Pelas paredes coloridas de Curitiba
A arte de modo geral sempre foi uma coisa de rico, de luxo. Primeiro era para o clero; enfeite de igrejas, iluminuras, quadros sacros e por aí vai. Após essa ruptura, virou item de gente apoderada mesmo, que se dá ao luxo de pagar 3 milhões por uma obra de arte e pendurar na sala. Mas, ao mesmo tempo, também dá a permissão de vender Santa Ceia de diferentes formas a 3 reais para qualquer mero mortal pendurar na sala de visita, ou de você imprimir alguma obra do Van Gogh em um papel bom, emoldurá-lo e pendurar no seu quarto. Ou seja, a arte em termos de mercado mesmo, como uma peça decorativa, uma mera mercadoria, e não algo apreciativo ou reflexivo, é muito curiosa. Não que alguém que pendure um Goya no seu quarto não o aprecia, assim como alguém que pendure um poster do Nirvana. O Goya também pode representar um traço da personalidade de algum indivíduo, por que não? Mas não deixa de ser instigante a relação das pessoas com a arte fora dos museus. Vira uma relação às vezes superficial e banal, assim como a relação das pessoas com bibelôs largados em qualquer mesa de canto; são irrelevantes.
Quanto aos museus… Bem. Museus não são caros, muito pelo contrário. Você consegue ver obras maravilhosas por três reais. A exposição do Caravaggio que teve em 2012 foi gratuita, bem como a das aquarelas do Salvador Dalí. Mesmo assim, é elitista. A pose de um museu não é popular, é erudita, e não quer se desfazer disso. O MAC fica na frente da Praça Zacarias e nunca se vê alguém lá dentro. Desacredito fortemente que é por “falta de cultura das massas” (se pudesse colocar mais aspas, colocaria). Eu ainda preciso estudar muito para fazer uma análise mais profunda de como colocar a galera em museu. Talvez falte interação, não sei. Na exposição d’Os Gêmeos em 2009 tinha muita gente, bem como na do Escher. Talvez falte diversão nos museus… Alguma coisa bem humorada, divertida, que arranque algum sorriso de quem vai lá.
Mas resta um cenário menos erudito e que tem espaço para a arte e que é visível pra todo mundo e que o mendigo e o cara dentro de um carro importado podem gostar e não discutir aquele blablabla ignorante de “isso é arte e isso não”; arte de rua. Passando de carro você pode ver uma colagem incrível e pensar sobre isso no trânsito, ou quando você tá carregando uma carroça nas suas costas você pode questionar aquilo que você viu. O cenário urbano é, de certa forma, democrático até que. E o cara que põe o lambe lambe na placa de pare não tá se importando se vale x ou y. Ou o cara que faz um painel no muro de uma casa abandonada, ou o grafitti num muro aleatório do centro. É arte pela arte, mesmo. É pra fazer o cotidiano das pessoas meio diferente porque viu algo colorido dentro de um cinza monótono, para provocar reflexão, para protestar, para intrigar, ou somente porque tava afim (qual o problema disso, afinal?). É pra dar uma porradinha de bom dia, de “acorda”.
Esse bom dia em Curitiba muitas das vezes é dado por Jorge Galvão. Que atire a primeira pedra quem não reconhece esse traço:
O cara começou em 2005, estudou gravura na Belas Artes e foi criando uma identidade visual própria, que estampou já algumas páginas da SuperInteressante, móveis da Desmobília e interiores em geral, mas continua com suas telas e suas paredes (e latas de lixo também). Seus humanóides coloridos nem sempre levantam debates em termos reflexivos, mas em termos estéticos com certeza. E bem, na desconstrução da cidade perfeita em que todos são “iguais”, o levantamento de uma identidade através da arte nessa mesma paisagem levanta um debate um pouco além do óbvio.
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