Geração X Y Z e suas heranças estéticas na Moda – Final

Por Henrique Cabral

A única coisa que nunca muda, é que tudo muda! – I Ching

Em todos os textos da série sobre as gerações e suas heranças estéticas eu frisei que o avanço tecnológico e a rapidez da comunicação foram cruciais para a difusão do pensamento e da cultura responsáveis pelo surgimento das mais diferentes tribos ao longo da história. Reiterando isto mais uma vez, acrescento que os anos 2000 foram sem dúvida alguma sui generis para toda uma mudança de cenário global no que se refere à expansão e absorção de cultura e comportamento.

Isto porque o ato de compartilhar se tornou uma regra para as gerações que dominavam a tecnologia nesta década. As gerações Y, Z, os Millenials, adultos ou nascidos durante este período se encontram imersos num mundo em que aquele que não compartilha seus gostos, suas descobertas, seu estado de espírito fica excluído “do momento”, fica no passado.

Exatamente pela comunicação (quase) ilimitada e a facilidade de compartilhamento de informação nos mais diferentes formatos (texto, vídeo, imagem), os anos 2000 permitiram não só que houvesse um resgate histórico e uma distribuição destes materiais, o que seria quase impossível em décadas anteriores, quanto uma miscigenação cultural sem precedentes. Podemos perceber isto quando analisamos bandas e artistas multiétnicos que obtiveram sucesso a partir dos anos 2000 por terem estas características, como Gogol Bordello, Ladytron e Manu Chao. De qualquer forma, o que importa nestes exemplos é que o mundo viu de forma incontrolável uma quebra de barreiras e paradigmas não vistos com tanta rapidez em outras décadas por falta de tecnologia.

É claro que os anos 2000 criaram suas próprias tribos, pois como podemos perceber desde o início desta série de textos, é natural do ser humano se reunir com aqueles que lhe são “mais semelhantes” e formar grupos, e nesta década não foi diferente!

 

Indies

O termo indie se refere à contração da palavra “Independent”. Embora em voga desde a década de 80 para se referir à produções musicais ou audio-visuais de artistas independentes, foi nos anos 2000 que o estilo surgiu como forma de identificar o grupo que se formava em torno destas bandas/artistas. Embora este tipo de arte sempre tenha existido, sem dúvida alguma foi devido a plataformas como Last.fm, MySpace e Youtube que elas elas puderam atingir pessoas em todo o globo terrestre e se tornado tão característicos.

OK GO

Os Indies dos anos 2000 foram o precursores do conceito de Hipster dos anos 2010. Uma vez que a moda sempre nasce de um indivíduo ou de um um nicho que se torna referência, a característica dos Indies de sempre saberem de novidades que estivessem disponíveis na rede os fazia serem facilmente identificados assim.

 

Emos

Nascidos do loop dos 20 anos, foram a tribo que resgatou características melódicas e góticas dos anos 80. Ao invés de ouvir bandas como The Cure e Joy Division, novas bandas surgiam carregadas de letras sobre a dificuldade de adequação, amores impossíveis e dores e angústias da adolescência. O Emocore a exemplo do Punk tinha na estética um tipo de crítica social que visava ser agressivo e subversivo a ponto de não poder ser ignorado mas desejava acima de tudo ser respeitado.

As letras musicais das bandas emo tinham muitas vezes como tema a questão da sensibilidade nos relacionamentos e o fato de que não se deveria ter vergonha na demonstração destes sentimentos, motivo pelos quais muitos adeptos do estilo (principalmente os do sexo masculino) sofriam perseguições por terem um comportamento distinto do padrão normativo da sociedade.

 

Geeks

Não lembro quem disse certa vez que o “Geek é o Nerd Cool”. Creio que quem quer que tenha dito isto estava completamente certo.
Desde a popularização do termo nerd como sinônimo de viciados em tecnologia, estudos, séries de ficção e games, o termo nerd havia ficado relacionado a pessoas que mesmo tendo um alto Q.I. possuiam um Q.E. baixo (quoeficiente emocional), com algumas dificuldades de relacionamento e interação social.No entanto, o sucesso destes neofilos como Bill Gates e Steve Jobs, entre outros fundadores de grandes empresas de tecnologia (nerds em sua maioria) haviam se tornado celebridades, haviam se tornado bilionários.

Neste novo mundo em que quem detêm o  poder é quem detêm o conhecimento, os nerds passaram a ser mais valorizados.

