O homem dos anos 2010
E o Design de Moda como forma de comunicação das mudanças sociais!
Ao longo da história da humanidade a indumentária teve várias funções que foram da mera proteção do corpo à comunicação da posição ou pensamento de um indivíduo dentro do seu meio.
Nos dias atuais, o que o homem busca comunicar? Há um ditado budhista que diz: “O dedo aponta para a Lua. O sábio olha a Lua, o tolo olha o dedo”.
A forma como nos vestimos sempre quer dizer algo. Quer seja que faço parte de um grupo social, quer seja que tenho um ideal de vida, quer seja o estilo de música que ouço, ou quem admiro.
Moda é comunicação, isso é um fato. Mesmo aqueles que dizem não seguir a moda, normalmente possuem um estilo(1) tão bem definido, que se propormos a ele que durante um dia vista-se com roupas diferentes, isto lhe parecerá uma violência, pois sentirá como que se perdesse sua identidade.
Isto porque como dizia Jung, o ser humano carrega atrás de si um cauda sauriana(2), criada a partir de nossa educação, conceitos e preconceitos seculares sobre o que é necessário, e em seguida pelo que é aceitável.
Então “ok” se você é um skatista e usa bermuda, camiseta, calça cargo larga, e moletom. Isto é aceitável para um homem. E tudo bem também se você usa camisa listrada por dentro da calça jeans slim e sapatos. Isto também é aceitável para um homem. Mas isto, é olhar o “dedo”. Ou seja, é o óbvio e esperado dos homens.
Pelos menos nos últimos 150 anos, a indumentária masculina possui basicamente as mesmas peças, camisas ( e camisetas), calças, bermudas, blazers, casacos, tênis, sapatos, chinelos. Com uma constante variação de cor, comprimento e largura no máximo.
Isto se tornou algo tão arraigado em nosso subconsciente, que ao nos depararmos com algo diferente deste padrão, automaticamente nosso cérebro atribui à forma a algo do passado, ou do futuro, pois nos dias atuais, nos é impossível conceber que um homem se vista com formas diferentes.
No entanto, nos últimos dois anos podemos observar que há um crescente número de Designers que vem levantando o questionamento do porque homens precisam se limitar tanto quanto a sua forma de se vestir. Porque um homem não pode se expressar mais amplamente no que diz respeito à comunicação não-verbal que o vestuário possibilita?
A maioria destes Designers, buscam referências no passado, pra reavivar na estética masculina peças que já foram de uso comum por sociedades antigas. E isto não quer dizer que devamos voltar a nos vestir como no tempo do Renascimento, mas tão somente mostrar que houve um tempo em que homens vestiam-se de forma diferente da de hoje, e que isto não interferia em sua masculinidade.
E agora chegamos num ponto interessante: qual a discussão que estes Designers pretendem suscitar com estas coleções apresentadas nos últimos anos?
Não pense numa resposta rápida, pense fora da caixa, não deixe a sua “cauda sauriana” ter mais peso que seu cérebro agora! Depois do metrossexual (o homem que gostava de se cuidar demais) e do übersexual (o que se cuida dentro do limite), qual é o novo modelo de homem que se pretende identificar agora?
Este ainda não têm nome, ao menos a mídia ainda não o nomeou. Muitos podem pensar que isto se deve ao avanço das políticas que garantem a liberdade de expressão e direitos civis dos homossexuais, mas as tendências de moda identificados por Designers como João Pimenta, Yohji Yamamoto, Rick Owens e Mihara Yasuhiro, vão muito além desta questão de sexualidade. Pensar assim seria ainda olhar o dedo.
Olhe a Lua. Nas últimas três décadas pelo menos, nossa sociedade já viu surgir a globalização, a internet, a telefonia celular, a transmissão de dados via satélite. Estamos na era da informação, e esta apesar de que muitas pessoas pensem o contrário, é livre, fácil e simples.
Não que não existam exceções (Julian Asange que o diga), e nem que seja tudo cem por cento confiável (que o Google não saiba disto), mas hoje em dia aceitar quem um homem só deva se vestir desta ou daquela maneira para que seja considerado digno, respeitável, ou coisa do gênero, é uma falácia e um paradigma a ser quebrado. E é este o papel dos designers que atualmente têm mostrado este ponto de vista em sua coleções.
Qual é o limite do gênero para a moda? Me dê uma explicação lógica e concreta.
Notas:
- 1 – Moda é um conceito de algo passageiro, que têm início, meio e fim. É uma tendência momentânea de comportamento. Estilo é uma característica arraigada à personalidade de um indivíduo expresso na forma que se veste, músicas que escuta, pensamento político, etc.
- 2 – “Cauda sauriana” é um termo que Carl G. Jung utilizava para citar “impressões” na nossa personalidade existentes de forma inconsciente, oriundas de nosso ancestrais, tradições culturais e/ou familiares, nacionais desde tempos imemoriais.
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