Quando o marginal ensina design

Por Rodrigo Janz

Tenho a impressão de que todas as vezes que escrevo sobre design, preciso refletir para entender o limite de até onde posso discorrer sem migrar para outro assunto. No instante seguinte meu cérebro entra em uma infinita reação em cadeia que é sessada com um praguejar da minha consciência sobre a divagação. Mas será possível? Se “somarmos” os nichos de atuação presentes em todas as definições já escritas acerca do design, sobrariam poucas atividades humanas que não poderiam ser etiquetadas como tal.

Com você sabendo e que não pretendo escrever sobre o que é o design gráfico, me sinto mais a vontade para dizer que há algo objetivo sobre a função do design gráfico; Se não fosse necessário comunicar algo com eficiência, não seria necessário fazer design gráfico.

Não cessamos de encontrar (e fazer) peças que nos dão a impressão de que a mensagem especificada no briefing não foi passada da melhor maneira possível.  Chegando ao ponto de podermos dizer que uma característica diferenciadora entre um bom designer de um ruim, é a porcentagem de trabalhos em seu portfólio que passam essa impressão.

No entanto tenho encontrado muitos exemplos de trabalhos, que não são necessariamente vindos de profissionais da criação, que cumprem a função de comunicar uma ideia com eficiência formidável! Basta sair pra rua (literalmente) e descobrir do que eu estou falando.

O trabalho dos artistas ou interventores urbanos tem feito muito sucesso desde a guerra fria, demonstrando genial capacidade de entendimento de conflitos sociais e como comunicá-los com maestria às pessoas da cidade. Trata-se de uma habilidade extremamente desejável na área do design gráfico, por simultaneamente conseguir chamar atenção, prender a concentração e passar uma mensagem clara do emissor ao receptor.

Observem um exemplo criado pelo grupo espanhol Luzinterruptus. No momento da intervenção, a Espanha passava por um período crítico da crise econômica, estando perto do momento de se juntar à Grécia, Irlanda e Portugal na sarjeta. Deveras uma péssima época para campanhas eleitorais, porque cada candidato ao governo Espanhol se vê exposto e pressionado incisivamente, não só pela população, mas também constante e publicamente por representantes de maiores potências dentro da União Européia. O grupo de artistas primeiramente colou Stickers sobre inúmeros cartazes de campanhas políticas, lembrando a população acerca da importância de manterem os olhos e a cobrança sobre quem assumirá o poder em um momento tão difícil. O sucesso da intervenção foi grande e em seguida reforçado com a versão mais “design de produto” da ideia.

Intervenção Luzinterruptus

Momentos de tensão e crise incentivam a criatividade e artistas surgem como porta vozes das indignações. Outro exemplo excepcional acerca da atualidade espanhola, são os cartazes feitos por um agrupamento de diversos artistas urbanos em Madrid, substituindo propagandas por intervenções. No pôster abaixo, eles sarcasticamente “incentivam” as pessoas a consumirem mais, ironizando o posicionamento do governo, que em momentos de crise incentiva as pessoas a serem menos prudentes e consumirem mais a fim de movimentar a economia.

Sobrepondo Anúncios de Rua

O artista argentino Blu, abusa competentemente dos princípios que utilizamos diariamente no design gráfico, como sequência, contraste e clareza de forma. Dessa maneira consegue fazer com que inúmeros transeuntes sejam expostos e reflitam sobre a mensagem que queria passar (não esqueça de clicar na imagem para ver o que realmente o Blu aprontou!).

Uma mensagem concisa, contraste, repetição, ritmo, clareza de forma; Como no design gráfico

Seria impossível falar de comunicação e arte urbana sem mencionar o artista mais popular da atualidade. Banksy vem nos mostrando a cada trabalho que é possível retirar uma pessoa da rotina, dar-lhe uma tapa na cara e falar “presta atenção no que eu preciso te dizer”, isso tudo utilizando apenas tinta em uma parede. Imagine quanto que um cliente seu não te pagaria para que você desse à marca dele tal poder retórica!  Pense nisso e vá aprender mais sobre o assunto em:  http://www.banksy.co.uk/

Bansky Composition

O livro “Banksy – Wall and Piece”, amplamente consumido por designers, artistas e outros criativos, apresenta uma coletânea inspiradora de intervenções, mas uma me chamou muita atenção. Uma foto/intervenção que nos proporciona simultaneamente um acesso de raiva; “Meu! Mas que maldito, Genial!” e uma aula de comunicação. Reflitam sobre a real intenção de um artista, que largou a escola aos 16 anos, ao falar a acadêmicos e graduandos acerca de artes visuais e tirem suas próprias conclusões sobre ele ter ou não atingidas seu objetivo.

