A crise da indústria têxtil no Brasil e o Design de Moda como ferramenta de mudança

Por Henrique Cabral

Bem sabemos que o Brasil sendo o país dos impostos dificulta e muito o desenvolvimento de muitos setores da indústria, mas há espaço para inovação.

Nos últimos dois anos o segmento têxtil brasileiro tem sofrido uma recessão sem precedentes. Segundo entidades e associações de classe das indústrias de vestuário¹, que inclui as tecelagens, confecções, couro e calçados, as quedas na produção e vendas dos produtos de moda no Brasil se devem a dois motivos principais:

1) A alta carga tributária brasileira, que chega a 42% sobre os produtos, tornando quase inviável o investimento em modernização dos parques industriais e a ampliação da cadeia produtiva em seus diversos estágios.
2) A invasão do mercado nacional por produtos chineses.
2.1) Após a crise econômica de 2008 em que países como USA e Inglaterra deixaram de consumir massivamente os produtos chineses em prol da economia interna, estes buscando ampliar seus mercados consumidores encontrou no Brasil uma das melhores oportunidades para manter sua produção em alta.

É sabido que há pelo menos 20 anos a China não é mais sinônimo de cópia e produto de baixa qualidade. Com uma mão-de-obra abundante, barata, carente e apoio governamental, a China se tornou o quintal do mundo no que se refere à produção de moda. Seguindo o exemplo de marcas americanas e européias, empresas brasileiras passaram a desenvolver seus produtos aqui e produzir no gigante asiático, tendo em vista principalmente a redução dos custos de produção.

Parecia uma medida absolutamente normal de mercado, se não incorresse numa questão primordial nos tempos atuais. Produção sem inovação, não há sustentabilidade. Nem econômica nem comercial. Principalmente no que se refere à moda, que é algo totalmente interdependente do comportamento humano.

As marcas brasileiras agora sofrem um efeito rebote do inchamento das prateleiras com produtos “baratos”. As classes C e D podem agora comprar peças de marcas de fast fashion² internacional a preços baixos, não há quase mais nenhum jovem que não tenha uma camiseta Hollister e um blusão da GAP no guarda roupas.

As classes A e B não consomem mais as marcas de Luxo brasileiras, porque ficou tão barato dar um pulo em Miami e pagar o mesmo num Armani que nossas marcas não conferem mais status a seus clientes. A abertura de lojas como Louis Vuiton, Burberry e Chanel no Brasil em busca do capital dos emergentes também colaborou com este cenário.

Na busca de um equilíbrio da balança econômica, diversas marcas brasileiras nos últimos 10 anos buscaram a expansão internacional, aproveitando-se da visibilidade conquistada pelo país e as projeções que se fizeram do Brasil como sendo uma das três grandes potências mundiais emergentes ( juntamente com Índia e China). Marcas como Rosa Chá, Alexandre Herchcovitch e Osklen abriram suas primeiras lojas em outros países nesse período, e esbarraram com uma realidade que não esperavam. A de que o consumidor estrangeiro tem interesse em produtos com design e características especificadamente brasileiras. O mundo ainda vê no Brasil um país de sensualidade, florestas, micos, bananas e araras como únicos representantes de nosso design no que se refere à moda.

Nesse sentido não é a toa que as marcas Brasileiras que mais despontam no cenário global, nacional e internacional, são as que conseguem melhor traduzir a identidade brasileira, mista e diversa e ao mesmo tempo conferir inovação aos produtos, seja através dos materiais, estilo, modelagens e padronagens.

Acontece que não há como produzir uma coleção pro mercado interno e outra para um mercado externo, seria impossível, e o mercado interno não quer ver mais estes símbolos de nossa nação feitos pra inglês ver.

Além disto, os altos preços com que os produtos brasileiros chegam no exterior nos colocam em desvantagem com produtos de grifes muito mais valorizados (conceitualmente) e conhecidos do público.

