem antes mesmo de efetuar o deslocamento propriamente dito;
- On-trip: Quando o usuário acessa o sistema e tem a possibilidade de rastrear seus movimentos para verificar se o deslocamento está sendo realizado conforme o programado. Consiste na entrada no sistema e realização de possíveis baldeações;
- End-trip: Caminhada do ponto de desembarque até o destino final. É a etapa de pós-uso do sistema.
Para garantir a qualidade do serviço de transporte prestado é necessário proporcionar aos usuários informações quanto a horários, linhas e percursos do ônibus. “A informação permite às pessoas planejarem e definirem seus deslocamentos e é um importante estágio de promoção do transporte coletivo” (PILON, 2009).
Quanto aos elementos de informação presentes em cada fase, têm-se algumas modalidades (Schein, 2003):
- Rotas: compreendem as linhas e os locais que o sistema cobre;
- Pontos de parada: são os locais disponíveis para embarque e desembarque de passageiros – ambientes de acesso ao sistema;
- Terminais: podem ser definidos como o ponto inicial e final do sistema e geralmente, compreende grande número de rotas.
Assim, entende-se que em todas as fases de uma jornada (pré-trip, on-trip e end-trip) é necessário a presença de elementos de comunicação visual para subsidiar o deslocamento dos usuários da rede. O Sistema de Informação Visual aos Usuários deve estar sempre presente para permitir que estes indivíduos (LANZONI; SCARIOT; SPINILLO, 2011):
- Identifiquem o mobiliário urbano como sendo um ponto de parada;
- Reconheçam as linhas de ônibus que ali param;
- Visualizem o trajeto completo de todas as linhas disponíveis a ele naquela parada;
- Visualizem todos os pontos de parada existentes durante o trajeto das linhas;
- Reconheçam o destino para sua viagem;
- Identifiquem o tempo de espera de seu ônibus;
- Nos destinos, possam informar-se sobre outras linhas disponíveis nas proximidades;
- Após o embarque em uma linha de ônibus, reavaliem o trajeto que pretende fazer;
- Monitorem o percurso realizado pelo ônibus, sendo possível identificar se seu ponto de desembarque está próximo ou não;
- Planejem durante a viagem de ida, sua viagem de volta;
- Ao desembarcar do ônibus, reconheçam sua localização geográfica na cidade e consigam se deslocar até seu destino final.
Portanto, para que um sistema de informação seja eficaz é necessário a presença de elementos de composição visual, agindo a favor da legibilidade e hierarquia da informação. Procura-se então identificar quais e como estes elementos podem ser encontrados em sistemas de informação em transporte público. A seguir, serão demonstrados exemplos ilustrativos de 05 itens referentes a composição das informações no transporte público coletivo: Organização de Sistemas, Identidade Visual, Cor, Tipografia e Símbolos/Pictogramas (conforme estudos realizados por Amanda Maia e Cristiele Scariot).
- ORGANIZAÇÃO DE SISTEMAS: Corresponde em como o sistema é organizado. Pode ser através de zonas (zona central, perimetral…), regiões (Norte, Sul, Leste, Oeste – RMTC Goiânia), por tipo de serviço (alimentador de região, expressos… – RIT Curitiba), por numeração de ruas, bairros e zonas (Transantiago), ou até mesmo por códigos de cores (Buenos Aires).
- IDENTIDADE VISUAL: É o que identifica um sistema. Deve ser formada por um conjunto de valores objetivos e subjetivos, que se somam a partir de cada interação entre usuário e serviço. Normalmente é composta por nome, marca, cor, família tipográfica e em alguns casos, elementos auxiliares (como texturas, pictogramas, símbolos etc.).
- COR: O uso de cores em sinalização tem dois papéis importantes: a criação de identidade para o sistema e suas subdivisões e a setorização e segmentação das informações contidas nas peças desse sistema. Sistemas de informação devem explorar as cores da identidade para criar uma unidade visual da rede de transporte. Um exemplo disso é o Subte em Buenos Aires, que divide as principais linhas em cores distintas e explora essas cores para organizar e auxiliar o usuário na identificação das estações.
- TIPOGRAFIA: O objetivo da tipografia é dar ordem estrutural e forma à comunicação impressa. Em uma sinalização para orientação, como em peças gráficas informativas em geral, uma composição tipográfica deve ser legível e envolvente, considerando o contexto em que é lido e os objetivos da sua aplicação. Constantemente utiliza-se a hierarquia para organizar a informação, como por exemplo, o uso de itálico, negrito, diferenciação de formatos, tamanhos e alinhamentos. Nos exemplos a seguir é possível perceber a constante presença de tipos simples, sem serifas e o uso de caixa baixa, que facilitam a leitura das placas. Frutiger e Helvetica são tipos constantemente encontrados em sinalização de transporte.
