A imagem na Propaganda Política

Por Rob Batista

Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade – Joseph Goebbels

Com essa polêmica citação, inicio esse artigo. Ela é interessante porque explicita o fato de que muito daquilo que compõe o nosso mundo, nossa vida social e política, configura-se como mentira ou verdade não por sua própria natureza, mas pela defesa que é feita disso ou pela forma como os “fatos” são expostos. Joseph Goebbels foi o Ministro da Propaganda de Hitler e tinha a tarefa de transformar os ideiais nazistas na verdade dos alemães. E conseguiu. Ele lançava as diretrizes de instituições educacionais e meios de comunicação e, assim, mostrava cotidianamente para aquela massa faminta quem os nazistas acreditavam que fossem os culpados por sua fome e humilhação e quem os salvaria. Apresentava um problema e um herói.

Eu começo citando esse caso porque essa é apenas uma versão exageradamente explícita de praticamente todo tipo de publicidade, comunicação e propaganda política que temos hoje. Não quero dizer que tudo isso seja tão demoníaco quanto considera-se que tenha sido o nazismo, mas que muitas ou a maioria das “mentiras” e “verdades” que conhecemos são construções sociais criadas e influenciadas por meio de todas essas ferramentas de comunicação que conhecemos.

O design e a comunicação visual têm um papel preponderante nisso tudo. O designer pode ser entendido como mais do que um tradutor de informações para uma outra linguagem, ele é um articulador de simbologias que pode construir e desconstruir referências sociais, imagens públicas e até criar aquelas mentiras e verdades. Bom, eu entrei nesse assunto muito mais para incitá-los a pensar sobre isso do que para me estender nele.

Exemplos históricos

Para ilustrar essa discussão vale a pena lembrar alguns projetos que visavam construir sólidas imagens públicas de pessoas e/ou instituições.

Começando pela própria propaganda do III Reich, é fácil perceber que a comunicação visual nazista era administrada e direcionada sem dever em nada a muitas das grandes marcas que conhecemos hoje. Em seu livro, Mein Kampf, Hitler já havia dado as diretrizes sobre como deveria ser a bandeira do Partido, que depois se tornaria a bandeira nacional. Nela, o vermelho simbolizaria sua preocupação social, o que, segundo historiadores, não passava de uma forma de atrair os trabalhadores alemães e não permitir que eles enxergassem o Partido Comunista da Alemanha como única instituição que representava a massa dos trabalhadores.

Os construtivistas russos, principalmente os da ala de Alexandr Rodchenko, desempenhariam um papel muito importante na comunicação às massas do que representavam as ideias socialistas antes da Revolução de Outubro e posteriormente muitos deles trabalhariam segundo o direcionamento do Governo, comunicando aquilo que o Estado entendia como necessário à “educação” do povo.

Alexandr Rodchenko. Cartaz sobre o direito da mulher ao trabalho, 1925.

Mas esses “trabalhadores da comunicação” do período pré e pós-revolucionário não apenas seguiam ordens. Os construtivistas estavam convencidos de que era tempo de matar a antiga arte, abrir seus processos, democratizar suas ferramentas e tornar a própria arte um instrumento útil na vida das pessoas. Essa arte deveria servir à alfabetização, comunicação, e expressão da cultura dos povos soviéticos. A maioria deles acreditava em um progresso socialista e entendiam que os artistas deveriam assumir um papel central na comunicação e defesa desses novos ideais.

Shass – Kobelev (à esquerda). V. Kulagina (à direita).

O caso mais recente e que surpreendeu muito a todos foram as campanhas de Barack Obama à presidência dos EUA, principalmente a de 2008. Obama contou com um arsenal de comunicação que construiu a imagem de um homem que incorporava a esperança para um país descontente consigo mesmo. Nunca uma campanha americana foi tão bem dirigida – uma verdadeira campanha publicitária. Foi desenvolvida uma identidade visual que podia se adaptar a vários contextos para transmitir diversas mensagens e havia uma preocupação com tudo o que fosse comunicar visualmente.

Um dos elementos mais marcantes de sua campanha foi o poster Progress/Hope, do artista Shepard Fairey, que havia o criado apenas porque apoiava o então candidato. Logo o poster começou a se espalhar sem controle até chegar aos membros do comitê de Obama, que não pensaram duas vezes em contatar o artista e adicionar o trabalho à campanha. Shepard Fairey sabe que contribuiu importantemente para a construção da imagem pública de Obama durante a candidatura e que um de seus trabalhos será ícone de um dos acontecimentos mais marcantes do início do século. Seja essa imagem pública construida “mentira” ou “verdade”, o fato é que ela influenciou os rumos da política americana e ainda o fará por um bom tempo.

Obama Hope/Progress. Shepard Fairey, 2008. 

 

Leia:

 

Rob Batista

Rob Batista

Rob Batista, aka Robin Hood, é paulista e estudante de Design Digital pela Universidade Anhembi Morumbi. Se encontra (e se perde) em Artes Visuais, Antropologia, Filosofia, Ficção Científica, entre outras coisas, e vê no design o poder de (des)construir o mundo. Suas pesquisas, observações e toda a bobagem que fala são muito menos o desejo de explicar e muito mais a tentativa de entender.

