Foto documental: ficar ou casar?
A maioria dos fotógrafos são apaixonados pelo que fazem. Mas, no caso dos fotodocumentaristas, um verdadeiro relacionamento é desenvolvido com o assunto fotografado. Não é que fotógrafo e fotografado tenham um caso amoroso (ok, a não ser em casos como esse). Mas o exercício da fotografia documental pode exigir mais ou menos tempo e dedicação, o que geralmente influencia na profundidade do trabalho.
Fazendo uma analogia com os relacionamentos afetivos, podemos dizer que existem os fotógrafos que ficam, os que namoram e até os que casam com seus temas. Tudo depende do objetivo que têm. Vou exemplificar para você entender melhor.
Certa feita, Márcio Vasconcelos ficou com a tribo Tenetehara da aldeia Lagoa Quieta, especialmente com as adolescentes. Ele retratou a Festa do Moqueado que ocorreu por lá em 2008. Desenvolveu um relacionamento interessante, porém efêmero, superficial. Nessa série de fotos Vasconcelos nos conta muito pouco sobre a aldeia e seus costumes, pois mostra somente um evento isolado.
Já Henri Cartier-Bresson teve, em 1954, um namorico com a dona União Soviética. Também não foi um relacionamento longevo (apenas poucas semanas), mas o ensaio fotográfico de Bresson apresentou ao mundo ocidental diversos detalhes da vida socialista. O breve tempo, no entanto, impediu o fotógrafo de nos contar um pouco mais – faltou conhecer algum podre, talvez?
Agora, quem gosta de relacionamentos duradouros é Sebastião Salgado. O homem passou sete anos casado com trabalhadores, dezesseis com pessoas sem terra, e, no momento, comemora um casamento de oito anos com os povos das regiões mais inóspitas do planeta. Por conta de tamanho envolvimento na busca pela compreensão do comportamento humano, o trabalho de Salgado é reconhecido como um verdadeiro tratado sociológico.
Ficar ou casar, menor ou maior proximidade, são, portanto, opções do fotógrafo. A escolha é feita de acordo com a maneira com que se pretende tratar o tema. Aliás, em geral o fotógrafo documental é poligâmico, e pode assumir diferentes tipos de relacionamentos com diferentes temas. No fim, o importante mesmo é ter uma boa história para contar.
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