No caso da moda, além de toda a questão econômica e industrial, outro fator de suma importância para o desenvolvimento do setor é o fator social. Mudanças de hábitos, comportamentos e acontecimentos que alterem as convenções da sociedade têm papel fundamental naquilo que será desejado como produto.

Moda é comunicação. Não devemos nunca nos esquecer disto.

O desejo pela individualização no campo da moda é um fenômeno recente em nossa sociedade, até meados da década de 90 ainda vivíamos entre grupos que se vestiam da mesma forma, usando sempre as mesmas marcas, e isto era importante. Com o advento da internet e da criação das redes sociais, as pessoas passaram a buscar uma identidade pessoal, sua individualização independente da voga. Gostam de ser reconhecidas pelo que pensam, sentem, imaginam ou desejam e não mais se encaixar num grande grupo uniforme e homogêneo.

Os grupos agora se tornaram cestos de diversidades de estilos, e é dessa massa criativa que nascem agora as novas necessidades.

No que se refere à inovação e responsividade frente às demandas subjetivas da sociedade, o design sempre teve a responsabilidade de prover a indústria da criatividade necessária.

No momento atual, cabe aos designers parte importante não só no desenvolvimento de produtos, mas também na criatividade de novas formas de empreendimentos, negócios e processos produtivos.

Sustentabilidade ainda é um conceito não totalmente compreendido pelo Design e Economia Criativa tem um enorme potencial tanto em escalas locais quanto globais.

Vocês já devem ter lido ou ouvido o ditado de que “com crise se cresce”, ta na hora de aplicá-lo!

Notas:

1) ABIT Associação Brasileira de Indústrias Têxteis SINDIVEST Sindicato das Indústrias do Vestuário 
2) Modelo de produção que visa colocar no mercado de forma rápida diversos modelos visando um aumento do faturamento.

Henrique Cabral

Henrique Cabral

Produtor Executivo e Gráfico de Moda tendo produzido campanhas no Brasil e no Exterior. Acredita que o vestuário é uma das das formas de comunicação não verbal mais fortes da sociedade.

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A crise da indústria têxtil no Brasil e o Design de Moda como ferramenta de mudança

Por Henrique Cabral

Bem sabemos que o Brasil sendo o país dos impostos dificulta e muito o desenvolvimento de muitos setores da indústria, mas há espaço para inovação.

Nos últimos dois anos o segmento têxtil brasileiro tem sofrido uma recessão sem precedentes. Segundo entidades e associações de classe das indústrias de vestuário¹, que inclui as tecelagens, confecções, couro e calçados, as quedas na produção e vendas dos produtos de moda no Brasil se devem a dois motivos principais:

1) A alta carga tributária brasileira, que chega a 42% sobre os produtos, tornando quase inviável o investimento em modernização dos parques industriais e a ampliação da cadeia produtiva em seus diversos estágios.
2) A invasão do mercado nacional por produtos chineses.
2.1) Após a crise econômica de 2008 em que países como USA e Inglaterra deixaram de consumir massivamente os produtos chineses em prol da economia interna, estes buscando ampliar seus mercados consumidores encontrou no Brasil uma das melhores oportunidades para manter sua produção em alta.

É sabido que há pelo menos 20 anos a China não é mais sinônimo de cópia e produto de baixa qualidade. Com uma mão-de-obra abundante, barata, carente e apoio governamental, a China se tornou o quintal do mundo no que se refere à produção de moda. Seguindo o exemplo de marcas americanas e européias, empresas brasileiras passaram a desenvolver seus produtos aqui e produzir no gigante asiático, tendo em vista principalmente a redução dos custos de produção.

Parecia uma medida absolutamente normal de mercado, se não incorresse numa questão primordial nos tempos atuais. Produção sem inovação, não há sustentabilidade. Nem econômica nem comercial. Principalmente no que se refere à moda, que é algo totalmente interdependente do comportamento humano.

