Foto cor ou PB?
Além do visual, essa é uma questão que impacta irremediavelmente na mensagem transmitida pela foto. Escolher entre fotografia colorida ou preto e branca é definir uma linguagem, uma maneira de falar sobre o tema retratado. É como optar por verso ou prosa – para escrever com a luz.
A discussão existe desde 1907, quando os afamados irmãos Lumière lançaram o Autochrome – primeiro processo de fotografia em cores comercialmente difundido, que utilizava fécula de batata tingida de laranja, verde e violeta para captar o espectro luminoso. Antes disso, à exceção de experimentos em laboratórios, o mundo da Fotografia era em tons de cinza.
Cento e seis anos depois vivemos o inverso: quase tudo que se faz em Fotografia é captado em cores. Mesmo que você queira fotografar em P&B, provavelmente fará o registro em cor. Isso porque, de maneira geral, os sensores digitais captam os canais vermelho, verde e azul, e o que se vê na imagem é a mistura dos três. O preto e branco só é atingido através da conversão por software (fora dessa regra está a recente e caríssima Leica M Monochrom).
Mas é por escolha, e não questões técnicas, que a fotografia em cores é a mais praticada atualmente – seja por fotógrafos profissionais ou amadores. Mesmo quando o filme fotográfico era amplamente utilizado (há longínquos 15 anos), as películas monocromáticas eram preteridas pelo público em geral. O motivo, a princípio, é simples: sendo a foto um documento que busca retratar a realidade, optar pelo colorido é mais efetivo que utilizar os tons de cinza.
E por que, sendo a policromia um avanço tecnológico, alguns insistem no ultrapassado preto e branco? Uma das razões é exatamente emular um tempo passado; ou mais que isso: conferir atemporalidade à imagem, pois a sensação é que ela poderia ter sido registrada tanto hoje quanto há 150 anos.
A principal característica da monocromia, no entanto, é permitir ao fotógrafo gerar maior atenção ao tema retratado. Sem a distração causada pelas cores, o que fica é a essência: o movimento; as sombras; o olhar profundo. O P&B afirma a Fotografia como interpretação, não apenas representação da realidade.
Claudio Edinger, por exemplo, fotografou em preto e branco os foliões do policromático Carnaval brasileiro. Com isso destacou as pessoas, e não as alegorias em torno delas. Da mesma maneira, Tiago Santana retratou os romeiros de Juazeiro do Norte sem voltar nossa atenção às vestes, adornos e cartazes, mas sim aos indivíduos.
Monstro sagrado da fotografia colorida no Brasil, Walter Firmo acredita que um bom fotógrafo P&B pode tornar-se um ótimo fotógrafo cor, mas desconhece quem tenha trilhado o caminho contrário. Assim, reformulo a questão que intitula o texto: será que a geração atual, visualmente alfabetizada com fotos coloridas, sabe discernir e utilizar o que a cor e o P&B têm de melhor?
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