
Fotografia algébrica
Recentemente deparei com um conceito que transformou minha maneira de enxergar a fotografia: a divisão das obras fotográficas entre aditivas e subtrativas. A partir daí comecei a entender melhor o trabalho de diversos fotógrafos, inclusive o meu próprio.
Segundo essa definição, a fotografia aditiva assemelha-se à pintura: a partir de uma tela em branco o artista compõe a obra adicionando elementos do modo que achar melhor. Fica limitado apenas à sua criatividade e habilidade, e aos materiais disponíveis. O fotógrafo aditivo tem sob seu controle luzes, modelos e objetos, e manipula-os a fim de obter uma imagem já concebida. Geralmente essa abordagem está associada à fotografia de moda e à autoral.
A fotografia subtrativa fundamenta-se na cena já existente. O fotógrafo observa o todo, e seleciona a parte que deseja retratar. Subtrai, portanto, o que é excessivo, para enquadrar apenas o que lhe interessa. Esse método é frequentemente utilizado pelo fotojornalismo e pelo fotodocumentarismo.
O conceito da fotografia aditiva e subtrativa, apresentado nesse ótimo artigo de Scott Macleay, estabelece uma diferenciação lógica e essencial. Fosse mais difundido evitaria inúmeros equívocos e confusões. Por exemplo, a surpresa de muitos com a recente declaração de Sebastião Salgado afirmando que não sabe usar flash. Ora, o homem é um mestre do subtrativo. Conhece como poucos a luz natural, e faz seus enquadramentos a partir daí. Não está habituado ao elemento aditivo, à luz artificial que age de acordo com a vontade do fotógrafo. Salgado está acostumado a adaptar sua fotografia à cena, e não a cena à sua fotografia.

David Lachapelle constrói cenários e situações para transformar em imagem cenas que existiam apenas em sua imaginação.
Isso não significa que o fotodocumentarista deva manter distância do flash, ou que o fotógrafo de moda seja proibido de captar uma expressão espontânea da modelo. Muitos profissionais misturam as abordagens, evitando uma divisão rígida entre as fotografias aditiva e subtrativa. Aditivo e subtrativo, no entanto, claramente são modos distintos de pensar.

Durante a carreira Dorothea Lange buscou histórias e personagens reais, e recortou as imagens que considerou mais expressivas.
Tenho a impressão de que a proposta aditiva funcionaria melhor para o designer. Afinal, a criação é fundamental no exercício da profissão. Entretanto o subtrativo é o que mais vejo sendo produzido. E então? Reflita e comente aqui embaixo, designer: a sua fotografia é aditiva ou subtrativa?
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