6 ª Bienal Vento Sul
Está acontecendo aqui em Curitiba a 6ª Bienal Vento Sul, este evento que vem se consagrando como um dos maiores eventos da arte contemporânea da América Latina exibe obras de artistas dos cinco continentes. Com essa abrangência, ela se torna o evento cultural mais importante a ser realizado no Brasil em 2011. Este ano o tema será “Além da Crise”, com o qual artistas e curadores propõem discussões e reflexões sobre a representação e seus círculos institucionais havendo uma renovação de seus valores e códigos.
A programação que inclui palestras, mesas-redondas, exposições, cursos, oficinas, mostra de filmes, performances, interferências urbanas e residência artística, ocupando os principais espaços culturais de Curitiba para mostrar diversas formas de representar a arte. As exposições da 6ª Bienal de Curitiba estão sendo realizadas desde o dia 18 de setembro e vão até o dia 20 de novembro de 2011. A fim de ampliar geograficamente o alcance da Bienal para as cinco regiões do país, a programação da 6ª Vento Sul também prevê a realização de atividades nas cidades de Brasília (DF), Fortaleza (CE), Macapá (AP), Belo Horizonte (MG), Londrina e Cascavel (PR) e Florianópolis (SC).
Para conhecer um pouco mais sobre o evento conversei com Simone Landal, que é professora de História da Arte da UTFPR e curadora convidada do evento.
1 – [CLICHE] Você faz parte da curadoria da Bienal Vento Sul deste ano, como foi fazer parte deste trabalho? E como essa curadoria se desenvolve?
Um conjunto de dez curadores trabalhando, onde temos os curadores gerais, que são os responsáveis pelo conjunto, pelo grande projeto da Bienal e eles são assessorados por alguns curadores que tratam de assuntos específicos, por exemplo, uma coisa especial dessa edição é ter a curadoria de ação educativa.
Então tem duas professoras da FAP, a Sonia Vasconcelos e a Aline Bandeira que são curadoras de ação educativa, elas pensam só os aspectos de como mediar as relações das pessoas com a Bienal. E no caso, eu, mais o Artur Freitas e a Eliane Prolik fomos convidados para indicar, para dialogar com a curadoria geral sobre os autores da cidade, os artistas que produzem em Curitiba e em torno, e nos coube apresentar essa cena artística para a curadoria geral e sugerir artistas, mas a escolha final passou pelo crivo da curadoria geral a partir do que nós apresentamos e argumentamos. É uma Bienal que conta com curadoria de muitos estrangeiros, os curadores gerais, um é alemão, o Alfons, que é um curador de duas edições da Bienal de São Paulo, é hoje um dos diretores do instituto Goethe no Brasil, então, ele é uma figura que está no país a muito tempo e conhece a cena artística brasileira, mas é alemão. E o Ticio Escobar, que é um paraguaio, e embora ele conheça muito da cena artística latino-americana, ele mora no Paraguai, é o ministro da Cultura do Paraguai já há alguns anos.
Então são pessoas de fora do Brasil, e são assessoradas também pela Guevara, uma chilena, é uma pessoa que nos conhece, que tem uma familiaridade, que estuda a Bienal de São Paulo, por exemplo, mas que é chilena, mora na Alemanha hoje. E pela Adriana Almada, uma argentina que mora no Paraguai, atuante na cena paraguaia. Ou seja, é um olhar bastante estrangeiro. O outro curador que está faltando, é o Alberto Saraiva, este sim brasileiro, e que coube a ele a indicação aos artistas nacionais. Já tem ai uma situação, no mínimo delicada, pelo menos, porque pensa-se Paraná e Brasil em instâncias distintas, não se pensa o todo. Foi discutido para que aja uma unidade mas a priori nascem de indicações diferentes, os que vem do Brasil, e os que vem do Paraná. Então nos coube esse detalhe dentro desse conjunto de curadoria, nos coube essa parte.
2 – [CLICHE] A Temática do evento é “Além da Crise” por que esse tema? O que vocês pretendem passar com ele?
Na verdade é uma temática que pode ser pensada de dois pontos de vista bem distintos, o primeiro é a relação direta com a crise de 2008, uma crise com desmembramentos sociais, políticos, mas basicamente uma crise de ordem econômica. Agora a idéia desenvolvida pela curadoria, supera essa relação direta com a crise de 2008, e atinge o conceito de “crises” que vem do grego, de que serve para certos paradigmas, que confortavelmente instalados são periodicamente questionados, colocados em crise. E desse modo essa idéia de crises, ela acaba tendo uma amplitude tal, que coincide com a própria idéia de arte, porque arte passa periodicamente por crises, toda a arte moderna, por exemplo, decorre de uma crise da modernidade, dos paradigmas anteriores, de uma crise de uma arte mais tradicional, das categorias da arte, ou seja, a arte, no mínimo, do final do XIX pra cá está em crise. Existe um texto bem legal sobre a crise do Cezanne, por exemplo, ele se colocando em relação a toda história da arte, observando toda a tradição da pintura, e ele, o autor, moderno, em crise, o mundo moderno em crise e a relação daquilo, onde não podendo mais trabalhar com aqueles paradigmas, não fazem mais sentido no seu mundo, mas tendo que gerar novos conceitos que façam sentido na modernidade. Então, da arte do Cezanne pra frente, é uma arte em crise, o ser criador no nosso mundo é um ser criador que passa pela crise. É estranho ver que esse tema tem esses dois sentidos e extremos até nisso, um é muito específico, um é muito aberto. Um permitiria uma série de trabalhos que passam por uma questão bastante documentária, e a gente pode ver isso na Bienal em vários trabalhos. E outro deixa uma amplitude total que praticamente tudo pode encaixar. Foi meio difícil transitar entre os dois, eu confesso que a gente não usou o tema da crise econômica, até porque não foi uma temática que moveu os artistas daqui.
