Os japoneses fazem melhor! Parte I
Que os japoneses têm como característica serem excelentes em design e tecnologia é inegável. Talvez devido à cultura que desenvolveram em torno da arte, desde a pintura até escultura, enriquecidas pelos costumes e regras sociais rígidas que os fazem serem buscadores constantes da perfeição.
Com toda a certeza na lista dos Top 10 Estilistas de qualquer crítico de moda não conste o nome de pelo menos 2 deles.
Conhecidos por sua modelagem inusitada, senão quase inacreditável, ou pelo olhar único que possuem da cultura ocidental, os japoneses são capazes de criar verdadeiras obras de arte têxtil.
Aos olhares tão acostumados ao fast fashion, peças (obras) como a de Tomoko Nakamichi, autor da coletânea Pattern Magic e ex-professor do Bunka Fashion College de Tóquio, parecem enigmas que brincam com nossa compreensão e percepção do limite entre concreto e orgânico.
Partindo da base do corpo humano, as formas se desenvolvem criando estruturas surpreendentes. Um verdadeiro exercício de raciocínio lógico e sensibilidade.
Não são criações para aquelas pessoas que se preocupam mais com aquilo que pensarão delas, mas para aquelas que se preocupam mais com a sensação de estar vestido com elas.
Mas mesmo antes da descoberta dos profissionais das escolas de Design de Moda, os japoneses já vinham deslumbrando o mundo com suas criações incomuns. Kenzo, que também é produto do Bunka Fashion College apresentou sua primeira Coleção em Paris em 1970. Seu trabalho sempre apontou para uma profusão cultural e uma multiplicidade de referências muito difícil de vermos no trabalho de qualquer outro Designer. Talvez essa capacidade de absorver múltiplas culturas e fazer melhor que o original, seja para os japoneses a maneira que encontram de fugir ao estigma dos kimonos e da idéia de que são um povo fechado.
Issey Miyake, formado pelo Tama Art University de Tóquio, trabalhou na Europa entre 64 e 70, mas voltou ao seu país de origem para fundar o Miyake Design Studio. Mesmo baseado no Japão, o talento de Issey nunca o impediu de ser admirado por olhares de todo o mundo. Suas criações versáteis e mutantes, lembram a mecânica dos origamis. Pareceria clichê, senão fosse extraordinário. Os desfiles de Issey Miyake são verdadeiros shows onde a mágica (ou a mecânica) acontece diante dos espectadores.
Diferente de Kenzo, Miyake se concentra na forma e suas possibilidades de mudança.
Quase nunca se utiliza de estampas, pois, creio eu chamariam mais atenção que a forma.
Está aposentado desde 1997, mas seus sucessores no Studio Miyake seguem a linha de pensamento do fundador.
Yohji Yamamoto, primeiramente formado em Direito, só se formou em Moda pelo Bunka College em 1969. Sua primeira coleção foi lançada em 1981 em Paris. Sua principal qualidade, a meu ver, além da perfeição dos cortes, é a de desconstruir o modelo ocidental de moda recriando de maneira arquitetônica um novo estilo, mais livre e divertido tanto do homem, quanto da mulher.
Elementos da cultura ocidental são visíveis em blazers, calças, o uso do xadrez e do tweed, mas sempre de maneira não convencional. Volume, talvez essa seja uma das características mais marcantes de Yohji Yamamoto. Suas roupas parecem sempre estar em expansão, talvez movidas pela necessidade de falar ou de dar essa liberdade ao seu usuário.
Não é a toa que essa característica de desconstrução do padrão ocidental, havia aproximado ele de outra representante da terra do sol nascente, Rei Kawakubo, com quem teve um relacionamento entre 1980 e 1990.
Talvez a mais pura representante desse time de gênios, Rei Kawakubo já criava desde 1967. Fundou a Comme des Garçons ainda em Tóquio, levada pelo seu talento a apresentar suas coleções na Europa, Rei só abriu sua primeira loja na capital francesa em 1982.
Adorada por muitos designers concretos como os belgas e os austríacos, muitas vezes o que Rei cria não se parecem nem com roupas. Suas criações possuem um apelo muito mais dramático e questionador que seus compatriotas. Talvez isso, talvez por isso, Rei Kawakubo também é a mais reclusa das designers japonesas raramente sendo entrevistada. Mas convenhamos, o que seria ficar respondendo a perguntas como: “o que você quis dizer com essa sua nova coleção?”
Continua…
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