O homem dos anos 2010

Por Henrique Cabral

E o Design de Moda como forma de comunicação das mudanças sociais!

Ao longo da história da humanidade a indumentária teve várias funções que foram da mera proteção do corpo à comunicação da posição ou pensamento de um indivíduo dentro do seu meio.

Nos dias atuais, o que o homem busca comunicar? Há um ditado budhista que diz: “O dedo aponta para a Lua. O sábio olha a Lua, o tolo olha o dedo”.

A forma como nos vestimos sempre quer dizer algo. Quer seja que faço parte de um grupo social, quer seja que tenho um ideal de vida, quer seja o estilo de música que ouço, ou quem admiro.

Moda é comunicação, isso é um fato. Mesmo aqueles que dizem não seguir a moda, normalmente possuem um estilo(1) tão bem definido, que se propormos a ele que durante um dia vista-se com roupas diferentes, isto lhe parecerá uma violência, pois sentirá como que se perdesse sua identidade.

Isto porque como dizia Jung, o ser humano carrega atrás de si um cauda sauriana(2), criada a partir de nossa educação, conceitos e preconceitos seculares sobre o que é necessário, e em seguida pelo que é aceitável.

Então “ok” se você é um skatista e usa bermuda, camiseta, calça cargo larga, e moletom. Isto é aceitável para um homem. E tudo bem também se você usa camisa listrada por dentro da calça jeans slim e sapatos. Isto também é aceitável para um homem. Mas isto, é olhar o “dedo”. Ou seja, é o óbvio e esperado dos homens.

Pelos menos nos últimos 150 anos, a indumentária masculina possui basicamente as mesmas peças, camisas ( e camisetas), calças, bermudas, blazers, casacos, tênis, sapatos, chinelos. Com uma constante variação de cor, comprimento e largura no máximo.

Isto se tornou algo tão arraigado em nosso subconsciente, que ao nos depararmos com algo diferente deste padrão, automaticamente nosso cérebro atribui à forma a algo do passado, ou do futuro, pois nos dias atuais, nos é impossível conceber que um homem se vista com formas diferentes.

No entanto, nos últimos dois anos podemos observar que há um crescente número de Designers que vem levantando o questionamento do porque homens precisam se limitar tanto quanto a sua forma de se vestir. Porque um homem não pode se expressar mais amplamente no que diz respeito à comunicação não-verbal que o vestuário possibilita?

A maioria destes Designers, buscam referências no passado, pra reavivar na estética masculina peças que já foram de uso comum por sociedades antigas. E isto não quer dizer que devamos voltar a nos vestir como no tempo do Renascimento, mas tão somente mostrar que houve um tempo em que homens vestiam-se de forma diferente da de hoje, e que isto não interferia em sua masculinidade.

E agora chegamos num ponto interessante: qual a discussão que estes Designers pretendem suscitar com estas coleções apresentadas nos últimos anos?

João Pimenta, Inverno 2010

Yohji Yamamoto, Primavera Verão 2012

Rick Owens

Não pense numa resposta rápida, pense fora da caixa, não deixe a sua “cauda sauriana” ter mais peso que seu cérebro agora! Depois do metrossexual (o homem que gostava de se cuidar demais) e do übersexual (o que se cuida dentro do limite), qual é o novo modelo de homem que se pretende identificar agora?

Este ainda não têm nome, ao menos a mídia ainda não o nomeou. Muitos podem pensar que isto se deve ao avanço das políticas que garantem a liberdade de expressão e direitos civis dos homossexuais, mas as tendências de moda identificados por Designers como João Pimenta, Yohji Yamamoto, Rick Owens e Mihara Yasuhiro, vão muito além desta questão de sexualidade. Pensar assim seria ainda olhar o dedo.

Olhe a Lua. Nas últimas três décadas pelo menos, nossa sociedade já viu surgir a globalização, a internet, a telefonia celular, a transmissão de dados via satélite. Estamos na era da informação, e esta apesar de que muitas pessoas pensem o contrário, é livre, fácil e simples.

Não que não existam exceções (Julian Asange que o diga), e nem que seja tudo cem por cento confiável (que o Google não saiba disto), mas hoje em dia aceitar quem um homem só deva se vestir desta ou daquela maneira para que seja considerado digno, respeitável, ou coisa do gênero, é uma falácia e um paradigma a ser quebrado. E é este o papel dos designers que atualmente têm mostrado este ponto de vista em sua coleções.

Qual é o limite do gênero para a moda? Me dê uma explicação lógica e concreta.

Notas:

  • 1 – Moda é um conceito de algo passageiro, que têm início, meio e fim. É uma tendência momentânea de comportamento. Estilo é uma característica arraigada à personalidade de um indivíduo expresso na forma que se veste, músicas que escuta, pensamento político, etc.
  • 2 – “Cauda sauriana” é um termo que Carl G. Jung utilizava para citar “impressões” na nossa personalidade existentes de forma inconsciente, oriundas de nosso ancestrais, tradições culturais e/ou familiares, nacionais desde tempos imemoriais.
Henrique Cabral

Henrique Cabral

Produtor Executivo e Gráfico de Moda tendo produzido campanhas no Brasil e no Exterior. Acredita que o vestuário é uma das das formas de comunicação não verbal mais fortes da sociedade.

