Mapas: O que são? Como funcionam?

Por Maia Amanda

Para que possamos entender todo e qualquer tipo de informação visual necessitamos de uma aprendizagem prévia. Para identificarmos um shampoo em uma prateleira no supermercado, por exemplo, precisamos ter aprendido seus possíveis formatos, materiais, cores, texturas, cheiros e até mesmo sua localização dentro do ambiente de compra. Para reconhecermos um emaranhado de concreto no horizonte como sendo uma cidade, precisamos ter aprendido a configuração de prédios, ruas, sinaleiras, placas de trânsito, carros e lojas.

Quantas vezes nos pegamos nostálgicos ao passear em algum parque ou ao realizar uma atividade? Em alguns casos nem sabemos o motivo daquele sentimento tão repentino e momentâneo. Na real, isso nada mais é do que o nosso cérebro trabalhando com informações sobre a nossa bagagem de vida existente bem no fundo das memórias. Em algum momento tivemos que visualizar e guardar certas informações em nosso subconsciente para que futuramente utilizássemos estes dados em prol do reconhecimento de alguma outra coisa.

É ai que entram as representações cartográficas. Muito do que se consegue ver e interpretar em mapas depende dessa bagagem que construímos ao longo da vida e da percepção que um indivíduo possui sobre o espaço e os elementos que o compõem. A representação na mente das pessoas simula o conhecimento sobre o mundo exterior. A psicologia cognitiva chama isso de mapa mental. É uma representação interna semelhante ao mapa original, que possui origem da memória visual. Os mapas cognitivos são representações internas da percepção de ambientes e a relação entre os elementos dentro dele. É uma codificação inconsciente da informação obtida de um determinado local que é armazenada na mente. A busca pelas limitações perceptivas dos usuários e pela integração dos processos mentais utilizados para a leitura e entendimento de mapas estão voltadas as relações entre os mapas e o conhecimento espacial do indivíduo.

Representações cartográficas

Representações cartográficas

Para ser eficiente, um mapa deve tentar ser similar à essa representação mental humana. Deve apresentar aspectos parecidos aos criados na memória ou auxiliar o indivíduo na criação correta de uma nova imagem mental. Desta forma, ele busca reproduzir o que foi visto através do seu senso de direção e conhecimento prévio do local.

Neste momento deve-se considerar que uma representação gráfica eficiente permite a rápida memorização de um grande número de informações. Nossa memória visual de curta duração consegue guardar até 7 diferentes “itens” de informação. Por isso que precisamos de certos auxílios quando vamos explorar algum local. Esses auxílios são instrumentos que dão suporte à mobilidade e orientação espacial de indivíduos. Um dos principais objetivos do mapa é fazer com o que o usuário que o utiliza determine rotas adequadas para alcançar seu destino final e se localize ao longo dos trajetos escolhidos.

Portanto, já compreendemos o que são corredores, lojas e banheiros dentro de um shopping, no entanto, precisamos saber onde encontrá-los, qual rota tomar e qual a distância entre o ponto inicial e final. Se eu conhecer este shopping previamente, o deslocamento será mais fácil e rápido. Caso eu nunca tenha visitado o local, os mapas terão um papel mais importante, sendo um dos poucos meios de informação que irá transmitir as mensagens necessárias para que eu possa transitar tranquilamente e encontrar o meu destino final.

Aplicação de mapas e plantas em Shopping Center

Aplicação de mapas e plantas em Shopping Center

Aplicação de mapas e plantas em Shopping Center

Aplicação de mapas e plantas em Shopping Center

Os mapas são meios ideais para organizar, apresentar e comunicar o crescente volume de informação que se torna disponível hoje em dia. No entanto, esta representação apenas será eficiente se bem projetada e ordenada visualmente. Se utilizarmos cores, pictogramas ou tipos inadequados, podemos causar a desorientação dos observadores, efeito contrário ao que desejamos ao criar esta representação. No exemplo a seguir a má aplicação de cores é ilustrada através de um mapa turístico da cidade de Dublin, na Irlanda. O constante uso de tonalidades gritantes e chamativas acabam por não hierarquizar o mapa, fazendo com que tudo seja relevante ao mesmo tempo. A delimitação de bairros acaba por ser tão importante quanto o ponto de referência “rio” (em azul) e os pontos turísticos, não havendo destaque para as principais informações.

Mapa turístico de Dublin (2011)

Mapa turístico de Dublin (2011)

Por isso retomo aqui mais uma vez a questão da bagagem que criamos ao longo das nossas vidas. É importante buscarmos transmitir as informações mais evidentes através da obviedade, com elementos de fácil compreensão. O exemplo de aplicação de cores, neste caso, pode ilustrar esta teoria. Quando pensamos em água, rios e lagos, qual a primeira cor que nos vem em mente? Azul! E quando falamos em florestas, campos, parques e praças? O Verde! O marrom é geralmente utilizado para ilustrar prédios e áreas mais urbanas. Portanto, utilizando cores de fácil associação – óbvias –, o indivíduo consegue compreender as informações mais rapidamente e sua viagem se tornará mais agradável.