Com a tecnologia e suas linguagens tão simplificadas atualmente, muitos desenvolvedores, designers e gestores fogem do estereótipo antigo do nerd e geek passou a ser utilizado mais amplamente. O Geek portanto é o nerd antenado, que têm bom gosto, sai, sociabiliza e se veste bem (se é que há consenso sobre isto), bem sucedido, ou no mínimo feliz com o que têm.

 

Retrô

Embora o termo se refira a tudo que é antigo, ouve um momento nos anos 2000 em que todos se voltaram para o passado e buscaram referências para tudo, da moda à eletrodomésticos, de vestidos a fogões, tudo aquilo tivesse características do passado era visto como de melhor qualidade, nem que esta qualidade fosse só referente ao layout do produto, mas trazia consigo a imagem de um tempo em que as coisas eram feitas para durar, fosse um objeto ou um relacionamento.

A maior expressão desta onda que surgiu nos anos 2000 foi sem dúvida Amy Winehouse. Com seu penteado, roupas, atitudes mas principalmente com seu gosto musical focado em Jazz e Blues dos anos 60, Amy Winehouse criou toda uma cultura do resgate ao passado fazendo inclusive com que outros artistas aderissem ao estilo como The Last Shadow Puppets, Duffy e Dionne Bromfield. Sua imagem e a revolução que ela causou foi tamanha que e alterou o próprio design e a publicidade.

Mas se prestarmos bastante atenção, no dia-a-dia em nossa rua, prédio, trabalho, pouco veremos destas tribos citadas nestes 5 textos. Isto se deve a pulverização delas atualmente. Com um pouco de paciência ( e é claro, se houver “curiosidade) podemos encontrar muitos lugares onde uma ou outra destas identidades citadas podem ser encontradas em maior número. Isto porque os grupos, tribos ou subculturas não ficam mais restritos a um território, e seus integrantes conseguem se encontrar e se reunir através das redes sociais e canais específicos.

Além disto, hoje em dia para se fazer parte de um grupo não é necessário se igualar ao todo. Os movimentos são criados por mentes criativas distintas e complementares, portanto ser igual a todos é que se tornou um problema, pois dificulta, senão impede completamente a inovação, interação, miscigenação  e consequentemente a evolução.

Henrique Cabral

Henrique Cabral

Produtor Executivo e Gráfico de Moda tendo produzido campanhas no Brasil e no Exterior. Acredita que o vestuário é uma das das formas de comunicação não verbal mais fortes da sociedade.

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Por Henrique Cabral

A única coisa que nunca muda, é que tudo muda! – I Ching

Em todos os textos da série sobre as gerações e suas heranças estéticas eu frisei que o avanço tecnológico e a rapidez da comunicação foram cruciais para a difusão do pensamento e da cultura responsáveis pelo surgimento das mais diferentes tribos ao longo da história. Reiterando isto mais uma vez, acrescento que os anos 2000 foram sem dúvida alguma sui generis para toda uma mudança de cenário global no que se refere à expansão e absorção de cultura e comportamento.

Isto porque o ato de compartilhar se tornou uma regra para as gerações que dominavam a tecnologia nesta década. As gerações Y, Z, os Millenials, adultos ou nascidos durante este período se encontram imersos num mundo em que aquele que não compartilha seus gostos, suas descobertas, seu estado de espírito fica excluído “do momento”, fica no passado.

Exatamente pela comunicação (quase) ilimitada e a facilidade de compartilhamento de informação nos mais diferentes formatos (texto, vídeo, imagem), os anos 2000 permitiram não só que houvesse um resgate histórico e uma distribuição destes materiais, o que seria quase impossível em décadas anteriores, quanto uma miscigenação cultural sem precedentes. Podemos perceber isto quando analisamos bandas e artistas multiétnicos que obtiveram sucesso a partir dos anos 2000 por terem estas características, como Gogol Bordello, Ladytron e Manu Chao. De qualquer forma, o que importa nestes exemplos é que o mundo viu de forma incontrolável uma quebra de barreiras e paradigmas não vistos com tanta rapidez em outras décadas por falta de tecnologia.

É claro que os anos 2000 criaram suas próprias tribos, pois como podemos perceber desde o início desta série de textos, é natural do ser humano se reunir com aqueles que lhe são “mais semelhantes” e formar grupos, e nesta década não foi diferente!

 

Indies

O termo indie se refere à contração da palavra “Independent”. Embora em voga desde a década de 80 para se referir à produções musicais ou audio-visuais de artistas independentes, foi nos anos 2000 que o estilo surgiu como forma de identificar o grupo que se formava em torno destas bandas/artistas. Embora este tipo de arte sempre tenha existido, sem dúvida alguma foi devido a plataformas como Last.fm, MySpace e Youtube que elas elas puderam atingir pessoas em todo o globo terrestre e se tornado tão característicos.