Palestina: há dúvidas quanto a mensagem?

Em território local, há alguns anos houve um grande estardalhaço entre a polícia e ciclistas ativistas. Numa onda de reinvindicações a favor do veículo ecofriendly e explosões de ideias acerca da melhora da qualidade de vida urbana, integrantes do grupo criaram sua guerrilha para dialogar com a população e governantes sobre a necessidade de haver mais espaço para bicicletas em Curitiba.  Promoveram eventos como shows e cafés da manhã de rua por meio de um cartaz que podia ser honestamente “roubado” e utilizado como chapa de stencil. Com esse cartaz diversos ciclistas puderam contribuir com a criação de ciclofaixas piratas. Posteriormente sabe-se que protesto visual influenciou na instalação das primeiras ciclofaixas regularizadas na cidade.

Ciclofaixas clandestinas, intervenção iconográfica extremamente significativa.

É muito instrutivo para os designers manter uma rotina que os leve de tempos em tempos para longe dos livros, blogs e universidades, a fim de observar a expressão de uma cidade. Do conhecer da arte urbana pode-se absorver um pouco da visão que tais artistas possuem sobre a nossa sociedade e ao mesmo tempo manter-se antenado às inquietações locais.  Essas informações contribuem para o clarear de horizontes , auxiliando-nos em nossos projetos dentro de estúdios e agências.

Rodrigo Janz

Rodrigo Janz

Formado pela UTFPR. É coordenador de Computação Gráfica da Mindset Films. Participa em paralelo da produção de animações como diretor de arte, fotografia e artista 3D. Se sobrar um tempo, você o encontrá numa bike ou nas montanhas.

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Quando o marginal ensina design

Por Rodrigo Janz

Tenho a impressão de que todas as vezes que escrevo sobre design, preciso refletir para entender o limite de até onde posso discorrer sem migrar para outro assunto. No instante seguinte meu cérebro entra em uma infinita reação em cadeia que é sessada com um praguejar da minha consciência sobre a divagação. Mas será possível? Se “somarmos” os nichos de atuação presentes em todas as definições já escritas acerca do design, sobrariam poucas atividades humanas que não poderiam ser etiquetadas como tal.

Com você sabendo e que não pretendo escrever sobre o que é o design gráfico, me sinto mais a vontade para dizer que há algo objetivo sobre a função do design gráfico; Se não fosse necessário comunicar algo com eficiência, não seria necessário fazer design gráfico.

Não cessamos de encontrar (e fazer) peças que nos dão a impressão de que a mensagem especificada no briefing não foi passada da melhor maneira possível.  Chegando ao ponto de podermos dizer que uma característica diferenciadora entre um bom designer de um ruim, é a porcentagem de trabalhos em seu portfólio que passam essa impressão.

No entanto tenho encontrado muitos exemplos de trabalhos, que não são necessariamente vindos de profissionais da criação, que cumprem a função de comunicar uma ideia com eficiência formidável! Basta sair pra rua (literalmente) e descobrir do que eu estou falando.

O trabalho dos artistas ou interventores urbanos tem feito muito sucesso desde a guerra fria, demonstrando genial capacidade de entendimento de conflitos sociais e como comunicá-los com maestria às pessoas da cidade. Trata-se de uma habilidade extremamente desejável na área do design gráfico, por simultaneamente conseguir chamar atenção, prender a concentração e passar uma mensagem clara do emissor ao receptor.