- SÍMBOLOS/PICTOGRAMAS: Símbolos são elementos que substituem as palavras e tem intenção de comunicar (podem ser utilizados sozinhos ou com recurso de legendas). São utilizados para conservar o espaço e porque em algumas situações eles comunicam mais do que as próprias palavras. Em sistemas de sinalização são geralmente simplificados na linguagem de pictogramas, sendo que, para o desenvolvimento deste tipo de material existem algumas padronizações internacionais, como os conjuntos de pictogramas desenvolvidos pela AIGA/DOT, SEGD e ISO.
Neste post não se quis dizer que o Design dos Sistemas de Informação Visual aos Usuários do transporte vistos são adequados ou inadequados, mas que eles apresentam informações suficientes e relevantes para que um indivíduo consiga realizar todo o seu deslocamento de forma eficiente, chegando ao seu destino final sem grandes dificuldades. Além disso, a maioria deles também apresenta Identidade Visual, tratando de seus elementos gráficos de maneira padronizada e integrada.
Alguns estudos também tratam sobre o tema “Informação no Transporte” e analisam mais a fundo esta relação. Este artigo idealizado por estudantes de Design a UFPR trata sobre a demanda de informação dos usuários em transporte público. Neste outro artigo outra são apresentadas algumas soluções para o problema da falta de informação no transporte público de Porto Alegre. Um estudo similar sobre este sistema é exposto neste link e ilustra bem a realidade de diversas cidades brasileiras que apresentam deficiência e escassez de informação em pontos e terminais.
Referências
- LANZONI, C. ; SCARIOT, C. A. ; SPINILLO, C. G. . O processo de orientação espacial e as necessidades informacionais de um usuário do transporte público. In: 5 CONGIC – Congresso Nacional de Iniciação Científica em Design da Informação, 2011, Florianópolis. 5 Congresso Internacional de Design da Informação, 2011.
- LANZONI, C. ; SCARIOT, C. A. ; SPINILLO, C. G. . Sistema de informação de transporte público coletivo no Brasil: algumas considerações sobre demanda de informação dos usuários em pontos de parada de ônibus. Infodesign (SBDI. Online), v. 8, p. 54-63, 2011.
- LARICA, N. J. Design de Transportes: Arte em função da mobilidade. 1a. Edição. Editora 2AB. PUC, Rio de Janeiro, 2003.
- PILON, José Aguilar. Sistema de Informação ao Usuário do Transporte Coletivo por Ônibus na Cidade de Vitória – ES. UTFPR. Dissertação de Mestrado. UTFPR, Ponta Grossa, 2009.
- RUETSCHI, Urs-Jakob; TIMPF, Sabine. Modelling Wayfinding in Public Transport: Network Space and Scene Space. Departament of Geography. University of Zurich, 2005.
- SCHEIN, A.L. Sistema de Informação ao usuário como estratégia de fidelização e atração. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção. UFRGS, Porto Alegre, 2003.
- URBS – Urbanização Curitiba S/A. Rede Integrada de Transporte (RIT), 2013. Disponível em: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/PORTAL/
- VASCONCELLOS, Eduardo A. Transporte Urbano, espaço e equidade: Análise das Políticas Públicas. 2ª. Edição. Annablume Editora, São Paulo, 2001.
Para quem quer ler mais
- FERNANDES, R. G. A. Componentes gráficos para um sistema de informação visual em terminais de integração metrô-ônibus. Dissertação de Mestrado em Transportes. Depto de Engenharia Civil e Ambiental. Universidade de Brasília. Brasília, 2007.
- LYNCH, Kevin. A imagem da Cidade. Coleção Mundo da Arte. Martins Fontes, São Paulo, 2010.
- ROBBI, Claudia. Sitema para Visualização de Informações Cartográficas para Planejamento Urbano. Tese de Doutorado em Computação Aplicada. Ministério da Ciência e Tecnologia. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2000.
- SOMMAVILLA, Audrey. PADOVANI, Stephania. Avaliação de mapas de transporte coletivo em terminais urbanos de ônibus da cidade de Curitiba. In: Revista InfoDesign/Revista Brasileira de Design da Informação. v.06, n. 03, p. 24-37. 2009.
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