Em transição
Vinte anos atrás era criado o site Yahoo!, estreava Coração Valente e era lançado o primeiro álbum do Foo Fighters. O Google nem em fase embrionária estava e a internet caminhava em passos grotescos, tentando entender a si mesma como nova mídia. De lá para cá ela foi se transformando neste grande aglomerado de tudo, deixando os meios impressos antiquados. Tudo isso em apenas vinte anos. Num mundo de transições tão rápidas e vorazes, as profissões ungidas na mídia tradicional estremecem inseguras. Qual seria o papel do designer, especialmente o gráfico, no mundo híbrido?
Aos não designers, peço desculpas. É de bom tom uma introdução do campo a vocês, e se não a fiz antes foi por pura cabeça oca. Falha minha. Tentarei meu melhor num breve resumo: o design tem como marco de nascença a fundação da Bauhaus, a primeira escola de design do mundo, em 1919. Ou seja: a profissão de designer é bastante recente — não tem nem 100 anos de existência…
Bem, definir o que seria design é capcioso, mas poderíamos falar que design é basicamente resolver problemas visuais através de metodologia de projeto, visando um resultado perspicaz (e bonito). Da mesma maneira que engenharia e arquitetura, design trata de encontrar soluções. Dessa forma, a cada tipo de designer haveria uma resposta específica a ser tomada; ao designer gráfico cabem os desfechos impressos, ao designer de produto, fins tridimensionais, etc.
O bom entendedor já pescou qual o impasse do designer num mundo regido pelo Google. Como será o futuro de uma profissão que estabeleceu-se no mundo físico, visto que a sociedade caminha cada vez mais para soluções virtuais? Este nosso mundo híbrido — meio analógico, meio digital — pede projetos comuns aos dois meios e vai ainda mais além. Agora o designer deve ser capaz de projetar uma campanha, fazer uma história caber dentro de um e-book, um site e um livro ao mesmo tempo, etc. Por essas e outras, já me deparei com termos inusitados como “designer gráfico digital”. Soa estranho, mas devo confessar que frente a novas mídias é um termo adequado. Sinceramente, me pergunto o quão antiquado é usar o termo “design gráfico” atualmente. Há como ser, única e somente, um designer apenas do mundo gráfico?
Dessa forma, o design precisa se reinventar neste novo mundo. Fazer design hoje não é somente comunicar através da forma, mas também refletir e organizar informação para encontrar melhores resultados. Falo de criar valor, projetar experiências, interpretar e refletir condições. É até difícil definir quais seriam os limites da profissão, já que os caminhos a serem percorridos são bem vastos. A atuação do designer não é mais a de cumprir tarefas (reles e simplesmente diagramar um folder, por exemplo), mas sim trabalhar em sinergia com o cliente, a fim de entender suas reais necessidades e problemas. É mais ou menos o que o design thinking tem nos mostrado.
Para tal, será preciso repensar na maneira que aprendemos e estudamos design. Para trabalhar de forma tão complexa, o designer deverá ter noções de sociologia, filosofia, estratégia, comunicação, negócios, pesquisa, teoria… A interdisciplinaridade de certa forma sempre esteve presente na profissão, que anda de mãos dadas com outros ramos como literatura e arte. Entretanto, agora deve-se mais do que nunca considerar este um fator primordial: a capacidade do designer em ser desdobrável.
Marshal McLuhan, teórico de comunicação, constatou que a humanidade olha para o futuro pelo espelho retrovisor. Esta é uma ideia que sempre me deixa arrepiada; ela me motiva a experimentar novos métodos e caminhos. Neste mundo híbrido, tenho em mente que o designer deve se adaptar para conseguir criar projetos atuais, coerentes à época que vivemos. O design e o mundo estão em transição. E devemos acompanhá-los.
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