Nós apresentamos os artistas que produzem uma obra de qualidade, e entre esses foram escolhidos muitos pintores, uma das idéias da Bienal é de pensar a pintura, tem uma espécie de salão de pintura na casa Andrade Muricy, e cinco dos artistas indicados estão lá. Indicados por nós, entre os artistas que atuam em torno de Curitiba. Fora esses que estão na Andrade Muricy, tem o trabalho do Cleverson Salvaro, que é uma espécie de uma ação, uma performance que ele preparou, pequenos espelhos cobertos com uma tinta que pode ser raspada, tipos essas raspadinhas, e ele faz uma espécie de um escambo, ele troca esse espelho por um produto comprado.
A idéia era que fosse no Mercado Municipal, mas como o Mercado está em obras, está acontecendo em várias situações pela cidade. Então eu vou lá e compro meu pacote de arroz, e dôo o meu pacote de arroz pra ele, entrego o ticket comprovando que eu paguei o pacote de arroz, e ganho o meu espelho, e a idéia é que, ao raspar, ao invés de ver um prêmio, uma surpresa, eu vejo o meu próprio rosto. Tem o trabalho do Fernando Rosenbaum, que se chama Baiúca, é um trabalho que acontece pela cidade, uma espécie de um ambiente criado pelo artista, ou em papel de seda ou em um plástico, e ele propõe que as pessoas entrem nesse ambiente, que a gente tem visão alterada de mundo nesse lugar, que tem uma acústica diferente, uma visibilidade diferente. E tem o trabalho do Rimon, que está lá na Casa Holffmann, que é um artista de rua de Curitiba, uma artista que faz um trabalho em grafitti.”
3 – [CLICHE] Como foi feita a seleção dos artistas? Vocês escolheram por uma familiaridade ou teve uma banca de seleção?
Foi uma familiaridade, como falei somos três curadores para essa função, indicar os paranaenses, nos reunimos e discutimos os pontos de vista que se tem sobre a arte, os artistas que traduzem essas idéias, que a gente convive, que acompanhamos, e teve uma apresentação de um número grande de artistas, entre vinte e trintas artistas que apresentamos para a curadoria geral, e em conversas com eles, quem acabou batendo o martelo de quais seriam escolhidos foram os curadores gerais.
4 – [CLICHE] Bienal se apresenta em vários pontos da cidade, isso foi uma idéia de vocês ou foi pela disponibilidade da cidade?
Ai tem uma situação bacana de pensar a própria idéia de Bienal. Primeiro, ela é um evento periódico, ela é determinada por uma questão de tempo, é um dado de uma coisa criada no finalzinho do século XIX pra cá, a primeira foi em Veneza em 1895, a Bienal é um modelo ligado a modernidade. O que fundamenta isso é uma idéia que periodicamente a gente faça um grande certame para ver o que está sendo feito.
A idéia de tempo, marcada pela palavra Bienal, é associado a uma noção de espaço, que se vincula a um certo lugar. A Bienal em Veneza, pensa a cidade, entre outras coisas. Ao se construir uma Bienal em Curitiba a idéia da curadoria é que transpasse a idéia de Curitiba, então os criadores passaram algum tempo aqui observando a cidade, conhecendo a dinâmica da cidade, quais espaços que normalmente apresentam arte, quais que normalmente não apresenta, alguns lugares foram inéditos, e a idéia é que essa Bienal, pela fala da própria curadoria, faça a cidade falar, tire o que há de mais peculiar da cidade, e alguns artistas acabaram construindo os seus trabalhos, em função desse entendimento, foram convidados a vir até aqui anteriormente, entender a cidade e fazer um trabalho que se funda nessa compreensão.
Então essa noção de espaço e tempo é muito marcante no que venha ser uma Bienal, esses espaços foram definidos pela curadoria, a gente colaborou nisso, no sentido de falar desses espaços, sugerir lugares, mas efetivamente foram fechados pela curadoria geral.
Para finalizar um grande obrigado a curadora Simone Landal por nos ceder a entrevista.
Para mais informações http://www.bienaldecuritiba.com.br/
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