Design down The Wall!
Ontem se encerrou a turnê The Wall Live de Roger Waters (ex-líder da banda Pink Floyd) no Brasil. Um show completo que combina consagradas músicas com um espetáculo visual único. A matéria de hoje discorre sobre a íntima relação da banda com o design e a idealização de um dos mais completos espetáculos musicais já produzidos.
O show é uma estonteante combinação de elementos visuais e música
The Wall, um álbum de 1979 escrito por Waters, utilizou a polêmica sobre o muro de Berlim para contextualizar o ouvinte no mundo hostil onde se passa uma narrativa baseada em fatos da vida do próprio artista.
Com capas de discos conceituais e bem executadas, o Pink Floyd sempre teve uma relação muito profunda com o design gráfico, tendo preferência a um determinado gênio, chamado Storm Thorgerson. Profissional irreverente e criativo possui em seu impressionante portfólio diversas obras famosas:
No entanto, devido a brigas, The Wall foi o primeiro álbum desde “The Piper and the Gate” que a banda não creditou à Thorgerson. A ruptura com o designer ocasionou inicialmente em uma capa de CD um tanto simples e vazia, se comparada com as do “The Dark Side Of The Moon”, “Atom heart Mother” e “Wish you were here”. Em contrapartida, o disco abriu as portas da visão da banda ao cartunista britânico Gerald Scarfe, que entraria para a história como diretor de animação do filme “The Wall”.
O filme “The Wall” – uma exemplar tradução de sentimentos agônicos em elementos gráficos, ritmo e movimento – popularizou-se rapidamente entre jovens do início da década 80 pelo seu caráter político-revolucionário.
O disco, o filme e a turnê de shows, eram todos ligados por uma incansável ambição de Waters entrar para história. A turnê que percorre o Brasil nessa semana é o “remake” da original, envolvendo uma série de elementos novos e muito mais tecnologia.
Estima-se que a turnê The Wall Live é a maior e mais ambiciosa já produzida, com um investimento aproximado de 100 milhões de reais.
A primeira impressão acerca do cenário armado para o show; é grande
Um palco monumental, que possui como fachada um muro branco em construção com dimensões superiores à 60 por 20 metros, são à recepção. Houve um massivo investimento na produção de animações e Motion Design, que durante o show foram reproduzidos sobre a superfície da parede por seis potentes projetores.
Como era de esperar, o design dos elementos visuais transcendeu a tela, muitas vezes misturando-se e interagindo com objetos e pessoas. Logo no início do show, acompanhando os efeitos sonoros presentes na música “In The Flesh”, um avião cruza o estádio e colide com o Muro, gerando labaredas incandescentes que praticamente dizem aos fãs que podem esperar muitas surpresas do show.
A própria tela de projeção (o muro) é um elementos que se transforma. Do início ao intervalo do show, diversos figurantes adicionam tijolos ao muro. Ao terminarem, trancam apenas Waters para o lado de fora do palco. Nessa etapa os idealizadores do show conseguiram alcançar o ápice do êxtase dos espectadores, combinando as músicas com surpreendentes animações.
No apogeu da música “Confortably Numb”, Waters bate no muro com suas duas mãos, interrompendo um vértice infinito de tijolos monocromáticos empilhados com uma explosão de cores e energia. O vídeo abaixo, gravado por um espectador, é iniciado exatamente no momento, confira:
Além do trabalho investido em computação e alta tecnologia, foram criadas duas marionetes seguindo os desenhos originais de Gerald Scarfe. Ambas dançam e interagem com músicos no palco, enfatizando as músicas em que Waters relata angústias de sua infância provenientes da opressão de sua Esposa e Professor.
Como já de praxe em turnês de Waters e Pink Floyd, o porco alado da capa do álbum Animals, faz sua aparição no show. Em uma versão negra e com dentes ressaltados, o visual agressivo é complementado com intervenções urbanas e irônicas mensagens de “confiem em nós”, que criticam a nosso relacionamento ao próximo, perante as diversas formas de alienação do estado e grandes corporações sobre a população.
Por mais que apresente um caráter poético crítico genial, o impacto social do álbum The Wall só foi possível devido à sábia decisão de seus idealizadores em alinhá-lo com uma narrativa visual que enfatiza sua mensagem. No show torna-se ainda mais evidente a importância de pessoas que foram capazes de se livrar do óbvio para atingirem o difícil objetivo de sensibilizar multidões.
Para nós designers, além de toda a emoção que os espetáculos pretendem causar, ao presenciar eventos como o show The Wall Live, temos mais ganho;
“um acréscimo único ao repertório pessoal, capaz de expandir a nossa percepção sobre o que é possível ser alcançado com o nosso trabalho”.
Se você não pode ir no show, mas está curioso pelo espetáculo. No youtube tem muitos trechos gravados. Fica de brinde a música mais famosa do álbum:
Another Brick in The Wall – Roger Waters; The Wall Live
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