Ana Elisa Egreja

Por Bruna Bonifacio

Em dezembro de 2011, fui visitar o Instituto Tomie Ohtake (que aliás, quem não conhece, por favor, aproveite para conhecer), e dei a sorte de estar acontecendo a exposição “Os primeiros dez anos”.

Exposição essa que comemorava os dez anos de atuação do Instituto, com uma seleção de artistas que tiveram destaque em sua trajetória a partir dos anos 2000. Ricardo Ohtake, diretor do Instituto, afirmou que “… já se podem vislumbrar evidências, principalmente como a de um período de excepcional desempenho dos jovens artistas, nunca visto na história da arte brasileira”. Eu acredito que ele estava certo.

 

Poça

A primeira obra que vi na exposição foi a Poça, de Ana Elisa Egreja. Ficamos (eu e minha mãe) alguns bons minutos paradas na frente da tela observando todos os detalhes, a obra é imensa (200x300cm), feita em tinta óleo, e hiperrealista. É fascinante!

Ana realmente faz parecer uma fotografia em alta resolução, são tantos, mas tantos detalhes retratados perfeitamente, que você não sabe onde focar primeiro, e se surpreende a cada elemento novo que seu olhar encontra.

Poça, 2011, óleo sobre tela, 200x300cm

Poça, 2011, óleo sobre tela, 200x300cm

É uma composição de elementos inesperados, porém harmônicos. Ela te faz acreditar que tudo naquela sala faz sentido, que tem um porquê para a figurinha adesiva colada na janela de vidro, e que é possível a existência de vitória-régias com sapos em cima, em uma sala revestida com papel de parede antigo, na presença de alguns pássaros, borboletas e uma pipa voando. Tem até um peixinho-dourado, se você prestar atenção.

Depois dos primeiros (muitos) minutos, percorremos toda a exposição, mas no final, tive que voltar até a obra para apreciar mais um pouco aquele caos delicioso. Foi a partir daí que comecei a acompanhar os trabalhos da artista, e me surpreendi com as suas obras anteriores, que, além de lindíssimas e hiperrealistas, ainda contam com forte presença de elementos do Design de Superfície.

Pink Flamingos, 2008, óleo sobre tela, 200x150cm

Pink Flamingos, 2008, óleo sobre tela, 200x150cm

 

Design de superfície como inspiração

A maior parte de suas obras, tem como fundo, como elemento importante do cenário, ou como elemento de destaque, algum tipo de revestimento ou estampa. Ana declarou que se sente inspirada por vários artistas, lembranças de casas e locais que já visitou, e também por decoração, azulejos e estampas.

Podemos ver a textura têxtil (como a renda, por exemplo), estampas azulejadas, estampas em papéis de parede, almofadas, piso e parede, tapete, cortina, lençol, … , e tudo representado com uma riqueza de detalhes impressionante.

Por isso, no último post, quando procurei imagens do Sesc Pompéia, e encontrei uma que continha fotos de sua exposição no local (em 2009, Projeto Tripé), não resisti em torná-la imagem de capa. Era perfeita.

Ana Elisa Egreja

Ana Elisa Egreja

Ana Elisa Egreja

Paulista, nascida em 1983, convivia muito com bichos (todos com nomes próprios) em suas férias na fazenda no interior de São Paulo, e talvez, por isso, eles sejam personagens constantes em suas obras.

Ela desenha, e frequenta exposições desde pequena, quando adolescente teve a oportunidade de trabalhar como assistente da artista Marina Saleme em seu ateliê e foi “contaminada por aquele universo”, se envolvendo cada vez mais no mundo das artes até entrar na FAAP, onde se formou em Artes Plásticas, em 2005.

Processo de criação

Sua rotina de trabalho inclui, em média, 10 horas de pintura por dia. Não é à toa que suas obras chegam à excelência do hiperrealismo. Ela consegue esses resultados graças a muita pesquisa, disciplina e dedicação.

Meus 50 anos, 2010, óleo sobre tela, 180x240cm

Meus 50 anos, 2010, óleo sobre tela, 180x240cm

Ao ser questionada por Marcio de Oliveira Fonseca, sobre como descreveria sua obra, Ana respondeu:

” .. posso dizer que “pinto mundos inventados”, dentro do gênero “pintura de interior”. Faço um trabalho descritivo que acontece em duas etapas. A primeira é a construção do que pintar. Faço colagens de imagens de casas, animais e objetos vindas da internet e as manipulo no photoshop para construir mundos imaginátios, cenários oníricos que muitas vezes, na passagem para pintura, viram cenas freaks, seja pela luz desconexa, seja pela aparente falta de ligação entre as partes – Aparente, pois até um morango no canto da tela está lá por algum motivo, seja ele a falta de vermelho na pintura. Tento criar uma harmonia no excesso e às vezes a solução está num detalhe minúsculo que talvez só eu veja.”

Escada, 2011, óleo sobre tela, 160x130cm

Escada, 2011, óleo sobre tela, 160x130cm

 

Ênfase nas estampas

Na série de pinturas de 2009, intitulada Hunting Dogs, a artista retrata cachorros em cenários extremamente estampados, alguns mais realistas, assemelhando-se a um cenário interno de uma casa, enquanto outros são mais fantasiosos e se encontram em um cenário 3D, com ilusão de ótica.

