Além do “toque final”

Por Diego Silvério

Com certeza nós, designers inconformados, já reclamamos muito da situação da profissão no mercado brasileiro. Não é a toa que a regulamentação da profissão gera discussões acaloradas, envolvendo aqueles que acreditam fielmente no benefício dela e outros que não acreditam tanto assim, ou nem acreditam. Independente da sua posição quanto à regulamentação da profissão, concordamos que a presença e o reconhecimento da profissão no mercado poderia ser bem melhor, certo?

Na metade do mês de junho, saiu um artigo no site Valor Econômico sobre o impacto que a falta de gestão de design nas empresas brasileiras podem causar nas exportações. Esse impacto foi evidenciado em um estudo amplo realizado pelo Centro Brasil Design em conjunto com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O artigo cita alguns impactos importantes e que torna claro que perdemos muita competitividade no mercado mundial pela falta de gestão de design.

Aí vem aquela voz interior de todo designer inconformado dizendo “eu já sabia”. Todo profissional que atua diariamente sabe do potencial que a disciplina tem e os benefícios que ela pode trazer para as empresas. Esse estudo é mais uma evidência, e aqui concordamos que é uma “baita” evidência, de que o design é um fator competitivo importante no mercado interno e mais ainda no mercado externo, e que não exploramos de forma plena. Deixamos a desejar no quesito gestão do design, partindo somente para o famigerado “toque final”, como é citado no artigo. Como ele mesmo cita, essa prática “transforma-se mais à frente em dificuldades para adequar os produtos a diferentes mercados externos”.

Sabemos então que, além de toda a classe de profissionais, temos mais vozes de peso no cenário nacional dizendo que a disciplina é importante para a competitividade do mercado brasileiro. Se sabemos disso e sabemos também que estamos na contramão da tendência mundial, porque insistimos? E por que é tão lento para mudar esse cenário?

Para ajudar nessa discussão, vale a pena entender melhor as diversas dificuldades das indústrias brasileiras. Se a indústria não nasceu com a cultura do design ou não adquiriu ao longo do tempo, o design compete com diversas necessidades básicas que dificultam tanto quanto ou mais a competitividade dela no mercado. Aí entramos em méritos econômicos e políticos que são tão complexos e obscuros que torna a discussão injusta, pois são básicos às indústrias e minam a sobrevivência delas. De qualquer forma a falta de conhecimento da indústria em geral contribui muito para a baixa adesão ao design, parte por ver somente custos ao invés de investimento, parte por não ver o benefício a curto prazo, entre outros fatores.

Inerente ao perfil do designer inquieto, cabe a nós mostrarmos às empresas os benefícios de termos uma boa gestão do design integrada aos processos de desenvolvimento e gestão. Não se trata de mostrarmos as qualidades do produto final, mas sim utilizarmos dos argumentos conhecidos pelos gestores para que eles possam entender de fato quais os benefícios que podemos proporcionar. Aí que entram performance, resultados financeiros, eficiência de processo, redução de custos, conversão em inovação, melhorias de qualidade, entre outros argumentos amplamente conhecidos pelos gestores. Para que eles possam entender o que fazemos, precisamos entender melhor o dia-a-dia deles.

Fonte da imagem: http://designyoutrust.com/

Diego Silvério

Diego Silvério

Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), vencedor de prêmios nacionais e internacionais e já desenvolveu projetos para a Intelbrás, Linde, Tigre, Nokia e HSBC. Hoje é designer da Whirlpool e se aventura dentro das áreas de negócios, estratégia e economia.

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