In Between
Dificuldade em falar em público, conhecer uma pessoa que faz seu coração bater mais forte, entre outras situações que nos deixam inseguros e acanhados, quem nunca passou por isso? O curta animado “In Between”, produzido pelas estudantes da – já conhecida – Gobelins, Alice Bissonnet, Aloyse Desoubries Binet, Sandrine Hanji Kuang, Juliette Laurent e Sophie Markatatos, apresenta de maneira divertida esses fatos.
A narrativa se desenvolve nos bloqueios de uma garota em seu emprego, sua vida pessoal, em superar a sua timidez, personificada por um simpático crocodilo, o qual aparece nos momentos mais inoportunos trazendo toda essa insegurança para ela.
Em “In Beetween” é interessante observar que a produção não nasce no primeiro traço, ou na primeira ideia, nem mesmo na primeira tentativa de personagem. Algo que me agradou bastante foi ao ver o making of, os testes de animação ainda feitos em lápis e papel. De se encher os olhos. Obviamente trabalhamos em outros tempos, em que o processo digital favorece – agiliza – muito o rendimento da produção, mas ainda acredito muito nesse lado manual, que a meu ver traz muito do artista a cara linha riscada. Mesmo no Japão, na produção dos animes, muito se é feito da maneira tradicional, interessante de saber que o processo diretamente digital é usado por estúdios ou animadores com menos recursos financeiros, ainda preferem – por mais trabalhoso que, aparentemente, seja – o bom grafite e o quadro a quadro.
Ainda falando do processo de produção, foram feitos vários estudos tanto do animal que viria a ser a representação personificada da timidez da garota, como da própria protagonista, para então realizarem estudos de cores e optar pela melhor versão.

Primeiros estudos dos personagens.

Estudos de cores e visual da garota.

A equipe das alunas reunida.

Crocodilo, passando o lápis para realização do “pencil test”.
Não só isso, como para os cenários, as diversas referencias reais para valorizar as ilustrações, e a paleta de cores discreta, sem muita saturação tornando agradável aos olhos. As vezes achamos que o animar é o mais complicado, mas cenários são tão trabalhosos quanto, visto essa riqueza em detalhes que precisamos, e por ficarem, obviamente, mais tempo parados e sob o alcance do nosso olhar.

Pesquisa de referências.

Esboço manual, perspectiva, lápis e régua.

Cenários finalizados.
Muita gente acaba, equivocadamente, falando que o storyboard é o filme, animação, o que for, em história em quadrinhos. É, mas não necessariamente dessa maneira a ser dita. O storyboard é a conversão visual de tudo aquilo que temos escrito no roteiro. E usamos quantos quadros forem necessários para representar essa idéia, aquela cena, tanto que em muitos storyboards, vemos reaproveitamento dos quadros e apenas uma mudança na direção da cabeça, por exemplo.

Quadros do storyboard fixados no painel, possibilitando mudanças na sequência das cenas.

Storyboard no suporte digital.

Quadros coloridos, mantendo a unidade da paleta de cores nos diversos frames.
E chegando ao processo de animação, efetivamente, nada impede de termos amigos, interpretando ao vivo, e simulando movimentos para algo apresentado durante a etapa de storyboard. Animação é observação, como já dizia Miyazaki, não adianta você desenhar algo que nunca viu agindo, se movendo de verdade. Tanto que muitas vezes, um animador costuma ter ao seu lado um espelho, para questões de expressão, sincronia labial, ele mesmo gesticular e nosso cérebro – tão impressionante – tem a capacidade de armazenar esse registro para que possamos transcrever no papel, na sequência. E nisso tudo, acrescentamos a dublagem dos personagens, até mesmo o crocodilo, além da trilha sonoras e diversos efeitos de sons.

Esboço para o teste de animação.

Mesa de luz, lápis e muito papel.

Comparações entre o sketch, clean-up e frame finalizado.

Atuação entre as meninas da equipe, para referencia na animação dos personagens.

A atriz Aude Pépin emprestando sua voz para a protagonista.

Edição e pós-produção digital.
Com uma música suave e cativante, lembrando um pouco as produções Disney, e um belo resultado visual, “In Between” nos mostra como podemos contar uma história com poucos personagens e diálogos e obter um resultado bacana. Ganhou dois prêmios “Best Character Animation”, durante o Aniwow!2012, International Student Animation Festival, na China e “Prix de la meilleurs animation 2D”, The Film Skillet Winter 2012/2013 Animation Contest, além de ter sido selecionado para mais outros 18 festivais, dentre eles o Anima Mundi, do ano passado.
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