Eliminando a complexidade

Por Mauro Adriano Müller

John Maeda é professor de design no MIT, designer gráfico, artista visual e cientista da computação, já teve suas obras expostas em museus de Tóquio, Londres, Paris, New York e San Francisco, além de ter participado do TED. Mas, com toda a certeza, a melhor coisa que Maeda fez foi escrever o livro “As leis da simplicidade”. Nele, John Maeda apresenta dez leis da simplicidade e explica,  através de todas as suas vivências, por que ela deve ser compreendida por profissionais não só do design, mas também de várias áreas do conhecimento. Nesse texto, não vou falar sobre todas as dez leis da simplicidade de Maeda, mas apenas da primeira: “REDUZIR”

 “A maneira mais simples de alcançar a simplicidade é por meio de uma redução consciente.”

A questão principal é: onde reside o equilíbrio entre simplicidade e complexidade? Como reduzir um produto/serviço, tornando-o mais fácil de usar, sem que este perca algumas funções? O processo de atingir o estado ideal de simplicidade pode ser realmente complexo, por isso, sempre que tiver uma dúvida, simplesmente elimine – tendo o máximo de atenção com aquilo que você eliminar.

versus

 

Ela: encolher, ocultar e agregar

Para haver uma verdadeira simplificação, é necessário reduzir a funcionalidade de um produto, mas sem que hajam desvantagens gritantes. Mesmo com a redução, John Maeda ainda criou um outro método para simplificar as coisas: o ELA (ENCOLHER, OCULTAR e AGREGAR – original do inglês SHE: Shrink, Hide, Embody)

Encolher

Deixar as coisas menores não significa necessariamente melhorá-las. O enfoque aqui é outro: um objeto maior que o ser humano exige o devido respeito, enquanto um outro objeto minúsculo pode ser algo que mereça nossa “piedade”. Porém, a tecnologia está encolhendo: veja por exemplo, os chips de circuito integrado (chips de computador), que permitem uma maior complexidade em uma escala extremamente pequena. Quanto menor for o objeto, mais baixas são as expectativas; quanto mais circuitos integrados estiverem instalados, maior é a potencia.

Quando um pequeno e despretensioso produto supera nossas expectativas, não ficamos apenas surpresos, mas também satisfeitos. É aquela nossa reação de “essa coisinha fez tudo isso?”

macbook

Um design que incorpore leveza e finura nos passa a impressão de ser menor e humilde, mas o sentimento pelo produto, que antes era de “piedade”, agora dá lugar ao respeito e admiração, pelo simples fato de conseguir transmitir muito mais valor do que era esperado originalmente.

Ocultar

Depois de eliminar todas as funções que podem ser descartadas, e deixar o produto leve, fino e atraente, pode-se aplicar o segundo método de John Maeda: ocultar a complexidade. Como exemplo para essa técnica, temos o clássico canivete suíço, onde apenas a ferramenta que você quer usar fica exposta, enquanto todas as demais permanecem ocultas.

O avanço da tecnologia existente irá sempre multiplicar suas complexidades, mas também vai fornecer, ao mesmo tempo, materiais, técnicas e processos para o design. Se o  método de encolher um produto acaba diminuindo as expectativas, a técnica de ocultar a complexidade permite que o usuário tenha controle sobre tais expectativas.

Fabricantes buscam encontrar o equilíbrio entre a elegância da simplicidade e a complexidade do “é preciso fazer tudo”.

Fabricantes buscam encontrar o equilíbrio entre a elegância da simplicidade e a complexidade do “é preciso fazer tudo”.

Agregar

Você pode encolher os produtos e ocultar suas funções, os valores do objeto devem ser mantidos. Agregar qualidade a um determinado produto pode ser difícil, mas não é impossível; temos como exemplo, os automóveis da Ferrari: se comparados aos carros comuns, possuem menos peças, mas estas são significativamente melhores. É a filosofia de que se boas peças podem fazer um grande produto, peças incríveis podem transformá-lo em uma lenda.

LaFerrari, o superesportivo híbrido da Ferrari. Possui dois motores, um V12 e outro elétrico, chegando a 963 cavalos de potencia.

LaFerrari, o superesportivo híbrido da Ferrari. Possui dois motores, um V12 e outro elétrico, chegando a 963 cavalos de potencia.

Conclusão

Podemos conquistar a simplicidade desejada reduzindo e escondendo tudo o que for possível, mas não podemos esquecer do valor do produto. Design e tecnologia devem trabalhar juntos para se chegar à decisão acertada sobre a quantidade tolerável de redução em um produto, sem perder qualidade. Menos é mais, menos é melhor.

Referências:

  • Lawsofsimplicity.com
  • Maeda, John. As leis da simplicidade – Vida, Negócios, Tecnologia, Design. Novo Conceito, 2006.
Mauro Adriano Müller

Mauro Adriano Müller

Gaúcho, 24 anos, estudante de Design na Universidade Feevale/RS. Acredita que o Design pode (e deve) mudar o pensamento das pessoas sobre o mundo e sobre as muitas coisas que existem nele.

