Independência ou morte!
Isto é um manifesto. Uma carta de amor. Uma convocatória. É tudo isto junto e mais um pouco. Simplesmente porque certas coisas precisam ser afirmadas categoricamente de vez em quando. É o que farei em plenos pulmões com convicção de punho de ferro: o futuro é independente.
Peraí, cuméqueé? Independente como? Você está falando exatamente do quê? Estou falando de um mar de possibilidades, já que o mercado independente é vasto. Podemos falar de self publishing em música, saraus, literatura, videogames, design, tudo. Há espaço para todos e para tudo que é empreitada. Você está visitando/lendo uma delas agora, não é mesmo?
Começando do básico: uma produção independente é um projeto desenvolvido com mais de uma cópia para um público específico — pequeno ou grande, local ou internacional. Produzir apenas uma peça única não é exatamente publicar, já que a ideia básica é espalhar histórias por aí, ou seja, comunicar-se com outras pessoas a partir de uma ideia. Pode-se dizer, por exemplo, que uma tiragem de 15 livros produzidos artesanalmente e entregues aos seus amigos é uma forma de publicação independente com distribuição informal em pequena escala.
Com a internet tornou-se ainda mais fácil integrar-se ao mercado autônomo, já que a distribuição não tem custo e a dispersão de informação na web acontece em segundos. O potencial de um material distribuído numa rede mundial de conexões é praticamente infinito. Se antes algumas bandas e cantores trilharam seu caminho pelo (já falecido e talvez reencarnado das cinzas) MySpace, agora engenheiros, autores, quadrinistas e designers produzem os mais variados projetos via financiamento coletivo — a famosa vaquinha servindo a todos nós com propostas cada vez mais inovadoras.
A grande vantagem disso tudo é a quebra do ciclo de produção oficial oferecida por grandes empresas. Além de oferecer mais liberdade aos autores, produzir de forma independente é uma forma de buscar novas temáticas e descobrir públicos em potencial. A elitização da produção intelectual torna-se mais amena quando pessoas como eu e você decidimos mostrar com quantos paus se faz uma canoa. Podemos criar livros para nichos específicos, protestos políticos em zines, documentários sobre conscientização de minorias. Existem ainda empreendimentos tão avant-garde que não há investidor que compreenda o projeto, restando apenas ao próprio autor dar início à empreitada. Desta maneira, as iniciativas independentes abalam a mesmice feita nos grandes negócios, pois não têm medo de ser.
Produzir independentemente requer coragem e é arriscado. É o que torna tudo tão emocionante. Os autores acreditam tanto no que têm a dizer que investem tempo, dinheiro, vontade e noites de sono por causa de um projeto. Para muitos esta é uma oportunidade de se fazer ouvir, já que o caminho convencional inclui todo um esquema a ser percorrido, como possuir uma rede de contatos, ter reputação no mercado ou até mesmo ter um agente. Outros autores se auto publicam porque preferem ter o controle total do projeto, desde design e conteúdo até distribuição e contato com público. Este costuma ser até mesmo o começo de algumas editoras e gravadoras.
Acredito no mundo independente porque penso que todos nós temos histórias para contar. Estas são narrativas que merecem ser ouvidas, ideias que devem ser espalhadas. Ter a oportunidade de contá-las é essencial e, se o mercado convencional não colaborar, devemos procurar novos percursos. A independência é um deles.
Fica aqui o convite.
* A imagem desta matéria é de um dos livros da Editora Bolha, “Vá para o Diabo” de Frederico Lamas. As ilustrações vermelhas e azuis transformam-se quando olhadas através do visor vermelho.
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