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Por Diego Silvério

Algumas semanas atrás, encontrei no Facebook algumas palestras e entrevistas do economista Eduardo Giannetti. Uma delas me chamou a atenção, sob o título “Há pensamento sério no Brasil?”, e resolvi assistir. Confesso que qualquer vídeo com 10 minutos já desanima, mas uma compilação de 6 vídeos de 10 minutos desanima mais ainda, mas topei o desafio. Ao assistir a primeira parte, vi que ali tinha um conteúdo muito bom e valia a pena assistir o restante. O palestrante discursou sobre a pergunta e, para poder responder, definiu 3 atributos que ele considera importante na caracterização de pensamento sério: permanência no tempo, originalidade e autonomia, e compromisso com a ação. Durante a terceira parte da palestra, dentro do atributo originalidade, um trecho me chamou muita atenção:

 “O jovem no Brasil tem uma noção muito equivocada de que aprender é saber reproduzir em prova o que está escrito no livro-texto. Nada mais equivocado e enganoso quando se trata de formação superior. A idéia de que passar de ano reproduzindo em prova as definições e raciocínios que ele às vezes decorou no manual é uma das coisas mais nocivas que podem acontecer na formação de um jovem.”

Esse trecho criou um enorme ponto de interrogação na minha cabeça. Será que a nossa formação como designers também conta com esse problema? Na continuação, Giannetti reforça que os estudantes precisam pensar por si só, diferente do que ele acredita que seja hoje. Ele cita, olhando para o ensino da economia, que existe uma necessidade de aplicação das técnicas, porém falta a reflexão sobre as técnicas aplicadas e os resultados obtidos. Esse tipo de questão demanda uma bela pesquisa para entender melhor sobre o assunto e conseguir avaliar com mais argumentos. Não vamos conseguir nos aprofundar muito nesse post mas, de qualquer forma, a idéia desse post é levantar a questão e criar mais dúvidas.

Nós, designers, possuímos um conjunto de ferramentas que utilizamos no dia-a-dia da prática da nossa profissão. Quando existe uma situação em que possamos executar essas ferramentas, nós sentimos orgulho de poder aplicá-las. Talvez por uma necessidade de afirmação do Design no mercado, nós tomamos a dianteira da situação e falamos em voz alta qual ferramenta é a melhor para ser aplicada. Acredito que o maior exemplo disso seja o famigerado Brainstorm. Alguém já questionou a eficácia dele? Sobre as ferramentas que utilizamos, sua origem ou sua real necessidade e eficácia?

Por ser uma disciplina relativamente nova, que nasceu na Revolução Industrial e teve sua formalização reconhecida na Bauhaus, possui um corpo de conhecimento pequeno diante de disciplinas clássicas. Isso por si só não é um problema, já que temos muito chão ainda com relação ao nosso conhecimento, já que muito do que o designer aprende e aplica tem origem em outras áreas. A questão que surge, porém, é se estamos buscando criar algo na nossa área. Existe essa busca por fincar a bandeira do design no campo do conhecimento? Existe uma geração consistente de conhecimento próprio do design?

Se olharmos para a definição (com a ajuda do querido Aurélio) de originalidade, que vem de original, nós temos “que parece produzir-se pela primeira vez; não copiado, não imitado. / Que tem caráter próprio, que tem cunho novo e pessoal; que não segue modelo”. Giannetti cita na sua palestra o caso da filosofia no Brasil, que na visão dele existe um eco do que é produzido externamente. Agora, olhando para o design, estamos fazendo eco dos conceitos de outras disciplinas ou já possuímos algo genuíno do design?

Quando trazemos esses questionamentos para um olhar mais local, existe uma busca dos designers brasileiros por uma identidade própria. Se fizermos essa relação entre a busca da identidade com a construção do conhecimento, essa busca ainda continua. Talvez não seja algo exclusivo do design, mas acredito que isso seja muito mais próximo e visível na nossa realidade. Se olharmos para o cenário brasileiro, ousamos criar um caminho próprio dentro design?

Acredito que devemos olhar para a nossa formação ou prática com um olhar mais crítico. De fato, o design como disciplina é algo novo e tem muito tempo e espaço pela frente para criar coisas originais e próprias, partindo do conhecimento já adquirido de outras disciplinas. Como citei anteriormente, o objetivo desse post não é responder às perguntas, e sim criar dúvidas para que possamos responder de acordo com o nosso contexto. Muitas das dificuldades que nós temos no mercado e no dia-a-dia podem ser solucionadas ou mitigadas com um corpo de conhecimento mais estruturado, com hipóteses criadas e comprovadas. A única certeza é que temos um longo caminho ainda a percorrer, seja na disciplina ou no contexto local, para deixarmos de ser somente um conjunto de ferramentas e tornarmos algo mais consistente e original.

Veja abaixo o trecho da palestra do Giannetti que usei como referência:

[Imagem destaque] fonte: https://files.nyu.edu/mg166/public/ptmime.html

Diego Silvério

Diego Silvério

Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), vencedor de prêmios nacionais e internacionais e já desenvolveu projetos para a Intelbrás, Linde, Tigre, Nokia e HSBC. Hoje é designer da Whirlpool e se aventura dentro das áreas de negócios, estratégia e economia.

