Existe vida após a Helvetica?

Por Eduardo Dario

Se você acha que a conversa está monótona em um grupo onde haja designers, publicitários e profissionais da área, tente discutir sobre à relevância da Helvetica para o design moderno e contemporâneo. O assunto, há muito tempo, levanta opiniões, certas vezes fortes e extremistas sobre o peso visual, conceitual e cultural que está impregnado no uso da tipografia.

Há quem diga que a Helvetica foi a libertação e salvação do design das ultimas décadas, trazendo consigo a matemática aliada a um peso neutro que contrariava a crescente saturação visual e estilística presente antes de seu surgimento. Do outro lado, temos os defensores do design expressivo e emocional que julgam justamente a atmosfera neutra da tipografia como um aspecto negativo que deixa a Helvetica sem apelo e expressividade.

O fato é que a Helvetica tornou-se o maior ícone da vertente moderna do design e seus executores. Ela foi criada em 1957 pelos designers Max Miedinger e Eduard Hoffmann, que buscavam trazer ao mercado uma tipografia pensada e criada segundo os princípios modernistas, que oferecesse uma unidade visual e aspectos neutros que a fizessem funcionar sozinha, independentemente do contexto de design da peça gráfica que fosse aplicada. Por ser considerada mais legível e neutra, a Helvetica é amplamente utilizada na sinalização de sistemas de transporte pelo mundo.

Placa do metrô de Nova Iorque

Placa do metrô de Nova Iorque

Muito amada e igualmente copiada, a Helvetica ganhou diversas “sósias” mundo afora, que derivam de seu estilo tipográfico.

Comparação visual entre Helvetica e Arial

Comparação visual entre Helvetica e Arial

Mas não nos atenhamos aos aspectos técnicos e conceituais da tipografia. Falar sobre a Helvetica e observar os pontos levantados por seus defensores e por aqueles que a criticam, nos leva a pensar sobre as diversas maneiras nas quais o design é produzido, conceituado e interpretado e sobretudo, analisar as influências e predominâncias estilísticas que permeiam a produção gráfica mundial.

Para quem defende o design expressivo e pregnante, a Helvética representa a falta de tempero em um projeto gráfico. Suas curvas nada mais dizem do que o conteúdo sintático do que está escrito. A fonte não agrega emoção ao design e isso é maléfico quando o que se pretende é causar impacto e chamar a atenção para um cartaz, anúncio ou uma marca por exemplo. Existem propostas que só encontram-se bem resolvidas, quando aliadas a letterings ou tipografias mais expressivas e artísticas.

Atelier Martino e Jaña - Portugal

Atelier Martino e Jaña – Portugal

Sean Freeman - Estados Unidos

Sean Freeman – Estados Unidos

Os extremismos nas opiniões levantadas sobre questões estilísticas podem até serem divertidos ou servirem de combustível para discussões acaloradas em bares ou em um happy hour entre profissionais da área. Mas que fique por aí. O design não pode e não deve perder sua grande variedade estilística, que é facilmente vista quando observamos as diferenças entre a produção de design entre países ou regiões de um mesmo país.

Com a crescente monopolização dos grandes grupos, as empresas, cada vez mais adotam marcas genéricas e unificadas que acabam por empobrecer a riqueza gráfica presente no cotidiano da grande maioria da população.

Alguns sites bem humorados, trazem ironia acerca destas discussões, mostrando exemplos de design vernacular ao lado de uma suposta “melhor opção”, com Helvetica, para variar.

tryhelvetica.tumblr.com

tryhelvetica.tumblr.com

Importante é considerar e reforçar que o design admite e comporta uma grande quantidade de estilos e conceitos. E quando usados com bom senso, tanto a matematica modernista ou a expressividade artística produzem efeitos satisfatórios que agregam valor a um projeto gráfico.

Retomo o que disse no início do texto: falar sobre a Helvetica realmente pode acender uma discussão, mas se mesmo assim a monotonia resistir, tente compara-lá com a Comic Sans. Aviso que talvez seja arriscado.

Eduardo Dario

Eduardo Dario

Paranaense, 18 anos. Estudante de Design Gráfico da UTFPR e amante de todas as formas de arte. Produtor de conteúdo do Algures 8, irá escrever mensalmente sobre temas relacionados ao evento.

