O meio, a mensagem

Por Paula Cruz

Sempre que possível indico livros aos meus amigos. Normalmente as indicações vêm de uma urgência, uma chamado interno que me diz : “Uau, isto precisa ser lido pelo maior número de pessoas possível. Que coisa mais genial!”. Isto aconteceu recentemente quando virei a última página de O Meio é a Mensagem. Esta necessidade de espalhar as palavras de McLuhan é o que movimenta meus dedos e escreve este artigo.

Por que ler o dito cujo deste livro? Bem, ele foi escrito por Marshall McLuhan (1911 – 1980), um sociólogo e teórico da comunicação, conhecido por prever o que seria a Internet quase 30 anos (!) antes de ser inventada. A maior parte de suas análises está relacionada aos anos 60, à televisão e às guerras do período, mas seus questionamentos permanecem extremamente atuais. Por exemplo, McLuhan cunhou o termo “aldeia global”, tão presente nestes tempos de web espaço. É, rapaz. Importante e sagaz assim.

O Meio é a Massagem data de 1967é um de seus trabalhos mais famosos, sendo também co-assinado pelo designer Quentin Fiore. Feito a quatro mãos, o livro é uma interpretação visual das teorias de Marshal McLuhan feito pro Quentin Fiore.

Não sou dessas pessoas que gosta de resumir livros,  mas o propósito aqui é digno: podemos dizer que o livro aborda três questões principais. A primeira delas é de que qualquer mídia é, de uma maneira ou outra, uma extensão de alguma capacidade do corpo humano. O livro é uma extensão do olho, a roupa é uma extensão da pele. Desta forma, as mídias potencializações de nós mesmos.

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O livro também aborda como nós nos voltamos para o passado para construir o futuro. A fim de criar um design que seja amigável e confortável, construímos invenções que não têm aparência nova. Se pensarmos num computador caseiro, estamos olhando para uma televisão com uma máquina de escrever. Nós usamos ideias antigas com novas mídias para nos acostumarmos com o futuro.

Como diz o próprio nome do livro, Marshal afirma que o meio é a mensagem. Ou seja: o meio importa e é tão importante quanto a mensagem em si. Mais do que um simples canal de passagem do conteúdo comunicativo, o meio é um elemento determinante da comunicação, servindo também para enfatizar a mensagem. Uma mensagem proferida oralmente desencadeia diferentes mecanismos de compreensão do que uma mensagem por escrito; ganha diferentes tons e contornos, novos e diferentes significados. A tecnologia em que a comunicação se estabelece não apenas forma a comunicação, mas determina também seu próprio conteúdo. Podemos observar isto, por exemplo, na maneira como nos comportamos no Facebook e compararmos como nos comportamos no Twitter, Tumblr, na vida real.

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Se a teoria do livro já é interessantíssima, a história que percorre a produção deste projeto é ainda mais mágica. Feito e produzido em praticamente duas semanas, O Meio possui um design arrojado com texto, imagens e arranjos feitos pro Quentin Fiore. O projeto teve apenas uma revisão, na qual Marshall mudou somente uma palavra (!) do layout proposto por Fiore.

O mais surpreendente do design de O Meio é que ele reforça que o meio é, de fato, a mensagem. Ao explorar o livro como espaço a ser percorrido,  o leitor adentra em imagens graças ao diferentes enquadramentos e escalas utilizados. Isto encoraja uma leitura diferente das imagens do projeto, criando níveis de interpretação distintos. Particularmente, uma das minhas páginas favoritas (vista acima) é quando Quentin usa fotos de dedos segurando as páginas do livro. Acho de uma esperteza que só.

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Além de possuir um projeto gráfico que firma o poder do design como linguagem, este livro foi um rebelde em sua época. Por conter poucas palavras por páginas, foi visto com maus olhos por editores e escritores. Como foi dito pro Fiore: “as pessoas na ‘indústria das palavras’ demandam palavras, muitas palavras – todas dispostas em páginas cinzentas.” Chamaram o livro de manipulador, anti-intelectual, inculto; disseram que encorajava o uso de drogas (?), que era uma afronta às morais da juventude americana (??) . Tudo isto por causa de um projeto gráfico diferente, vejam só. Mesmo assim, é considerado um ícone de seu tempo. As imagens e a maneira que o livro se porta resumem sua época.

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Não bastasse tudo isto dito acima, a despretensão da escrita de Marshal McLuhan faz com que você leia o livro em poucas horas, talvez num gole só. É fácil e legal de ler, diferentemente do que se espera de um material teórico de ciências humanas.

Depois deste singelo texto, espero ter sido convincente: leiam O Meio é a Mensagem! Este não é somente um dos livros mais bacanas que eu já li, mas também é de um conteúdo necessário para todos nós. Inteligente, a frente de seu tempo, bonito e totalmente coerente com a atualidade. E aí? Já correu para a livraria mais próxima?

Paula Cruz

Paula Cruz

Paula Cruz é carioca e profissional em formação de design na UFRJ. Paralelamente aos estudos, constroi projetos autorais que unem design, texto e pesquisa, tais como livretos, cartazes e contos ilustrados.

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