Arte, corpo, mente e espírito

Por Isabela Fuchs

A expansão da consciência é uma experiência que transcende os limites da causalidade linear, do espaço-tempo e os nossos próprios limites racionais. Sonhos, por exemplo. Ou alucinações de ayahuasca. Quer dizer, nós temos um universo de sabedoria dentro de nós mesmos e expandir nossa mente a seu tamanho real (posso dizer… infinito?) é o ato de despertar nossos potenciais inconscientes (posso dizer que isso é infinito também?) Esse é um assunto bastante complexo e que não tenho muito a dizer em relação a experiências pessoais, mas mais a leituras. Sugiro fortemente Carlos Castañeda.

Visões; o ato de expandir a consciência nos traz visões. Seja de tempos passados ou futuros, ou “simplesmente” ações e tangibilidades da realidade presente de uma forma ainda mais expressiva, ampla e espiritual. E a arte visionária é a representação plástica de experiências de expansão da consciência e é um dos instrumentos mais poderosos para a investigação de tais experimentações. Os artistas visionários usam tudo que há a sua disposição – desde mantras e meditações a enteógenos e LSD – para acessar os diferentes estados de consciência em seus diferentes níveis que transcedem o nosso modo de percepção ordinária.

Dentro da cultura artística psicodélica e visionária uma figura de importante destaque é Alex Grey. Após uma baita de uma experiência enteógena fez dele uma outra pessoa, e com que ele fizesse mais viagens sacramentais de LSD e afins para estudar este então novo mundo de percepções infinitas. Ele também trabalhou dissecando cadáveres e pesquisando sobre energia para a cura de doenças ou coisas do gênero. Tal experiência fez com que ele trabalhasse como ilustrador médico. Essa passagem na vida de Alex Grey foi de suma importância para seu trabalho, pois ele mescla desenhos anatômicos perfeitos, detalhadíssimos e hiper calculistas com a expansão da mente. Basicamente, Alex Grey mostra como nós somos infinitos.


Em Adão e Eva, por exemplo. Poucas, pouquíssimas obras de cunho sacro mostram Adão e Eva como figuras sexuais, com seus órgãos genitais, com seus pêlos – pêlos jamais eram pintados na época em que a igreja encomendava as obras de arte, pois eles denotavam pecado e uma aproximação a realidade humana pecaminosa que era tida como impura, suja e etc – e com a sua realidade material. Seus corpos são iluminados por dentro, transcendendo sua materialidade. Detalhe: olha os cogumelos amanita muscaria na mão de cada um deles.


O ajna, o terceiro olho, o sexto chakra, a glândula pineal, possíveis responsáveis da capacidade intuitiva e da percepção é representado em muitas, muitas, muitas obras de Alex Grey, como em Oversoul. Seu corpo todo é composto de olhos e o que transcede seu corpo também, como se tudo fosse uma coisa só. Seu corpo é o globo terrestre e toda sua composição é feita de vias lácteas, grandes aglomerados estrelados e planetários. O ajna está ali, entre seus dois olhos, na testa. Outras muitas obras dele também são composições do mesmo gênero (olhos, universos, elementos da natureza e glândulas pienais) que nos causam até uma certa vertigem, pois suas composições psicodélicas são muito bem elaboradas e são um verdadeiro de um mindblowing sobre as experiências humanas. Quer dizer, é praticamente uma experiência transcedental olhar para obras tão maravilhosas, ricas, puras, complexas e incríveis como as de Alex Grey.

Isabela Fuchs

Isabela Fuchs

Estudante de Design na UTFPR. Apaixonada por História da Arte, mas também nutro paixões paralelas como Design Editorial, Design de Embalagens e Tipografia.

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