Ser ou não ser fútil, eis a questão

Por Amanda Prado

Hoje estreio como colaboradora do portal da Revista Clichê, e em meio a minha empolgação decidi levantar uma discussão que habita a consciência de muitos estudantes de moda, bem como o imaginário do senso comum. Afinal de contas a moda é realmente fútil?

A temática “moda” vem à tona em rodas de conversas dos mais variados tipos de sujeitos, de diferentes classes, idades e culturas, porém esse assunto está sempre associado ao campo das frivolidades.

Confesso que essa é uma das minhas discussões favoritas, por isso a exponho aqui antes de qualquer outra coisa.

Ressalto que não sou uma teórica, sou apenas uma “modista” acostumada a escrever, mas acho válido confirmar o meu interesse pelo crescente e positivo cenário teórico assistido nas ultimas décadas no que diz respeito à moda e seus desdobramentos.

Simmel, Barthes, Lipovetsky e Bauman, esses são alguns dos grandes teóricos que escreveram sobre moda, e aos poucos, foram quebrando o paradigma que excluía a moda do universo acadêmico.

Dentre os principais aspectos que caracterizam a moda posso citar seguramente o fato dela se relacionar com a edificação identitária dos indivíduos, e isso só é possível, pois a moda é um grande veículo de comunicação não verbal, lembrando que a comunicação é inerente ao ser humano.

Penso que pelo fato da moda estar tão presente na vida de todos,a sua face fútil é a mais exposta.

Na verdade a questão relativa à suposta frivolidade da moda ou não, se trata de formas de abordagens diferentes de um mesmo assunto. Ou seja, a moda está tão próxima de teorias complexas de autores renomados que escrevem acerca do hiperconsumismo, da liquidez da contemporaneidade, e de sistemas de signos, mas ao mesmo tempo está em destaque nas pautas das revistas e programas televisivos de massa.

Sim, a moda pode ser fútil, depende de quem fala sobre ela e como o faz.

Moda tem a ver com comunicação e comportamento de pessoas, ou melhor, de corpos que se vestem por inúmeros motivos e com inúmeras intenções.

Se você se preocupa com os agentes e reflexos das dinâmicas que fazem da moda a “moda fútil”, saiba que você tem propriedade para defender essa temática como escopo que irá revelar muito sobre diferentes contextos históricos, culturas e sociedades.

Porém, se você perguntar a um estudante de moda o que “está na moda” pode correr o risco de lhe mandarem assistir Esquadrão da Moda ou coisa que o valha.

Ou ainda, se perguntar sobre qual look é ideal para vestir a sua silhueta que é formato triângulo invertido, é mais certo que o estudante de moda lhe explique o que é Gestalt.

Enfim, espero ter atingido o meu objetivo de mostrar pelo menos um pouco do quanto a moda pode ser abrangente, já que ela é uma “ferramenta” utilizada por todas as pessoas. Digo isso, pois até mesmo quem é “antimoda” não foge da moda, por que acaba se baseando na mesma para “ser” o contrário do que ela dita.

Concluo que a moda é um assunto fascinante e cheio de paradoxos, como aquele que expus no título desse post, e espero estar aqui em outras ocasiões para levantar diferentes discussões sobre a moda e suas possíveis analogias e desdobramentos.

Para saber mais:

  • BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
  • BARTHES, Roland. Inéditos vol. 3imagem e moda. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
  • BARTHES, Roland. O sistema da moda. Lisboa: Edições 70, 1981.
  • LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade Paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumismo. São Paulo: Cia das Letras, 2007.
  • LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Cia das Letras, 2006.
  • SIMMEL, George. “Da pisicologia da moda: um estudo sociológico”. In: Souza, Jessé. &OëlzeBerthold. Simmel e a modernidade. Brasília, Editora da UNB, 1998. Pg. 161-170.
Amanda Prado

Amanda Prado

Vinte e um anos, mineira, viveu no interior do Rio de Janeiro desde sempre até que a partir de 2011 se aventurou a morar em terras paranaenses para estudar Moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais especificamente em Cianorte, onde concluiu o curso de Moda em 2015, e não satisfeita, aproveitou a deixa e se formou em 2013 como técnica em vestuário pelo SENAI. Apaixonada por pesquisas acadêmicas, moda e áreas afins, mas acima de tudo consciente da necessidade da fomentação do campo de saber da moda.