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Existe vida após a Helvetica?

Por Eduardo Dario

Se você acha que a conversa está monótona em um grupo onde haja designers, publicitários e profissionais da área, tente discutir sobre à relevância da Helvetica para o design moderno e contemporâneo. O assunto, há muito tempo, levanta opiniões, certas vezes fortes e extremistas sobre o peso visual, conceitual e cultural que está impregnado no uso da tipografia.

Há quem diga que a Helvetica foi a libertação e salvação do design das ultimas décadas, trazendo consigo a matemática aliada a um peso neutro que contrariava a crescente saturação visual e estilística presente antes de seu surgimento. Do outro lado, temos os defensores do design expressivo e emocional que julgam justamente a atmosfera neutra da tipografia como um aspecto negativo que deixa a Helvetica sem apelo e expressividade.

O fato é que a Helvetica tornou-se o maior ícone da vertente moderna do design e seus executores. Ela foi criada em 1957 pelos designers Max Miedinger e Eduard Hoffmann, que buscavam trazer ao mercado uma tipografia pensada e criada segundo os princípios modernistas, que oferecesse uma unidade visual e aspectos neutros que a fizessem funcionar sozinha, independentemente do contexto de design da peça gráfica que fosse aplicada. Por ser considerada mais legível e neutra, a Helvetica é amplamente utilizada na sinalização de sistemas de transporte pelo mundo.

Placa do metrô de Nova Iorque

Placa do metrô de Nova Iorque

Muito amada e igualmente copiada, a Helvetica ganhou diversas “sósias” mundo afora, que derivam de seu estilo tipográfico.

Comparação visual entre Helvetica e Arial

Comparação visual entre Helvetica e Arial

Mas não nos atenhamos aos aspectos técnicos e conceituais da tipografia. Falar sobre a Helvetica e observar os pontos levantados por seus defensores e por aqueles que a criticam, nos leva a pensar sobre as diversas maneiras nas quais o design é produzido, conceituado e interpretado e sobretudo, analisar as influências e predominâncias estilísticas que permeiam a produção gráfica mundial.

Para quem defende o design expressivo e pregnante, a Helvética representa a falta de tempero em um projeto gráfico. Suas curvas nada mais dizem do que o conteúdo sintático do que está escrito. A fonte não agrega emoção ao design e isso é maléfico quando o que se pretende é causar impacto e chamar a atenção para um cartaz, anúncio ou uma marca por exemplo. Existem propostas que só encontram-se bem resolvidas, quando aliadas a letterings ou tipografias mais expressivas e artísticas.

Atelier Martino e Jaña - Portugal

Atelier Martino e Jaña – Portugal

Sean Freeman - Estados Unidos

Sean Freeman – Estados Unidos

Os extremismos nas opiniões levantadas sobre questões estilísticas podem até serem divertidos ou servirem de combustível para discussões acaloradas em bares ou em um happy hour entre profissionais da área. Mas que fique por aí. O design não pode e não deve perder sua grande variedade estilística, que é facilmente vista quando observamos as diferenças entre a produção de design entre países ou regiões de um mesmo país.

Com a crescente monopolização dos grandes grupos, as empresas, cada vez mais adotam marcas genéricas e unificadas que acabam por empobrecer a riqueza gráfica presente no cotidiano da grande maioria da população.

Alguns sites bem humorados, trazem ironia acerca destas discussões, mostrando exemplos de design vernacular ao lado de uma suposta “melhor opção”, com Helvetica, para variar.

tryhelvetica.tumblr.com

tryhelvetica.tumblr.com

Importante é considerar e reforçar que o design admite e comporta uma grande quantidade de estilos e conceitos. E quando usados com bom senso, tanto a matematica modernista ou a expressividade artística produzem efeitos satisfatórios que agregam valor a um projeto gráfico.

Retomo o que disse no início do texto: falar sobre a Helvetica realmente pode acender uma discussão, mas se mesmo assim a monotonia resistir, tente compara-lá com a Comic Sans. Aviso que talvez seja arriscado.

Eduardo Dario

Eduardo Dario

Paranaense, 18 anos. Estudante de Design Gráfico da UTFPR e amante de todas as formas de arte. Produtor de conteúdo do Algures 8, irá escrever mensalmente sobre temas relacionados ao evento.

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