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John Maeda é professor de design no MIT, designer gráfico, artista visual e cientista da computação, já teve suas obras expostas em museus de Tóquio, Londres, Paris, New York e San Francisco, além de ter participado do TED. Mas, com toda a certeza, a melhor coisa que Maeda fez foi escrever o livro “As leis da simplicidade”. Nele, John Maeda apresenta dez leis da simplicidade e explica,  através de todas as suas vivências, por que ela deve ser compreendida por profissionais não só do design, mas também de várias áreas do conhecimento. Nesse texto, não vou falar sobre todas as dez leis da simplicidade de Maeda, mas apenas da primeira: “REDUZIR”

 “A maneira mais simples de alcançar a simplicidade é por meio de uma redução consciente.”

A questão principal é: onde reside o equilíbrio entre simplicidade e complexidade? Como reduzir um produto/serviço, tornando-o mais fácil de usar, sem que este perca algumas funções? O processo de atingir o estado ideal de simplicidade pode ser realmente complexo, por isso, sempre que tiver uma dúvida, simplesmente elimine – tendo o máximo de atenção com aquilo que você eliminar.

versus

 

Ela: encolher, ocultar e agregar

Para haver uma verdadeira simplificação, é necessário reduzir a funcionalidade de um produto, mas sem que hajam desvantagens gritantes. Mesmo com a redução, John Maeda ainda criou um outro método para simplificar as coisas: o ELA (ENCOLHER, OCULTAR e AGREGAR – original do inglês SHE: Shrink, Hide, Embody)

Encolher

Deixar as coisas menores não significa necessariamente melhorá-las. O enfoque aqui é outro: um objeto maior que o ser humano exige o devido respeito, enquanto um outro objeto minúsculo pode ser algo que mereça nossa “piedade”. Porém, a tecnologia está encolhendo: veja por exemplo, os chips de circuito integrado (chips de computador), que permitem uma maior complexidade em uma escala extremamente pequena. Quanto menor for o objeto, mais baixas são as expectativas; quanto mais circuitos integrados estiverem instalados, maior é a potencia.

Quando um pequeno e despretensioso produto supera nossas expectativas, não ficamos apenas surpresos, mas também satisfeitos. É aquela nossa reação de “essa coisinha fez tudo isso?”

macbook

Um design que incorpore leveza e finura nos passa a impressão de ser menor e humilde, mas o sentimento pelo produto, que antes era de “piedade”, agora dá lugar ao respeito e admiração, pelo simples fato de conseguir transmitir muito mais valor do que era esperado originalmente.

Ocultar

Depois de eliminar todas as funções que podem ser descartadas, e deixar o produto leve, fino e atraente, pode-se aplicar o segundo método de John Maeda: ocultar a complexidade. Como exemplo para essa técnica, temos o clássico canivete suíço, onde apenas a ferramenta que você quer usar fica exposta, enquanto todas as demais permanecem ocultas.

O avanço da tecnologia existente irá sempre multiplicar suas complexidades, mas também vai fornecer, ao mesmo tempo, materiais, técnicas e processos para o design. Se o  método de encolher um produto acaba diminuindo as expectativas, a técnica de ocultar a complexidade permite que o usuário tenha controle sobre tais expectativas.

Fabricantes buscam encontrar o equilíbrio entre a elegância da simplicidade e a complexidade do “é preciso fazer tudo”.

Fabricantes buscam encontrar o equilíbrio entre a elegância da simplicidade e a complexidade do “é preciso fazer tudo”.

Agregar

Você pode encolher os produtos e ocultar suas funções, os valores do objeto devem ser mantidos. Agregar qualidade a um determinado produto pode ser difícil, mas não é impossível; temos como exemplo, os automóveis da Ferrari: se comparados aos carros comuns, possuem menos peças, mas estas são significativamente melhores. É a filosofia de que se boas peças podem fazer um grande produto, peças incríveis podem transformá-lo em uma lenda.

LaFerrari, o superesportivo híbrido da Ferrari. Possui dois motores, um V12 e outro elétrico, chegando a 963 cavalos de potencia.

LaFerrari, o superesportivo híbrido da Ferrari. Possui dois motores, um V12 e outro elétrico, chegando a 963 cavalos de potencia.

Conclusão

Podemos conquistar a simplicidade desejada reduzindo e escondendo tudo o que for possível, mas não podemos esquecer do valor do produto. Design e tecnologia devem trabalhar juntos para se chegar à decisão acertada sobre a quantidade tolerável de redução em um produto, sem perder qualidade. Menos é mais, menos é melhor.

Referências:

  • Lawsofsimplicity.com
  • Maeda, John. As leis da simplicidade – Vida, Negócios, Tecnologia, Design. Novo Conceito, 2006.
Mauro Adriano Müller

Mauro Adriano Müller

Gaúcho, 24 anos, estudante de Design na Universidade Feevale/RS. Acredita que o Design pode (e deve) mudar o pensamento das pessoas sobre o mundo e sobre as muitas coisas que existem nele.

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