As marcas brasileiras agora sofrem um efeito rebote do inchamento das prateleiras com produtos “baratos”. As classes C e D podem agora comprar peças de marcas de fast fashion² internacional a preços baixos, não há quase mais nenhum jovem que não tenha uma camiseta Hollister e um blusão da GAP no guarda roupas.

As classes A e B não consomem mais as marcas de Luxo brasileiras, porque ficou tão barato dar um pulo em Miami e pagar o mesmo num Armani que nossas marcas não conferem mais status a seus clientes. A abertura de lojas como Louis Vuiton, Burberry e Chanel no Brasil em busca do capital dos emergentes também colaborou com este cenário.

Na busca de um equilíbrio da balança econômica, diversas marcas brasileiras nos últimos 10 anos buscaram a expansão internacional, aproveitando-se da visibilidade conquistada pelo país e as projeções que se fizeram do Brasil como sendo uma das três grandes potências mundiais emergentes ( juntamente com Índia e China). Marcas como Rosa Chá, Alexandre Herchcovitch e Osklen abriram suas primeiras lojas em outros países nesse período, e esbarraram com uma realidade que não esperavam. A de que o consumidor estrangeiro tem interesse em produtos com design e características especificadamente brasileiras. O mundo ainda vê no Brasil um país de sensualidade, florestas, micos, bananas e araras como únicos representantes de nosso design no que se refere à moda.

Nesse sentido não é a toa que as marcas Brasileiras que mais despontam no cenário global, nacional e internacional, são as que conseguem melhor traduzir a identidade brasileira, mista e diversa e ao mesmo tempo conferir inovação aos produtos, seja através dos materiais, estilo, modelagens e padronagens.

Acontece que não há como produzir uma coleção pro mercado interno e outra para um mercado externo, seria impossível, e o mercado interno não quer ver mais estes símbolos de nossa nação feitos pra inglês ver.

Além disto, os altos preços com que os produtos brasileiros chegam no exterior nos colocam em desvantagem com produtos de grifes muito mais valorizados (conceitualmente) e conhecidos do público.

No caso da moda, além de toda a questão econômica e industrial, outro fator de suma importância para o desenvolvimento do setor é o fator social. Mudanças de hábitos, comportamentos e acontecimentos que alterem as convenções da sociedade têm papel fundamental naquilo que será desejado como produto.

Moda é comunicação. Não devemos nunca nos esquecer disto.

O desejo pela individualização no campo da moda é um fenômeno recente em nossa sociedade, até meados da década de 90 ainda vivíamos entre grupos que se vestiam da mesma forma, usando sempre as mesmas marcas, e isto era importante. Com o advento da internet e da criação das redes sociais, as pessoas passaram a buscar uma identidade pessoal, sua individualização independente da voga. Gostam de ser reconhecidas pelo que pensam, sentem, imaginam ou desejam e não mais se encaixar num grande grupo uniforme e homogêneo.

Os grupos agora se tornaram cestos de diversidades de estilos, e é dessa massa criativa que nascem agora as novas necessidades.

No que se refere à inovação e responsividade frente às demandas subjetivas da sociedade, o design sempre teve a responsabilidade de prover a indústria da criatividade necessária.

No momento atual, cabe aos designers parte importante não só no desenvolvimento de produtos, mas também na criatividade de novas formas de empreendimentos, negócios e processos produtivos.

Sustentabilidade ainda é um conceito não totalmente compreendido pelo Design e Economia Criativa tem um enorme potencial tanto em escalas locais quanto globais.

Vocês já devem ter lido ou ouvido o ditado de que “com crise se cresce”, ta na hora de aplicá-lo!

Notas:

1) ABIT Associação Brasileira de Indústrias Têxteis SINDIVEST Sindicato das Indústrias do Vestuário 
2) Modelo de produção que visa colocar no mercado de forma rápida diversos modelos visando um aumento do faturamento.

Henrique Cabral

Henrique Cabral

Produtor Executivo e Gráfico de Moda tendo produzido campanhas no Brasil e no Exterior. Acredita que o vestuário é uma das das formas de comunicação não verbal mais fortes da sociedade.

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