Recursos de cor que facilitam o entendimento de mapas

Recursos de cor que facilitam o entendimento de mapas

Outros recursos de aplicação de cores em mapas que podem vir a facilitar o uso são:
• Usar cores com a consciência de que as tonalidades possam modificar a percepção das outras;
• Usar cores fortes para dados importantes, principalmente em áreas pequenas com fundos neutros;
• Usar cores redundantes para transmitir uma mesma mensagem;
• Usar cores para distinguir as características da representação do mapa;
• Usar cores neutras para a designação de fundos;
• Usar cores para proporcionar hierarquia informacional e ordem de leitura;
• Usar as cores dos fenômenos para expressá-los (água – azul; florestas – verde…);
• Usar cor para atrair os usuários;

O elemento cor em mapas faz parte de uma das variáveis originada da semiologia gráfica (Semiologie Graphique), criada em 1967 pelo francês Jacques Bertin, que buscou adaptar os recursos da representação visual para materiais cartográficos. Além da cor existem outras variáveis como os elementos tipográficos, as texturas, tamanhos, formas, valor, orientação e posição. Estes elementos foram adaptados à uma matriz de análise onde é possível visualizar um por um separadamente.

Variáveis Visuais criadas por Jacques Bertin

Variáveis Visuais criadas por Jacques Bertin

Desta forma, percebe-se que por um lado existem as características de representação visual, conhecidas como as variáveis gráficas visuais, que são articuladas de acordo com as respostas dadas pelo ser humano em relação aos estímulos, e por outro, o raciocínio que auxilia na codificação do mapa, através dos processos cognitivos – o está ligado diretamente com a nossa bagagem. As preocupações em compreender o processo de interpretação dos mapas por parte do ser humano vêm sendo investigada já faz um tempo mas a organização eficaz dos elementos já é considerada uma solução aceitável para a interpretação de mensagens.

Maia Amanda

Maia Amanda

Atualmente trabalha na Vitao Alimentos como responsável pelo setor de Design e Marketing. Mestre em Design da Informação (UFPR/2013) e formada em Design Visual (ESPM/2010). Intercambista em Lisboa e nos EUA. Em suas experiências,descobriu a paixão pelo estudo da informação e do design aplicado ao transporte público. Mobiliário Urbano, Representação de Mapas, Design Inclusivo, Daltonismo e Estudo da Cor também foram paixões descobertas. Além disso, ama fotografia, cores, viagens, design, grêmio, embalagem e música.

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Para que possamos entender todo e qualquer tipo de informação visual necessitamos de uma aprendizagem prévia. Para identificarmos um shampoo em uma prateleira no supermercado, por exemplo, precisamos ter aprendido seus possíveis formatos, materiais, cores, texturas, cheiros e até mesmo sua localização dentro do ambiente de compra. Para reconhecermos um emaranhado de concreto no horizonte como sendo uma cidade, precisamos ter aprendido a configuração de prédios, ruas, sinaleiras, placas de trânsito, carros e lojas.

Quantas vezes nos pegamos nostálgicos ao passear em algum parque ou ao realizar uma atividade? Em alguns casos nem sabemos o motivo daquele sentimento tão repentino e momentâneo. Na real, isso nada mais é do que o nosso cérebro trabalhando com informações sobre a nossa bagagem de vida existente bem no fundo das memórias. Em algum momento tivemos que visualizar e guardar certas informações em nosso subconsciente para que futuramente utilizássemos estes dados em prol do reconhecimento de alguma outra coisa.

É ai que entram as representações cartográficas. Muito do que se consegue ver e interpretar em mapas depende dessa bagagem que construímos ao longo da vida e da percepção que um indivíduo possui sobre o espaço e os elementos que o compõem. A representação na mente das pessoas simula o conhecimento sobre o mundo exterior. A psicologia cognitiva chama isso de mapa mental. É uma representação interna semelhante ao mapa original, que possui origem da memória visual. Os mapas cognitivos são representações internas da percepção de ambientes e a relação entre os elementos dentro dele. É uma codificação inconsciente da informação obtida de um determinado local que é armazenada na mente. A busca pelas limitações perceptivas dos usuários e pela integração dos processos mentais utilizados para a leitura e entendimento de mapas estão voltadas as relações entre os mapas e o conhecimento espacial do indivíduo.

Representações cartográficas

Representações cartográficas

Para ser eficiente, um mapa deve tentar ser similar à essa representação mental humana. Deve apresentar aspectos parecidos aos criados na memória ou auxiliar o indivíduo na criação correta de uma nova imagem mental. Desta forma, ele busca reproduzir o que foi visto através do seu senso de direção e conhecimento prévio do local.