OK GO

Os Indies dos anos 2000 foram o precursores do conceito de Hipster dos anos 2010. Uma vez que a moda sempre nasce de um indivíduo ou de um um nicho que se torna referência, a característica dos Indies de sempre saberem de novidades que estivessem disponíveis na rede os fazia serem facilmente identificados assim.

 

Emos

Nascidos do loop dos 20 anos, foram a tribo que resgatou características melódicas e góticas dos anos 80. Ao invés de ouvir bandas como The Cure e Joy Division, novas bandas surgiam carregadas de letras sobre a dificuldade de adequação, amores impossíveis e dores e angústias da adolescência. O Emocore a exemplo do Punk tinha na estética um tipo de crítica social que visava ser agressivo e subversivo a ponto de não poder ser ignorado mas desejava acima de tudo ser respeitado.

As letras musicais das bandas emo tinham muitas vezes como tema a questão da sensibilidade nos relacionamentos e o fato de que não se deveria ter vergonha na demonstração destes sentimentos, motivo pelos quais muitos adeptos do estilo (principalmente os do sexo masculino) sofriam perseguições por terem um comportamento distinto do padrão normativo da sociedade.

 

Geeks

Não lembro quem disse certa vez que o “Geek é o Nerd Cool”. Creio que quem quer que tenha dito isto estava completamente certo.
Desde a popularização do termo nerd como sinônimo de viciados em tecnologia, estudos, séries de ficção e games, o termo nerd havia ficado relacionado a pessoas que mesmo tendo um alto Q.I. possuiam um Q.E. baixo (quoeficiente emocional), com algumas dificuldades de relacionamento e interação social.No entanto, o sucesso destes neofilos como Bill Gates e Steve Jobs, entre outros fundadores de grandes empresas de tecnologia (nerds em sua maioria) haviam se tornado celebridades, haviam se tornado bilionários.

Neste novo mundo em que quem detêm o  poder é quem detêm o conhecimento, os nerds passaram a ser mais valorizados.

Com a tecnologia e suas linguagens tão simplificadas atualmente, muitos desenvolvedores, designers e gestores fogem do estereótipo antigo do nerd e geek passou a ser utilizado mais amplamente. O Geek portanto é o nerd antenado, que têm bom gosto, sai, sociabiliza e se veste bem (se é que há consenso sobre isto), bem sucedido, ou no mínimo feliz com o que têm.

 

Retrô

Embora o termo se refira a tudo que é antigo, ouve um momento nos anos 2000 em que todos se voltaram para o passado e buscaram referências para tudo, da moda à eletrodomésticos, de vestidos a fogões, tudo aquilo tivesse características do passado era visto como de melhor qualidade, nem que esta qualidade fosse só referente ao layout do produto, mas trazia consigo a imagem de um tempo em que as coisas eram feitas para durar, fosse um objeto ou um relacionamento.

A maior expressão desta onda que surgiu nos anos 2000 foi sem dúvida Amy Winehouse. Com seu penteado, roupas, atitudes mas principalmente com seu gosto musical focado em Jazz e Blues dos anos 60, Amy Winehouse criou toda uma cultura do resgate ao passado fazendo inclusive com que outros artistas aderissem ao estilo como The Last Shadow Puppets, Duffy e Dionne Bromfield. Sua imagem e a revolução que ela causou foi tamanha que e alterou o próprio design e a publicidade.

Mas se prestarmos bastante atenção, no dia-a-dia em nossa rua, prédio, trabalho, pouco veremos destas tribos citadas nestes 5 textos. Isto se deve a pulverização delas atualmente. Com um pouco de paciência ( e é claro, se houver “curiosidade) podemos encontrar muitos lugares onde uma ou outra destas identidades citadas podem ser encontradas em maior número. Isto porque os grupos, tribos ou subculturas não ficam mais restritos a um território, e seus integrantes conseguem se encontrar e se reunir através das redes sociais e canais específicos.

Além disto, hoje em dia para se fazer parte de um grupo não é necessário se igualar ao todo. Os movimentos são criados por mentes criativas distintas e complementares, portanto ser igual a todos é que se tornou um problema, pois dificulta, senão impede completamente a inovação, interação, miscigenação  e consequentemente a evolução.

Henrique Cabral

Henrique Cabral

Produtor Executivo e Gráfico de Moda tendo produzido campanhas no Brasil e no Exterior. Acredita que o vestuário é uma das das formas de comunicação não verbal mais fortes da sociedade.

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