Nessa série é possível visualizar de forma extremamente viva e detalhada, tanto a textura do pêlo (e penas) dos animais, quanto a textura e volume das padronagens. Em alguns casos, elas parecem quase se mesclar, e em outros, formam uma beleza única e caótica. De qualquer forma, há um destaque forte para a estamparia.

Guel, 2009, óleo sobre tela, 100x100cm

Guel, 2009, óleo sobre tela, 100x100cm

Ritz e Cildo [díptico], 2009, óleo sobre tela, 130x170cm

Ritz e Cildo [díptico], 2009, óleo sobre tela, 130x170cm

Bianca, 2009, óleo sobre tela, 120x120cm

Bianca, 2009, óleo sobre tela, 120x120cm

 

Mundos imaginários

A artista declarou que pinta ambientes utópicos, mundos imaginários, nos quais gostaria de estar por algum momento, e que a escala das obras, o fato delas serem enormes (em escala quase real), é por isso, assim, ela pode realmente se visualizar dentro desses cenários não-possíveis na vida real.

Ana disse em entrevista à revista Zupi, que para ela, ser artista é ter “uma profissão como as outras. A diferença é que você trabalha para si mesmo, segue o próprio briefing, define os próprios prazos e tem a liberdade de criar espontaneamente. Com o tempo, você começa a designar uma lógica pessoal e o trabalho começa a fluir melhor.”

Penteadeira, 2011, óleo sobre tela, 140x160cm

Penteadeira, 2011, óleo sobre tela, 140x160cm

Ano passado, Ana realizou sua primeira exposição no exterior, a Seven Artists from São Paulo, na CAB Contemporary Art, Bruxelas, Bélgica. E para esse ano, prepara exposição na Galeria Leme, em São Paulo. Fica então a dica, não percam a oportunidade de ver as suas obras pessoalmente, é uma experiência pra vida. As imagens mostradas aqui são lindas, mas não fazem justiça às obras ao vivo.

*Obra da Capa: Casa turca, 2011, óleo sobre tela, 200x280cm

 

Referências

Bruna Bonifacio

Bruna Bonifacio

Sou Paulista, estou Curitibana. Formada em Design pela UTFPR. Completamente apaixonada por Design de Superfície (de todo tipo). Pesquiso estamparia, texturas, arte contemporânea, arte urbana e afins, sob o ponto de vista do Design de Superfície.

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Ana Elisa Egreja

Por Bruna Bonifacio

Em dezembro de 2011, fui visitar o Instituto Tomie Ohtake (que aliás, quem não conhece, por favor, aproveite para conhecer), e dei a sorte de estar acontecendo a exposição “Os primeiros dez anos”.

Exposição essa que comemorava os dez anos de atuação do Instituto, com uma seleção de artistas que tiveram destaque em sua trajetória a partir dos anos 2000. Ricardo Ohtake, diretor do Instituto, afirmou que “… já se podem vislumbrar evidências, principalmente como a de um período de excepcional desempenho dos jovens artistas, nunca visto na história da arte brasileira”. Eu acredito que ele estava certo.

 

Poça

A primeira obra que vi na exposição foi a Poça, de Ana Elisa Egreja. Ficamos (eu e minha mãe) alguns bons minutos paradas na frente da tela observando todos os detalhes, a obra é imensa (200x300cm), feita em tinta óleo, e hiperrealista. É fascinante!

Ana realmente faz parecer uma fotografia em alta resolução, são tantos, mas tantos detalhes retratados perfeitamente, que você não sabe onde focar primeiro, e se surpreende a cada elemento novo que seu olhar encontra.

Poça, 2011, óleo sobre tela, 200x300cm

Poça, 2011, óleo sobre tela, 200x300cm

É uma composição de elementos inesperados, porém harmônicos. Ela te faz acreditar que tudo naquela sala faz sentido, que tem um porquê para a figurinha adesiva colada na janela de vidro, e que é possível a existência de vitória-régias com sapos em cima, em uma sala revestida com papel de parede antigo, na presença de alguns pássaros, borboletas e uma pipa voando. Tem até um peixinho-dourado, se você prestar atenção.

Depois dos primeiros (muitos) minutos, percorremos toda a exposição, mas no final, tive que voltar até a obra para apreciar mais um pouco aquele caos delicioso. Foi a partir daí que comecei a acompanhar os trabalhos da artista, e me surpreendi com as suas obras anteriores, que, além de lindíssimas e hiperrealistas, ainda contam com forte presença de elementos do Design de Superfície.

Pink Flamingos, 2008, óleo sobre tela, 200x150cm

Pink Flamingos, 2008, óleo sobre tela, 200x150cm

 

Design de superfície como inspiração

A maior parte de suas obras, tem como fundo, como elemento importante do cenário, ou como elemento de destaque, algum tipo de revestimento ou estampa. Ana declarou que se sente inspirada por vários artistas, lembranças de casas e locais que já visitou, e também por decoração, azulejos e estampas.