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Algumas semanas atrás, encontrei no Facebook algumas palestras e entrevistas do economista Eduardo Giannetti. Uma delas me chamou a atenção, sob o título “Há pensamento sério no Brasil?”, e resolvi assistir. Confesso que qualquer vídeo com 10 minutos já desanima, mas uma compilação de 6 vídeos de 10 minutos desanima mais ainda, mas topei o desafio. Ao assistir a primeira parte, vi que ali tinha um conteúdo muito bom e valia a pena assistir o restante. O palestrante discursou sobre a pergunta e, para poder responder, definiu 3 atributos que ele considera importante na caracterização de pensamento sério: permanência no tempo, originalidade e autonomia, e compromisso com a ação. Durante a terceira parte da palestra, dentro do atributo originalidade, um trecho me chamou muita atenção:

 “O jovem no Brasil tem uma noção muito equivocada de que aprender é saber reproduzir em prova o que está escrito no livro-texto. Nada mais equivocado e enganoso quando se trata de formação superior. A idéia de que passar de ano reproduzindo em prova as definições e raciocínios que ele às vezes decorou no manual é uma das coisas mais nocivas que podem acontecer na formação de um jovem.”

Esse trecho criou um enorme ponto de interrogação na minha cabeça. Será que a nossa formação como designers também conta com esse problema? Na continuação, Giannetti reforça que os estudantes precisam pensar por si só, diferente do que ele acredita que seja hoje. Ele cita, olhando para o ensino da economia, que existe uma necessidade de aplicação das técnicas, porém falta a reflexão sobre as técnicas aplicadas e os resultados obtidos. Esse tipo de questão demanda uma bela pesquisa para entender melhor sobre o assunto e conseguir avaliar com mais argumentos. Não vamos conseguir nos aprofundar muito nesse post mas, de qualquer forma, a idéia desse post é levantar a questão e criar mais dúvidas.

Nós, designers, possuímos um conjunto de ferramentas que utilizamos no dia-a-dia da prática da nossa profissão. Quando existe uma situação em que possamos executar essas ferramentas, nós sentimos orgulho de poder aplicá-las. Talvez por uma necessidade de afirmação do Design no mercado, nós tomamos a dianteira da situação e falamos em voz alta qual ferramenta é a melhor para ser aplicada. Acredito que o maior exemplo disso seja o famigerado Brainstorm. Alguém já questionou a eficácia dele? Sobre as ferramentas que utilizamos, sua origem ou sua real necessidade e eficácia?

Por ser uma disciplina relativamente nova, que nasceu na Revolução Industrial e teve sua formalização reconhecida na Bauhaus, possui um corpo de conhecimento pequeno diante de disciplinas clássicas. Isso por si só não é um problema, já que temos muito chão ainda com relação ao nosso conhecimento, já que muito do que o designer aprende e aplica tem origem em outras áreas. A questão que surge, porém, é se estamos buscando criar algo na nossa área. Existe essa busca por fincar a bandeira do design no campo do conhecimento? Existe uma geração consistente de conhecimento próprio do design?

Se olharmos para a definição (com a ajuda do querido Aurélio) de originalidade, que vem de original, nós temos “que parece produzir-se pela primeira vez; não copiado, não imitado. / Que tem caráter próprio, que tem cunho novo e pessoal; que não segue modelo”. Giannetti cita na sua palestra o caso da filosofia no Brasil, que na visão dele existe um eco do que é produzido externamente. Agora, olhando para o design, estamos fazendo eco dos conceitos de outras disciplinas ou já possuímos algo genuíno do design?

Quando trazemos esses questionamentos para um olhar mais local, existe uma busca dos designers brasileiros por uma identidade própria. Se fizermos essa relação entre a busca da identidade com a construção do conhecimento, essa busca ainda continua. Talvez não seja algo exclusivo do design, mas acredito que isso seja muito mais próximo e visível na nossa realidade. Se olharmos para o cenário brasileiro, ousamos criar um caminho próprio dentro design?

Acredito que devemos olhar para a nossa formação ou prática com um olhar mais crítico. De fato, o design como disciplina é algo novo e tem muito tempo e espaço pela frente para criar coisas originais e próprias, partindo do conhecimento já adquirido de outras disciplinas. Como citei anteriormente, o objetivo desse post não é responder às perguntas, e sim criar dúvidas para que possamos responder de acordo com o nosso contexto. Muitas das dificuldades que nós temos no mercado e no dia-a-dia podem ser solucionadas ou mitigadas com um corpo de conhecimento mais estruturado, com hipóteses criadas e comprovadas. A única certeza é que temos um longo caminho ainda a percorrer, seja na disciplina ou no contexto local, para deixarmos de ser somente um conjunto de ferramentas e tornarmos algo mais consistente e original.

Veja abaixo o trecho da palestra do Giannetti que usei como referência:

[Imagem destaque] fonte: https://files.nyu.edu/mg166/public/ptmime.html

Diego Silvério

Diego Silvério

Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), vencedor de prêmios nacionais e internacionais e já desenvolveu projetos para a Intelbrás, Linde, Tigre, Nokia e HSBC. Hoje é designer da Whirlpool e se aventura dentro das áreas de negócios, estratégia e economia.

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