Esquizofrenia, criatividade artística e bolinhas coloridas.

Por Isabela Fuchs

Alimentar-se do mal que há dentro de si e regurgitar obras de arte originais, íntimas e complexas é algo natural. Mais do que isso; é lindo. Não gosto de análises superficiais em relação à vida do artista com sua obra baseando-se em fatos da vida particular que não fazem sentido (Frida corna, Van Gogh gay, etc) mas relevo um pouco quando se trata de transtornos psiquiátricos porque fazem muito mais sentido. Considero um fato que os sofrimentos amorosos da Frida Kahlo fizeram o seu conjunto de obras muito primoroso, mas também acho que se ela não tivesse tido casos extreconjugais e sofrido horrores com o Rivera, ela também teria sido uma artista do nível que ela foi. Arte não é revista de fofoca e certas coisas não devem ser levadas tão em consideração quanto ao acervo do artista. Opinião pessoal.

Retornando aos transtornos psiquiátricos: um dos transtornos mais complexos e interessantes é a esquizofrenia, principalmente se for relacionada com a criatividade. O esquizofrênico cria uma espécie de universo paralelo irreal ao seu redor, isento de uma dose de realidade. Ou seja, interpretam o mundo de uma maneira totalmente diferente de quem não sofre com essa doença. Ou ainda!; supervalorizam aspectos da realidade mundana que passam despercebidas, sutilezas. Lógico, esse não é um caso de esquizofrenia extremamente mórbida, mas a excentricidade é a palavra chave para criar uma relação entre criatividade artística e a esquizofrenia.

Um caso bastante interessante da relação esquizofrenia-arte é a de Yayoi Kusama. Primeiro pela sua excentricidade; ela é uma senhora de cabelos únicos, extremamente laranja e geométrico. Uma pessoa que se você olhar você entende de cara que não é alguém ordinário. O mais impressionante, na verdade, é a sua distorção da realidade que a faz ver pontinhos e bolinhas por tudo desde que ela é criança. Ela nunca teve uma visão não distorcida das coisas; seu mundo é um lugar ambientado por pontos de luz e granulações vivídas. Seus quadros são sim, muito interessantes, assim como suas esculturas. Eles refletem a não-realidade da pintora pelas suas cores, seus traços e, óbvio, pelas suas bolinhas.

Porém, ela consegue transportar o espectador para sua mente através das suas instalações. São lindas de chorar. Look Now, See Forever é a mais famosa delas.

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Quem vai ver a obra recebe uma cartela de adesivos de bolinhas e vai colando em um ambiente totalmente branco. No final, fica essa coisa linda. (Nota: a cor branca tem uma relação total com a esquizofrenia, pois é uma cor inquietante. Talvez haja um paralelo entre esse fator e a visão distorcida de Yayoi).

Opinião pessoal: porém, a mais linda de todas mesmo é essa floresta negras de vagalumes coloridos: Infinity Mirrored Room. É agoniante, sim, de fato. Parece que nunca vai acabar, que não tem fim, é escuro, é claustrofóbico, você não sabe por onde andar, mas fica maravilhado com a quantidade de pontos coloridos há nesse espaço. A sensação, como espectadora, é como ver um céu lavado de estrelas – mas coloridas. Muitas instalações dela contam com espelhos. Justamente para criar uma visão distorcida, impossível e psicodélica da realidade.

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É maravilhoso ver o transporte de uma das muitas realidades esquizofrênicas para a pura e simplesmente realidade (às vezes meio sem graça). Principalmente quando essa dor, agonia e sofrimento vira algo tão sigelo, lindo e muito divertido, como bolinhas coloridas que brilham no escuro, ou adesivos de papel que você cola aonde quiser 🙂

Isabela Fuchs

Isabela Fuchs

Estudante de Design na UTFPR. Apaixonada por História da Arte, mas também nutro paixões paralelas como Design Editorial, Design de Embalagens e Tipografia.

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