Neste momento deve-se considerar que uma representação gráfica eficiente permite a rápida memorização de um grande número de informações. Nossa memória visual de curta duração consegue guardar até 7 diferentes “itens” de informação. Por isso que precisamos de certos auxílios quando vamos explorar algum local. Esses auxílios são instrumentos que dão suporte à mobilidade e orientação espacial de indivíduos. Um dos principais objetivos do mapa é fazer com o que o usuário que o utiliza determine rotas adequadas para alcançar seu destino final e se localize ao longo dos trajetos escolhidos.

Portanto, já compreendemos o que são corredores, lojas e banheiros dentro de um shopping, no entanto, precisamos saber onde encontrá-los, qual rota tomar e qual a distância entre o ponto inicial e final. Se eu conhecer este shopping previamente, o deslocamento será mais fácil e rápido. Caso eu nunca tenha visitado o local, os mapas terão um papel mais importante, sendo um dos poucos meios de informação que irá transmitir as mensagens necessárias para que eu possa transitar tranquilamente e encontrar o meu destino final.

Aplicação de mapas e plantas em Shopping Center

Aplicação de mapas e plantas em Shopping Center

Aplicação de mapas e plantas em Shopping Center

Aplicação de mapas e plantas em Shopping Center

Os mapas são meios ideais para organizar, apresentar e comunicar o crescente volume de informação que se torna disponível hoje em dia. No entanto, esta representação apenas será eficiente se bem projetada e ordenada visualmente. Se utilizarmos cores, pictogramas ou tipos inadequados, podemos causar a desorientação dos observadores, efeito contrário ao que desejamos ao criar esta representação. No exemplo a seguir a má aplicação de cores é ilustrada através de um mapa turístico da cidade de Dublin, na Irlanda. O constante uso de tonalidades gritantes e chamativas acabam por não hierarquizar o mapa, fazendo com que tudo seja relevante ao mesmo tempo. A delimitação de bairros acaba por ser tão importante quanto o ponto de referência “rio” (em azul) e os pontos turísticos, não havendo destaque para as principais informações.

Mapa turístico de Dublin (2011)

Mapa turístico de Dublin (2011)

Por isso retomo aqui mais uma vez a questão da bagagem que criamos ao longo das nossas vidas. É importante buscarmos transmitir as informações mais evidentes através da obviedade, com elementos de fácil compreensão. O exemplo de aplicação de cores, neste caso, pode ilustrar esta teoria. Quando pensamos em água, rios e lagos, qual a primeira cor que nos vem em mente? Azul! E quando falamos em florestas, campos, parques e praças? O Verde! O marrom é geralmente utilizado para ilustrar prédios e áreas mais urbanas. Portanto, utilizando cores de fácil associação – óbvias –, o indivíduo consegue compreender as informações mais rapidamente e sua viagem se tornará mais agradável.

Recursos de cor que facilitam o entendimento de mapas

Recursos de cor que facilitam o entendimento de mapas

Outros recursos de aplicação de cores em mapas que podem vir a facilitar o uso são:
• Usar cores com a consciência de que as tonalidades possam modificar a percepção das outras;
• Usar cores fortes para dados importantes, principalmente em áreas pequenas com fundos neutros;
• Usar cores redundantes para transmitir uma mesma mensagem;
• Usar cores para distinguir as características da representação do mapa;
• Usar cores neutras para a designação de fundos;
• Usar cores para proporcionar hierarquia informacional e ordem de leitura;
• Usar as cores dos fenômenos para expressá-los (água – azul; florestas – verde…);
• Usar cor para atrair os usuários;

O elemento cor em mapas faz parte de uma das variáveis originada da semiologia gráfica (Semiologie Graphique), criada em 1967 pelo francês Jacques Bertin, que buscou adaptar os recursos da representação visual para materiais cartográficos. Além da cor existem outras variáveis como os elementos tipográficos, as texturas, tamanhos, formas, valor, orientação e posição. Estes elementos foram adaptados à uma matriz de análise onde é possível visualizar um por um separadamente.

Variáveis Visuais criadas por Jacques Bertin

Variáveis Visuais criadas por Jacques Bertin

Desta forma, percebe-se que por um lado existem as características de representação visual, conhecidas como as variáveis gráficas visuais, que são articuladas de acordo com as respostas dadas pelo ser humano em relação aos estímulos, e por outro, o raciocínio que auxilia na codificação do mapa, através dos processos cognitivos – o está ligado diretamente com a nossa bagagem. As preocupações em compreender o processo de interpretação dos mapas por parte do ser humano vêm sendo investigada já faz um tempo mas a organização eficaz dos elementos já é considerada uma solução aceitável para a interpretação de mensagens.

Maia Amanda

Maia Amanda

Atualmente trabalha na Vitao Alimentos como responsável pelo setor de Design e Marketing. Mestre em Design da Informação (UFPR/2013) e formada em Design Visual (ESPM/2010). Intercambista em Lisboa e nos EUA. Em suas experiências,descobriu a paixão pelo estudo da informação e do design aplicado ao transporte público. Mobiliário Urbano, Representação de Mapas, Design Inclusivo, Daltonismo e Estudo da Cor também foram paixões descobertas. Além disso, ama fotografia, cores, viagens, design, grêmio, embalagem e música.

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