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Hoje estreio como colaboradora do portal da Revista Clichê, e em meio a minha empolgação decidi levantar uma discussão que habita a consciência de muitos estudantes de moda, bem como o imaginário do senso comum. Afinal de contas a moda é realmente fútil?

A temática “moda” vem à tona em rodas de conversas dos mais variados tipos de sujeitos, de diferentes classes, idades e culturas, porém esse assunto está sempre associado ao campo das frivolidades.

Confesso que essa é uma das minhas discussões favoritas, por isso a exponho aqui antes de qualquer outra coisa.

Ressalto que não sou uma teórica, sou apenas uma “modista” acostumada a escrever, mas acho válido confirmar o meu interesse pelo crescente e positivo cenário teórico assistido nas ultimas décadas no que diz respeito à moda e seus desdobramentos.

Simmel, Barthes, Lipovetsky e Bauman, esses são alguns dos grandes teóricos que escreveram sobre moda, e aos poucos, foram quebrando o paradigma que excluía a moda do universo acadêmico.

Dentre os principais aspectos que caracterizam a moda posso citar seguramente o fato dela se relacionar com a edificação identitária dos indivíduos, e isso só é possível, pois a moda é um grande veículo de comunicação não verbal, lembrando que a comunicação é inerente ao ser humano.

Penso que pelo fato da moda estar tão presente na vida de todos,a sua face fútil é a mais exposta.

Na verdade a questão relativa à suposta frivolidade da moda ou não, se trata de formas de abordagens diferentes de um mesmo assunto. Ou seja, a moda está tão próxima de teorias complexas de autores renomados que escrevem acerca do hiperconsumismo, da liquidez da contemporaneidade, e de sistemas de signos, mas ao mesmo tempo está em destaque nas pautas das revistas e programas televisivos de massa.

Sim, a moda pode ser fútil, depende de quem fala sobre ela e como o faz.

Moda tem a ver com comunicação e comportamento de pessoas, ou melhor, de corpos que se vestem por inúmeros motivos e com inúmeras intenções.

Se você se preocupa com os agentes e reflexos das dinâmicas que fazem da moda a “moda fútil”, saiba que você tem propriedade para defender essa temática como escopo que irá revelar muito sobre diferentes contextos históricos, culturas e sociedades.

Porém, se você perguntar a um estudante de moda o que “está na moda” pode correr o risco de lhe mandarem assistir Esquadrão da Moda ou coisa que o valha.

Ou ainda, se perguntar sobre qual look é ideal para vestir a sua silhueta que é formato triângulo invertido, é mais certo que o estudante de moda lhe explique o que é Gestalt.

Enfim, espero ter atingido o meu objetivo de mostrar pelo menos um pouco do quanto a moda pode ser abrangente, já que ela é uma “ferramenta” utilizada por todas as pessoas. Digo isso, pois até mesmo quem é “antimoda” não foge da moda, por que acaba se baseando na mesma para “ser” o contrário do que ela dita.

Concluo que a moda é um assunto fascinante e cheio de paradoxos, como aquele que expus no título desse post, e espero estar aqui em outras ocasiões para levantar diferentes discussões sobre a moda e suas possíveis analogias e desdobramentos.

Para saber mais:

  • BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
  • BARTHES, Roland. Inéditos vol. 3imagem e moda. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
  • BARTHES, Roland. O sistema da moda. Lisboa: Edições 70, 1981.
  • LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade Paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumismo. São Paulo: Cia das Letras, 2007.
  • LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Cia das Letras, 2006.
  • SIMMEL, George. “Da pisicologia da moda: um estudo sociológico”. In: Souza, Jessé. &OëlzeBerthold. Simmel e a modernidade. Brasília, Editora da UNB, 1998. Pg. 161-170.
Amanda Prado

Amanda Prado

Vinte e um anos, mineira, viveu no interior do Rio de Janeiro desde sempre até que a partir de 2011 se aventurou a morar em terras paranaenses para estudar Moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais especificamente em Cianorte, onde concluiu o curso de Moda em 2015, e não satisfeita, aproveitou a deixa e se formou em 2013 como técnica em vestuário pelo SENAI. Apaixonada por pesquisas acadêmicas, moda e áreas afins, mas acima de tudo consciente da necessidade da fomentação do campo de saber da moda.

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