Traço da realidade

Por Guto Souza

Todo mundo sabe que o Photoshop rola solto por aí. Ainda assim, ao ver a fotografia da modelo na capa da revista, é quase inevitável sentir admiração (ou inveja). Sabemos que aquilo não é real, mas muitas vezes deixamo-nos enganar. A imagem fotográfica tem um forte poder de convencimento, alvo de grande discussão na publicidade, no design e, principalmente, na fotografia.

Até a Susana Vieira, com quase 70 anos, enganou muita gente

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Conferir veracidade ao que se vê em uma fotografia não é necessariamente ignorância, nem autoflagelo. Tem a ver com uma característica fundamental da imagem fotográfica: sua imprescindível relação com um objeto real. Independente se a fotografia assemelha-se ou não ao que foi fotografado, ela teve origem a partir de algo que de fato esteve em frente à câmera. E a consciência dessa ligação física é o que nos transmite, ao vermos uma foto, a sensação de realidade.

O comercial do hambúrguer convence muita gente, mas não Michael Douglas

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A fotografia pode distorcer – mas sempre permanece a suposição de que algo semelhante ao que mostra a fotografia existe ou existiu. […] a fotografia nunca é menos que o registro de uma emanação (ondas de luz refletidas por objetos) – vestígio material do tema fotografado (Susan Sontag)

Dessa maneira, a fotografia possui um poder de credibilidade inexistente em outros métodos de expressão gráfica. A pintura, por exemplo, mesmo que fidedigna ao tema representado, sempre será uma interpretação concebida pelo artista. Já a fotografia, por mais distorcida que pareça, sempre será um vestígio, um traço da realidade.

Quem explica melhor tudo isso é a tal da semiótica. Segundo essa ciência, a fotografia pode ser um espelho do real – um ícone – representando fielmente o objeto fotografado; ou então pode ser uma transformação do real – um símbolo – alterando a imagem de acordo com a interpretação do fotógrafo. Em ambos os casos, no entanto, está relacionada à captura de uma cena verdadeira e, desse modo, é sempre um índice: um indício da conexão direta entre a imagem gerada e um referente real.

Por conta do caráter factual na origem da imagem fotográfica, somos levados a acreditar no resultado final: a perfeição da modelo, o tamanho do McLanche, a beleza do avatar no Facebook. Assim, os publicitários e designers têm na fotografia uma poderosa ferramenta de persuasão – e os fotógrafos um singular meio de expressão.

Guto Souza

Guto Souza

Guto Souza nasceu e vive em Curitiba. Publicitário por formação e fotógrafo por paixão. Clica diferentes temáticas e linguagens em busca das suas próprias. Seus textos sobre Fotografia são publicados aos sábados, quinzenalmente.

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Por Guto Souza

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Dessa maneira, a fotografia possui um poder de credibilidade inexistente em outros métodos de expressão gráfica. A pintura, por exemplo, mesmo que fidedigna ao tema representado, sempre será uma interpretação concebida pelo artista. Já a fotografia, por mais distorcida que pareça, sempre será um vestígio, um traço da realidade.

Quem explica melhor tudo isso é a tal da semiótica. Segundo essa ciência, a fotografia pode ser um espelho do real – um ícone – representando fielmente o objeto fotografado; ou então pode ser uma transformação do real – um símbolo – alterando a imagem de acordo com a interpretação do fotógrafo. Em ambos os casos, no entanto, está relacionada à captura de uma cena verdadeira e, desse modo, é sempre um índice: um indício da conexão direta entre a imagem gerada e um referente real.

Por conta do caráter factual na origem da imagem fotográfica, somos levados a acreditar no resultado final: a perfeição da modelo, o tamanho do McLanche, a beleza do avatar no Facebook. Assim, os publicitários e designers têm na fotografia uma poderosa ferramenta de persuasão – e os fotógrafos um singular meio de expressão.

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Guto Souza nasceu e vive em Curitiba. Publicitário por formação e fotógrafo por paixão. Clica diferentes temáticas e linguagens em busca das suas próprias. Seus textos sobre Fotografia são publicados aos sábados, quinzenalmente.

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