Observem um exemplo criado pelo grupo espanhol Luzinterruptus. No momento da intervenção, a Espanha passava por um período crítico da crise econômica, estando perto do momento de se juntar à Grécia, Irlanda e Portugal na sarjeta. Deveras uma péssima época para campanhas eleitorais, porque cada candidato ao governo Espanhol se vê exposto e pressionado incisivamente, não só pela população, mas também constante e publicamente por representantes de maiores potências dentro da União Européia. O grupo de artistas primeiramente colou Stickers sobre inúmeros cartazes de campanhas políticas, lembrando a população acerca da importância de manterem os olhos e a cobrança sobre quem assumirá o poder em um momento tão difícil. O sucesso da intervenção foi grande e em seguida reforçado com a versão mais “design de produto” da ideia.

Intervenção Luzinterruptus

Momentos de tensão e crise incentivam a criatividade e artistas surgem como porta vozes das indignações. Outro exemplo excepcional acerca da atualidade espanhola, são os cartazes feitos por um agrupamento de diversos artistas urbanos em Madrid, substituindo propagandas por intervenções. No pôster abaixo, eles sarcasticamente “incentivam” as pessoas a consumirem mais, ironizando o posicionamento do governo, que em momentos de crise incentiva as pessoas a serem menos prudentes e consumirem mais a fim de movimentar a economia.

Sobrepondo Anúncios de Rua

O artista argentino Blu, abusa competentemente dos princípios que utilizamos diariamente no design gráfico, como sequência, contraste e clareza de forma. Dessa maneira consegue fazer com que inúmeros transeuntes sejam expostos e reflitam sobre a mensagem que queria passar (não esqueça de clicar na imagem para ver o que realmente o Blu aprontou!).

Uma mensagem concisa, contraste, repetição, ritmo, clareza de forma; Como no design gráfico

Seria impossível falar de comunicação e arte urbana sem mencionar o artista mais popular da atualidade. Banksy vem nos mostrando a cada trabalho que é possível retirar uma pessoa da rotina, dar-lhe uma tapa na cara e falar “presta atenção no que eu preciso te dizer”, isso tudo utilizando apenas tinta em uma parede. Imagine quanto que um cliente seu não te pagaria para que você desse à marca dele tal poder retórica!  Pense nisso e vá aprender mais sobre o assunto em:  http://www.banksy.co.uk/

Bansky Composition

O livro “Banksy – Wall and Piece”, amplamente consumido por designers, artistas e outros criativos, apresenta uma coletânea inspiradora de intervenções, mas uma me chamou muita atenção. Uma foto/intervenção que nos proporciona simultaneamente um acesso de raiva; “Meu! Mas que maldito, Genial!” e uma aula de comunicação. Reflitam sobre a real intenção de um artista, que largou a escola aos 16 anos, ao falar a acadêmicos e graduandos acerca de artes visuais e tirem suas próprias conclusões sobre ele ter ou não atingidas seu objetivo.

Palestina: há dúvidas quanto a mensagem?

Em território local, há alguns anos houve um grande estardalhaço entre a polícia e ciclistas ativistas. Numa onda de reinvindicações a favor do veículo ecofriendly e explosões de ideias acerca da melhora da qualidade de vida urbana, integrantes do grupo criaram sua guerrilha para dialogar com a população e governantes sobre a necessidade de haver mais espaço para bicicletas em Curitiba.  Promoveram eventos como shows e cafés da manhã de rua por meio de um cartaz que podia ser honestamente “roubado” e utilizado como chapa de stencil. Com esse cartaz diversos ciclistas puderam contribuir com a criação de ciclofaixas piratas. Posteriormente sabe-se que protesto visual influenciou na instalação das primeiras ciclofaixas regularizadas na cidade.

Ciclofaixas clandestinas, intervenção iconográfica extremamente significativa.

É muito instrutivo para os designers manter uma rotina que os leve de tempos em tempos para longe dos livros, blogs e universidades, a fim de observar a expressão de uma cidade. Do conhecer da arte urbana pode-se absorver um pouco da visão que tais artistas possuem sobre a nossa sociedade e ao mesmo tempo manter-se antenado às inquietações locais.  Essas informações contribuem para o clarear de horizontes , auxiliando-nos em nossos projetos dentro de estúdios e agências.

Rodrigo Janz

Rodrigo Janz

Formado pela UTFPR. É coordenador de Computação Gráfica da Mindset Films. Participa em paralelo da produção de animações como diretor de arte, fotografia e artista 3D. Se sobrar um tempo, você o encontrá numa bike ou nas montanhas.

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