Podemos ver a textura têxtil (como a renda, por exemplo), estampas azulejadas, estampas em papéis de parede, almofadas, piso e parede, tapete, cortina, lençol, … , e tudo representado com uma riqueza de detalhes impressionante.

Por isso, no último post, quando procurei imagens do Sesc Pompéia, e encontrei uma que continha fotos de sua exposição no local (em 2009, Projeto Tripé), não resisti em torná-la imagem de capa. Era perfeita.

Ana Elisa Egreja

Ana Elisa Egreja

Ana Elisa Egreja

Paulista, nascida em 1983, convivia muito com bichos (todos com nomes próprios) em suas férias na fazenda no interior de São Paulo, e talvez, por isso, eles sejam personagens constantes em suas obras.

Ela desenha, e frequenta exposições desde pequena, quando adolescente teve a oportunidade de trabalhar como assistente da artista Marina Saleme em seu ateliê e foi “contaminada por aquele universo”, se envolvendo cada vez mais no mundo das artes até entrar na FAAP, onde se formou em Artes Plásticas, em 2005.

Processo de criação

Sua rotina de trabalho inclui, em média, 10 horas de pintura por dia. Não é à toa que suas obras chegam à excelência do hiperrealismo. Ela consegue esses resultados graças a muita pesquisa, disciplina e dedicação.

Meus 50 anos, 2010, óleo sobre tela, 180x240cm

Meus 50 anos, 2010, óleo sobre tela, 180x240cm

Ao ser questionada por Marcio de Oliveira Fonseca, sobre como descreveria sua obra, Ana respondeu:

” .. posso dizer que “pinto mundos inventados”, dentro do gênero “pintura de interior”. Faço um trabalho descritivo que acontece em duas etapas. A primeira é a construção do que pintar. Faço colagens de imagens de casas, animais e objetos vindas da internet e as manipulo no photoshop para construir mundos imaginátios, cenários oníricos que muitas vezes, na passagem para pintura, viram cenas freaks, seja pela luz desconexa, seja pela aparente falta de ligação entre as partes – Aparente, pois até um morango no canto da tela está lá por algum motivo, seja ele a falta de vermelho na pintura. Tento criar uma harmonia no excesso e às vezes a solução está num detalhe minúsculo que talvez só eu veja.”

Escada, 2011, óleo sobre tela, 160x130cm

Escada, 2011, óleo sobre tela, 160x130cm

 

Ênfase nas estampas

Na série de pinturas de 2009, intitulada Hunting Dogs, a artista retrata cachorros em cenários extremamente estampados, alguns mais realistas, assemelhando-se a um cenário interno de uma casa, enquanto outros são mais fantasiosos e se encontram em um cenário 3D, com ilusão de ótica.

Nessa série é possível visualizar de forma extremamente viva e detalhada, tanto a textura do pêlo (e penas) dos animais, quanto a textura e volume das padronagens. Em alguns casos, elas parecem quase se mesclar, e em outros, formam uma beleza única e caótica. De qualquer forma, há um destaque forte para a estamparia.

Guel, 2009, óleo sobre tela, 100x100cm

Guel, 2009, óleo sobre tela, 100x100cm

Ritz e Cildo [díptico], 2009, óleo sobre tela, 130x170cm

Ritz e Cildo [díptico], 2009, óleo sobre tela, 130x170cm

Bianca, 2009, óleo sobre tela, 120x120cm

Bianca, 2009, óleo sobre tela, 120x120cm

 

Mundos imaginários

A artista declarou que pinta ambientes utópicos, mundos imaginários, nos quais gostaria de estar por algum momento, e que a escala das obras, o fato delas serem enormes (em escala quase real), é por isso, assim, ela pode realmente se visualizar dentro desses cenários não-possíveis na vida real.

Ana disse em entrevista à revista Zupi, que para ela, ser artista é ter “uma profissão como as outras. A diferença é que você trabalha para si mesmo, segue o próprio briefing, define os próprios prazos e tem a liberdade de criar espontaneamente. Com o tempo, você começa a designar uma lógica pessoal e o trabalho começa a fluir melhor.”

Penteadeira, 2011, óleo sobre tela, 140x160cm

Penteadeira, 2011, óleo sobre tela, 140x160cm

Ano passado, Ana realizou sua primeira exposição no exterior, a Seven Artists from São Paulo, na CAB Contemporary Art, Bruxelas, Bélgica. E para esse ano, prepara exposição na Galeria Leme, em São Paulo. Fica então a dica, não percam a oportunidade de ver as suas obras pessoalmente, é uma experiência pra vida. As imagens mostradas aqui são lindas, mas não fazem justiça às obras ao vivo.

*Obra da Capa: Casa turca, 2011, óleo sobre tela, 200x280cm

 

Referências

Bruna Bonifacio

Bruna Bonifacio

Sou Paulista, estou Curitibana. Formada em Design pela UTFPR. Completamente apaixonada por Design de Superfície (de todo tipo). Pesquiso estamparia, texturas, arte contemporânea, arte urbana e afins, sob o ponto de vista do Design de Superfície.

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