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O homem dos anos 2010

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E o Design de Moda como forma de comunicação das mudanças sociais!

Ao longo da história da humanidade a indumentária teve várias funções que foram da mera proteção do corpo à comunicação da posição ou pensamento de um indivíduo dentro do seu meio.

Nos dias atuais, o que o homem busca comunicar? Há um ditado budhista que diz: “O dedo aponta para a Lua. O sábio olha a Lua, o tolo olha o dedo”.

A forma como nos vestimos sempre quer dizer algo. Quer seja que faço parte de um grupo social, quer seja que tenho um ideal de vida, quer seja o estilo de música que ouço, ou quem admiro.

Moda é comunicação, isso é um fato. Mesmo aqueles que dizem não seguir a moda, normalmente possuem um estilo(1) tão bem definido, que se propormos a ele que durante um dia vista-se com roupas diferentes, isto lhe parecerá uma violência, pois sentirá como que se perdesse sua identidade.

Isto porque como dizia Jung, o ser humano carrega atrás de si um cauda sauriana(2), criada a partir de nossa educação, conceitos e preconceitos seculares sobre o que é necessário, e em seguida pelo que é aceitável.

Então “ok” se você é um skatista e usa bermuda, camiseta, calça cargo larga, e moletom. Isto é aceitável para um homem. E tudo bem também se você usa camisa listrada por dentro da calça jeans slim e sapatos. Isto também é aceitável para um homem. Mas isto, é olhar o “dedo”. Ou seja, é o óbvio e esperado dos homens.

Pelos menos nos últimos 150 anos, a indumentária masculina possui basicamente as mesmas peças, camisas ( e camisetas), calças, bermudas, blazers, casacos, tênis, sapatos, chinelos. Com uma constante variação de cor, comprimento e largura no máximo.

Isto se tornou algo tão arraigado em nosso subconsciente, que ao nos depararmos com algo diferente deste padrão, automaticamente nosso cérebro atribui à forma a algo do passado, ou do futuro, pois nos dias atuais, nos é impossível conceber que um homem se vista com formas diferentes.

No entanto, nos últimos dois anos podemos observar que há um crescente número de Designers que vem levantando o questionamento do porque homens precisam se limitar tanto quanto a sua forma de se vestir. Porque um homem não pode se expressar mais amplamente no que diz respeito à comunicação não-verbal que o vestuário possibilita?

A maioria destes Designers, buscam referências no passado, pra reavivar na estética masculina peças que já foram de uso comum por sociedades antigas. E isto não quer dizer que devamos voltar a nos vestir como no tempo do Renascimento, mas tão somente mostrar que houve um tempo em que homens vestiam-se de forma diferente da de hoje, e que isto não interferia em sua masculinidade.

E agora chegamos num ponto interessante: qual a discussão que estes Designers pretendem suscitar com estas coleções apresentadas nos últimos anos?

João Pimenta, Inverno 2010

Yohji Yamamoto, Primavera Verão 2012

Rick Owens

Não pense numa resposta rápida, pense fora da caixa, não deixe a sua “cauda sauriana” ter mais peso que seu cérebro agora! Depois do metrossexual (o homem que gostava de se cuidar demais) e do übersexual (o que se cuida dentro do limite), qual é o novo modelo de homem que se pretende identificar agora?

Este ainda não têm nome, ao menos a mídia ainda não o nomeou. Muitos podem pensar que isto se deve ao avanço das políticas que garantem a liberdade de expressão e direitos civis dos homossexuais, mas as tendências de moda identificados por Designers como João Pimenta, Yohji Yamamoto, Rick Owens e Mihara Yasuhiro, vão muito além desta questão de sexualidade. Pensar assim seria ainda olhar o dedo.

Olhe a Lua. Nas últimas três décadas pelo menos, nossa sociedade já viu surgir a globalização, a internet, a telefonia celular, a transmissão de dados via satélite. Estamos na era da informação, e esta apesar de que muitas pessoas pensem o contrário, é livre, fácil e simples.

Não que não existam exceções (Julian Asange que o diga), e nem que seja tudo cem por cento confiável (que o Google não saiba disto), mas hoje em dia aceitar quem um homem só deva se vestir desta ou daquela maneira para que seja considerado digno, respeitável, ou coisa do gênero, é uma falácia e um paradigma a ser quebrado. E é este o papel dos designers que atualmente têm mostrado este ponto de vista em sua coleções.

Qual é o limite do gênero para a moda? Me dê uma explicação lógica e concreta.

Notas:

  • 1 – Moda é um conceito de algo passageiro, que têm início, meio e fim. É uma tendência momentânea de comportamento. Estilo é uma característica arraigada à personalidade de um indivíduo expresso na forma que se veste, músicas que escuta, pensamento político, etc.
  • 2 – “Cauda sauriana” é um termo que Carl G. Jung utilizava para citar “impressões” na nossa personalidade existentes de forma inconsciente, oriundas de nosso ancestrais, tradições culturais e/ou familiares, nacionais desde tempos imemoriais.
Henrique Cabral

Henrique Cabral

Produtor Executivo e Gráfico de Moda tendo produzido campanhas no Brasil e no Exterior. Acredita que o vestuário é uma das das formas de comunicação não verbal mais fortes da sociedade.

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