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Com essa polêmica citação, inicio esse artigo. Ela é interessante porque explicita o fato de que muito daquilo que compõe o nosso mundo, nossa vida social e política, configura-se como mentira ou verdade não por sua própria natureza, mas pela defesa que é feita disso ou pela forma como os “fatos” são expostos. Joseph Goebbels foi o Ministro da Propaganda de Hitler e tinha a tarefa de transformar os ideiais nazistas na verdade dos alemães. E conseguiu. Ele lançava as diretrizes de instituições educacionais e meios de comunicação e, assim, mostrava cotidianamente para aquela massa faminta quem os nazistas acreditavam que fossem os culpados por sua fome e humilhação e quem os salvaria. Apresentava um problema e um herói.

Eu começo citando esse caso porque essa é apenas uma versão exageradamente explícita de praticamente todo tipo de publicidade, comunicação e propaganda política que temos hoje. Não quero dizer que tudo isso seja tão demoníaco quanto considera-se que tenha sido o nazismo, mas que muitas ou a maioria das “mentiras” e “verdades” que conhecemos são construções sociais criadas e influenciadas por meio de todas essas ferramentas de comunicação que conhecemos.

O design e a comunicação visual têm um papel preponderante nisso tudo. O designer pode ser entendido como mais do que um tradutor de informações para uma outra linguagem, ele é um articulador de simbologias que pode construir e desconstruir referências sociais, imagens públicas e até criar aquelas mentiras e verdades. Bom, eu entrei nesse assunto muito mais para incitá-los a pensar sobre isso do que para me estender nele.

Exemplos históricos

Para ilustrar essa discussão vale a pena lembrar alguns projetos que visavam construir sólidas imagens públicas de pessoas e/ou instituições.

Começando pela própria propaganda do III Reich, é fácil perceber que a comunicação visual nazista era administrada e direcionada sem dever em nada a muitas das grandes marcas que conhecemos hoje. Em seu livro, Mein Kampf, Hitler já havia dado as diretrizes sobre como deveria ser a bandeira do Partido, que depois se tornaria a bandeira nacional. Nela, o vermelho simbolizaria sua preocupação social, o que, segundo historiadores, não passava de uma forma de atrair os trabalhadores alemães e não permitir que eles enxergassem o Partido Comunista da Alemanha como única instituição que representava a massa dos trabalhadores.

Os construtivistas russos, principalmente os da ala de Alexandr Rodchenko, desempenhariam um papel muito importante na comunicação às massas do que representavam as ideias socialistas antes da Revolução de Outubro e posteriormente muitos deles trabalhariam segundo o direcionamento do Governo, comunicando aquilo que o Estado entendia como necessário à “educação” do povo.

Alexandr Rodchenko. Cartaz sobre o direito da mulher ao trabalho, 1925.

Mas esses “trabalhadores da comunicação” do período pré e pós-revolucionário não apenas seguiam ordens. Os construtivistas estavam convencidos de que era tempo de matar a antiga arte, abrir seus processos, democratizar suas ferramentas e tornar a própria arte um instrumento útil na vida das pessoas. Essa arte deveria servir à alfabetização, comunicação, e expressão da cultura dos povos soviéticos. A maioria deles acreditava em um progresso socialista e entendiam que os artistas deveriam assumir um papel central na comunicação e defesa desses novos ideais.

Shass – Kobelev (à esquerda). V. Kulagina (à direita).

O caso mais recente e que surpreendeu muito a todos foram as campanhas de Barack Obama à presidência dos EUA, principalmente a de 2008. Obama contou com um arsenal de comunicação que construiu a imagem de um homem que incorporava a esperança para um país descontente consigo mesmo. Nunca uma campanha americana foi tão bem dirigida – uma verdadeira campanha publicitária. Foi desenvolvida uma identidade visual que podia se adaptar a vários contextos para transmitir diversas mensagens e havia uma preocupação com tudo o que fosse comunicar visualmente.

Um dos elementos mais marcantes de sua campanha foi o poster Progress/Hope, do artista Shepard Fairey, que havia o criado apenas porque apoiava o então candidato. Logo o poster começou a se espalhar sem controle até chegar aos membros do comitê de Obama, que não pensaram duas vezes em contatar o artista e adicionar o trabalho à campanha. Shepard Fairey sabe que contribuiu importantemente para a construção da imagem pública de Obama durante a candidatura e que um de seus trabalhos será ícone de um dos acontecimentos mais marcantes do início do século. Seja essa imagem pública construida “mentira” ou “verdade”, o fato é que ela influenciou os rumos da política americana e ainda o fará por um bom tempo.

Obama Hope/Progress. Shepard Fairey, 2008. 

 

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Rob Batista, aka Robin Hood, é paulista e estudante de Design Digital pela Universidade Anhembi Morumbi. Se encontra (e se perde) em Artes Visuais, Antropologia, Filosofia, Ficção Científica, entre outras coisas, e vê no design o poder de (des)construir o mundo. Suas pesquisas, observações e toda a bobagem que fala são muito menos o desejo de explicar e muito mais a tentativa de entender.

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